Secretária de Segurança Kalina Leite: “2015 foi um ano muito difícil”

Ela é funcionária de carreira do Estado e já ocupou diversas funções estratégicas antes de assumir o comando da Secretaria Estadual de Segurança Pública. Ao completar um ano na função, Kalina Leite concede entrevista exclusiva ao jornal O Mossoroense onde destaca os avanços obtidos no setor além dos desafios que virão no decorrer do ano de 2016.

O MOSSOROENSE – Com um ano de Governo é possível destacar avanços na segurança do RN? 

KALINA LEITE: Sim, é possível. O maior avanço para o Rio Grande do Norte foi a redução no número de assassinatos. Desde 2004, esse número só crescia e em 2015 o índice de homicídios, latrocínios, e outros crimes, foi menor que em outros anos, embora ainda longe do ideal. Registramos também a atuação conjunta da Polícia Civil e Militar, nas Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP), que foi um desafio grande e hoje a atuação conjunta no território é importante. Além disso, a implantação do Ronda Cidadã já foi um avanço, com a experiência da AISP 4 e a AISP 11, percebemos que o programa consegue alcançar resultados positivos, e o concurso público autorizado pelo governador Robinson Faria são avanços que conseguimos em 2015.

OM – A secretaria emitiu relatório com o registro na queda de homicídios no decorrer de 2015. O que teria motivado esta redução? 

KL – São várias ações conjuntas que refletem esse resultado. A ação da Polícia Militar mais ostensivamente na rua inibe a prática desse tipo de ocorrência. Além disso, o aumento na apreensão das ferramentas utilizadas neste tipo de crime aumentou, que são as motos. Em 2015, conseguimos quadruplicar a apreensão de motos que circulavam de forma irregular no Estado, bem como conseguimos retirar de circulação muita arma de fogo. Somado a isso, conseguimos ter uma investigação mais precisa, pois a Divisão de Homicídio trabalhou numa atuação de elucidação muito maior que outros anos. Esses são os principais fatores da redução.

OM – Teremos como manter esta linha e encerrar 2016 como novas reduções nos índices de homicídios? 

KALINA LEITE: 2015 foi um ano muito díficil. Recebemos um sistema de segurança numa decadência muito grande em todas as vertentes, desde a auto estima dos policiais, direitos represados, e conseguimos resgatar isso em 2015. É preciso fazer o concurso público, o apoio da população por meio de denúncias. Em 2016, também será um desafio muito grande diante de toda dificuldade orçamentária e financeira que passa o Brasil, pois tudo isso reflete na segurança pública. Além disso, temos que concentrar forças para recuperação do sistema prisional, pois é mais do que comprovado que vários crimes que acontecem aqui fora são determinados a partir do interior das unidades prisionais. Precisamos avançar no sistema prisional, para que tenhamos um número diferenciado no sistema de segurança.

MC – Apesar da redução no número de homicídios, a sociedade reclama da sensação de insegurança. Como justificar este contraste? 

KL – O crime hoje acontece em todos os lugares, por isso hoje essa sensação de insegurança. Hoje todo mundo tem acesso as redes sociais e um acontecimento que acontece no interior do Estado repercute no Rio Grande do Norte inteiro e somos contagiados pelo sentimento de um crime que tenha acontecido em determinado local. As redes sociais propagam isso, mas também por meio delas nós recebemos denúncias, esclarecemos alguns fatos. A proliferação da sensação de insegurança acontece porque a violência crescente chega a nossos conhecidos.

OM – As constantes fugas de presídios e centros de detenções externam uma fragilidade que tem atingido a imagem do governo. Será possível aplicar uma fórmula que garanta o controle em meio a um sistema penitenciário claramente falido? 

KL – O sistema prisional está muito comprometido, não apenas no Rio Grande do Norte, mas no Brasil inteiro. É preciso de uma atenção urgente do Governo Federal, dos governos estaduais, porque um sistema prisional em colapso atinge diretamente o sistema de segurança. É muito díficil conseguirmos evoluir a um patamar desejável se o sistema prisional não estiver sendo tratado também de forma prioritária.

OM – O governador Robinson Faria fez campanha com a marca de que seria o “governador da segurança”. Em se tratando de um segmento extremamente complexo a senhora considera que tenha ocorrido um erro do marketing do governador ao escolher este tema?

KL – O governador é movido por desafios. A campanha dele foi um exemplo disso. Ele abraçou a segurança, tendo consciência das dificuldades, que é nacional. A maior preocupação da população brasileira hoje é segurança pública. O Rio Grande do Norte, apesar da dificuldade de efetivo, conseguiu uma redução nos indíces de criminalidade, muito maior do que a Paraíba e o Ceará, estados que vêm investindo há anos, e Pernambuco. É um desafio grande e colher frutos dos investimentos em segurança pública não acontece a curto prazo. Podemos melhorar a sensação de segurança, os números, mas é um sentimento e uma preocupação tão exacerbada que só podemos dizer que estamos em um patamar confortável só mesmo com o tempo e muito investimento.

OM – Como a senhora espera ser vista ao fim dos quatro anos como secretária de segurança do RN?  Qual a marca que espera deixar ao fim desta missão? 

KL – Sou servidora da Segurança Pública, nunca sai e sempre contribui com a área, espero, da melhor forma, continuar contribuindo. Temos uma preocupação muito grande em melhorar as condições de trabalho dos servidores da Segurança Pública e prestar um serviço de qualidade para a população. A única coisa que posso deixar é meu trabalho e isso que tenho feito ao longo dos anos. Nunca tive dias fáceis, trabalhei arduamente na delegacia, na Secretaria, na corregedoria, no sistema sócio-educativo, e é com a mesma dedicação que hoje estou a frente da Segurança Pública.

Por Márcio Costa – Editor-geral