É preciso destruir estátuas dos “sinistros conquistadores” bandeirantes?, pergunta Le Monde

O site do jornal Le Monde desta sexta-feira (29) traz um artigo do correspondente do diário no Rio de Janeiro, Bruno Meyerfeld, sobre a rejeição de personalidades históricas brasileiras relacionadas ao genocídio dos negros indígenas, muitas delas tratadas até hoje como heróis.

O jornalista destaca que desde que o movimento antirracismo tomou o mundo, com o assassinato do afroamericano George Floyd, em 2020, figuras controversas da história americana e europeia vêm sendo contestadas. Na América do Norte como na Europa, estátuas de escravagistas e os chamados “conquistadores”, são frequentemente derrubadas e destruídas. No Brasil, não é diferente.

Meyerfeld lembra que a escola de samba Beija-Flor escolheu a luta contra o racismo como o tema de seu desfile neste ano. Na sua apresentação no sambódromo do Rio de Janeiro no último 23 de abril, as reproduções de três estátuas de figuras vinculadas ao colonialismo e ao racismo – a do bandeirante Borba Gato, a do escritor Monteiro Lobato e a do navegador português Pedro Álvares Cabral – foram derrubadas.

Le Monde lembra que não apenas estátuas, mas monumentos, ruas e praças continuam homenageando essas figuras polêmicas da História do Brasil. Em todo o país, “multiplicam-se os pedidos de retirada do espaço público de monumentos que homenageiam figuras relacionadas ao genocídio indígena, ao tráfico de pessoas negras ou à ditadura militar”, diz o artigo.

O jornalista cita como exemplo o bandeirante Manuel de Borga Gato, que classifica como “uma das figuras mais controversas da História brasileira”, por ter liderado e participado, no século 17, de perseguições e assassinatos de negros e indígenas. Até hoje os bandeirantes são glorificados pelas elites, lembra o texto. Não é à toa que diante do Parque do Ibirapuera, “o Central Park de São Paulo”, descreve o artigo, um gigantesco monumento de 40 metros de comprimento ovaciona os “conquistadores”.

Qual é a melhor solução?

O texto pontua que, como em todo mundo, o Brasil também debate atualmente o que fazer diante de milhares de estátuas, monumentos, ruas, praças que homenageiam essas contestadas figuras. O jornalista questiona se apagar do espaço público rastros deste trágico passado é a melhor solução. Os especialistas brasileiros se dividem sobre a questão, salienta o artigo.

O historiador Pedro Puntoni, entrevistado pelo Le Monde, afirma que ele próprio aplaudiria a destruição de monumentos em homenagem aos bandeirantes, que classifica de “vândalos e criminosos”. Para ele, o debate é saudável.

Já o historiador Paulo César Garcez Marins, classifica a questão de delicada. Segundo ele, “não é porque se derruba a estátua de um racista que o racismo acabará. O problema continuará existindo”, afirma, em entrevista ao jornal Le Monde.

RFI

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