“É desumano e não é justo”, diz técnico da Coreia do Sul sobre pouco descanso para jogo contra o Brasil

Paulo Bento, treinador da Coreia do Sul, não escondeu sua profunda irritação com o curto espaço de tempo de recuperação dos jogadores antes do jogo das oitavas de final contra o Brasil, seleção que considera favorita para vencer essa Copa do Mundo.

POR RFI – Elcio Ramalho, enviado especial ao Catar

Os sul-coreanos jogaram na última sexta-feira (2) uma partida decisiva na fase de grupos. Sob pressão por uma vitória, a equipe conseguiu superar Portugal por 2 a 1 na última rodada, e ficou com a segunda vaga do grupo H, eliminando o Uruguai pelo critério de gols anotados.

Na segunda-feira (5), o time volta a campo para enfrentar a seleção brasileira na estreia da fase de mata-mata.

Com apenas 72 horas de descanso entre as duas partidas, o treinador português não poupou críticas  à organização do evento.

“Tempo para treinar não temos. É impossível preparar um jogo destes no campo, jogando, passado 72 horas. Não creio que alguém o consiga fazer após o desgaste físico que houve nos jogos anteriores. Obviamente, falando concretamente do último jogo contra Portugal, do desgaste emocional”, argumentou.

Diante do cansaço dos atletas, a comissão técnica decidiu dar folga aos jogadores, que só fizeram um treino no domingo pela manhã, antes de enfrentar o Brasil. “Creio que isso cria, obviamente, um constrangimento grande às equipes. A nós provavelmente um constrangimento maior do que ao Brasil, por motivos que me parece, são evidentes”, acrescentou.

Críticas à Fifa

Para reforçar sua irritação, Paulo Bento disse não se recordar nas últimas Copas de um tempo tão curto de descanso entre duas partidas, e sugeriu que o calendário imposto pela Fifa visou privilegiar algumas seleções em detrimento de outras.

“Lembro-me de haver jogos passados de quatro dias, cinco dias, mas passado 72 horas, não me lembro. Creio que é algo inumano, que não é justo, mas que é algo que temos que ver como uma realidade daquilo que a FIFA no fundo pretende, que é ir criando cada vez menos condições para aqueles que menos condições têm, e provavelmente melhores condições para aqueles que mais condições têm”, afirmou.

Paulo Bento acrescentou ainda que a desvantagem acontece justamente contra a equipe que ele considera a mais forte para ganhar o título desta Copa.

“Já é difícil competir contra uma grande seleção como o Brasil. Eu diria que provavelmente, na minha opinião, o candidato mais forte a ser campeão, não o único, mas o mais forte candidato. Obviamente, com estes constrangimentos, mais difícil se tornará a nossa tarefa. De qualquer forma, tentaremos e não desistiremos”, insistiu.

Ao lado do zagueiro Kim Jin-su na coletiva, Paulo Bento disse ainda que a eventual volta de Neymar não tornará mais difícil a tarefa da Coreia do Sul, e espera sempre jogar contra os melhores jogadores em campo.

“A nós compete tentar fazer o melhor jogo possível e traçar a melhor estratégia possível para competir contra uma grande equipe recheada de talentos e que agora, ao contrário daquilo que acontecia há muitos anos atrás, acrescenta à organização, à crescente intensidade, à crescente agressividade, àquilo que é a sua qualidade individual”, opiniou o treinador, que teve passagem pela equipe do Cruzeiro durante pouco mais de dois meses, em 2016.

O zagueiro Jin-su minimizou o cansaço e disse que os sul-coreanos não temem o desafio das oitavas. “Estamos jogando nesta Copa com jogadores de alto nível, mas nosso time também tem alto nível, e jogar (contra o Brasil) não é um fator de estresse”, disse, confiante.

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