Em meio a tempestade de crises, Bolsonaro admite estar ‘em risco’ no Brasil

Aliados do ex-presidente dizem que há contradições nas falas de hacker sobre violação de sites oficiais, enquanto a ministra do Planejamento, Simone Tebet, sugere apreensão do passaporte de Bolsonaro. A expectativa agora gira em torno da análise de dados bancários e telefônicos de Bolsonaro e da ex-primeira dama, autorizada pela justiça.

Raquel Miuracorrespondente da RFI em Brasília

Em meio ao avanço de investigações que lhe tiram o sono, o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou mostrar que ainda tem influência política ao falar de eleições e ao dizer que decidiu voltar ao Brasil, após três meses nos Estados Unidos, sabendo dos riscos que corre aqui. A declaração, durante homenagem que recebeu em Goiânia, vem num momento que crescem as apostas em torno de uma eventual prisão do ex-presidente.

“Sei dos riscos que corro em solo brasileiro, mas não podemos ceder. A liberdade não tem preço. Nós, cidadãos de bem, temos que trabalhar bem por ocasião das eleições do ano que vem, para que em 2026 possamos sim ter candidato bastante competitivo naquelas eleições. Quem será esse candidato? O tempo dirá”, disse Bolsonaro.

O ex-presidente vive uma tempestade de crises, que se acentuou quando foi punido com a inelegibilidade e depois com o avanço de investigações como a da vendas de joias recebidas em missões oficiais, que deveriam estar no acervo público, e a das invasões golpistas de oito de janeiro, que nessa sexta-feira levou para a cadeia sete comandantes da PM do Distrito Federal. Uma das maiores expectativas agora gira em torno da análise dos dados bancários e telefônicos de Bolsonaro e da ex-primeira dama, já que o Supremo Tribunal Federal autorizou a quebra desses sigilos.

CPI dos golpistas

“Graças ao trabalho da operação da Polícia Federal e dos depoimentos dados na CPI dos atos golpistas, nós podemos dizer que o cerco se fechou contra o ex-presidente da República. Ali estava a tentativa de violar, de atentar com a democracia brasileira. E não se enganem: que busquem o mais rápido apreender o passaporte, porque quem fugiu para não passar a faixa para um presidente que foi legitimamente eleito pelo povo, com certeza vai querer abandonar o Brasil para poder salvar a própria pele”, afirmou a ministra do Planejamento, Simone Tebet, defendeu a apreensão do passaporte de Bolsonaro, durante evento na capital federal.

O sinal de alerta sobre os riscos de uma prisão de Bolsonaro soou nos últimos dias diante das acusações de que ele tentou violar o sistema judicial por meio de uma hacker. Em entrevista ao Estadão, o ex-presidente admitiu ter recebido o hacker Walter Delgatti em Brasília, mas negou tê-lo orientado a invadir sites oficiais.

Reação dos aliados

Aliados de Bolsonaro ressaltaram declarações da defesa de Delgatti de que ele não teria gravações da conversa que diz ter mantido com o ex-presidente sobre a violação de sites e dados oficiais, afirmando que se tem a versão de um ex-presidente contra a versão de um hacker. Já a oposição alega que há provas que corroboram a tese de que Bolsonaro atentou contra as instituições, como a confirmação do encontro entre eles e os depósitos feitos pela equipe da deputada Carla Zambelli a Delgatti. A parlamentar, que virou ré no STF por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo, negou que tenha negociado serviços ilícitos.

Sobre o caso das joias, Bolsonaro disse que Mauro Cid tinha autonomia e nega ter ordenado a venda do relógio cravejado de diamantes que recebeu do príncipe saudita. Já a defesa de Cid diz que o ex-ajudante de ordens entregou o dinheiro do Rolex de ouro branco em espécie ao casal Bolsonaro.

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