Em Madri, Celso Amorim diz que democracia brasileira corre risco

O ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa Celso Amorim afirmou nesta segunda-feira, em Madri, que a democracia brasileira corre risco e já foi abalada pela decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de impedir a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva às eleições de outubro.

Em entrevista concedida à Agência Efe após um evento realizado na Casa de América, na capital da Espanha, Amorim afirmou que as ameaças à democracia brasileira podem ser contidas se Fernando Haddad, escolhido por Lula para substituí-lo como candidato do PT, seja eleito.

Na avaliação do ex-chanceler, Haddad tem condições de construir “um país justo e independente”. Amorim também considera que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) é o adversário mais provável do petista em um eventual segundo turno das eleições de outubro.

Amorim afirmou que a candidatura de Lula foi barrada com o objetivo de frustrar as expectativas eleitorais do PT. Para o ex-ministro, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff também tinha Lula como alvo.

“Lula não é uma pessoa, é uma ideia”, disse o ex-chanceler.

Perguntado sobre os motivos de Bolsonaro estar liderando as pesquisas eleitorais no primeiro turno, o ex-chanceler afirmou que existe uma polarização dentro da sociedade brasileira e que muitos não querem a adoção de políticas de promoção de maior igualdade social, como as cotas para negros nas universidades públicas.

“Há uma classe média (…) muito restritiva em relação a isso e essas pessoas estão caminhando em direção ao candidato de extrema direita”, afirmou o ex-ministro, sem citar nominalmente Bolsonaro.

Amorim avaliou que um eventual governo do capitão da reserva do Exército seria muito ruim para o Brasil. Para o ex-chanceler, candidatos como o deputado são mais nacionalistas, apesar de Bolsonaro indicar seguir uma orientação “totalmente liberal” na economia.

Essa postura deixaria, segundo Amorim, o país mais dependente do capital externo, o que manteria a situação de injustiça social.

“Acredito que teríamos um governo autoritário, muito violento”, disse o ex-chanceler, citando como exemplo a frase “bandido bom é bandido morto”, já citada por Bolsonaro.

Sobre a crise econômica e migratória da Venezuela, Amorim afirmou que as sanções impostas pelos Estados Unidos têm efeito porque afetam, inclusive, empréstimos feitos por outros países ao governo de Nicolás Maduro já que o dinheiro passa por bancos americanos.

“Mas, sem entrar em detalhes, não vou dizer que tudo o que o presidente Maduro fez foi bom, ele cometeu erros também”, afirmou.

Amorim criticou a política externa adotada pelo presidente Michel Temer por não tomar iniciativas para participar de um grupo ou fórum para mediar a situação na Venezuela.

“O Brasil não existe diplomaticamente”, disse Amorim.

O ex-chanceler também rebateu as declarações do ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Luis Alberto Castiglioni, de que o Brasil não pode fazer nada para resolver a crise porque o governo de Temer “tem partido”, ou seja, faz parte da oposição a Maduro.

 

Agência  EFE