Drama familiar levou Bruna e Diego, do Flamengo, a lutar pela prevenção ao suicídio
Cerca de 90% dos casos podem ser evitados com auxílio psicológico; ídolo rubro-negro e esposa abraçam causa e ajudam projeto
Diego Ribas se preparava para a final da Supercopa do Brasil, em fevereiro, em Brasília, quando foi abordado por um dirigente do Athletico, adversário do Flamengo. Um garoto estava internado com depressão, sob efeitos de remédios, pois não via mais sentido na vida depois da separação dos pais — e uma mensagem de apoio do craque àquela altura poderia motivá-lo e dissuadi-lo de ideias que poderiam ser trágicas.
— Como íamos dormir por lá depois do jogo, eu me ofereci para ir ao hospital e visitá-lo. Fiquei no quarto dele uns 40 minutos conversando. No final, deixei meu número caso precisasse falar comigo — conta o camisa 10 do Flamengo, que amanhã enfrenta o Fluminense, às 21h30, pelo Brasileiro. — Há cerca de dez dias, conversei com esse dirigente e ele falou que o garoto está bem, está feliz.
A atitude de Diego Ribas não foi pontual. É rotina desde que ele se casou há 10 anos com a fisioterapeuta Bruna Letícia, que viveu um drama pessoal na infância: a perda do pai por suicídio quando ela tinha sete anos. O choque a fez se engajar na causa e perceber que mais pessoas precisavam de ajuda.
Bruna e Diego Ribas, do Flamengo, falam de trabalho de conscientização Foto: Editoria de arte
Nos últimos anos, mesmo com o dia a dia sem descanso do futebol, Diego tem sido um importante aliado, sobretudo na conversa com mais jovens. Graças à sua posição de ídolo, um torcedor rubro-negro que chegou a se despedir nas redes sociais voltou atrás em sua decisão. A atitude viralizou.
— São milhares de mensagens recebidas e tentamos ajudar sempre. Entramos em contato com a irmã (do torcedor), que disse que ele já teve esse tipo de comportamento outras vezes, mas estava bem — conta Diego.
Quinta-feira é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos no mundo. Isso corresponde a 800 mil mortes por ano — é pouco menos do que o número total de vítimas registradas pela Covid-19 no planeta, que hoje é de cerca de 890 mil. É como se fosse uma pandemia todos os anos. A campanha Setembro Amarelo foi idealizada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), em 2015, para dar visibilidade à discussão. O CVV tem um número para ligações gratuitas que oferece apoio emocional: o 188.
— Decidi dar sentido à minha dor porque é uma dor que não passa. Nenhuma criança é programada para crescer sem um pai. Naquela idade, eu não processei nada, apenas vivi — conta Bruna, sobre o processo traumático que viveu com a morte do pai. — Hoje em dia, me sinto privilegiada de tocar nesse assunto e mostrar para as pessoas que isso tem saída e não é opção. Quando a gente aborda uma pessoa em depressão, tentamos dar voz a essa pessoa, para que ela externe os sentimentos, tristezas, alegrias… Talvez ela entenda que haja uma saída.