Domicio Arruda: PARA NÃO ESQUECER O LOCKDOWN MEIA-BOCA

São Jorge (1912) – Auguste Macke – Museu Kolumba, Colônia, Alemanha

A velha mania de importar de outras línguas, palavras que já existem na inculta e bela, confundiu a população no cumprimento de ordens e restrições que os cientistas juravam  podiam parar a pandemia.

Em Pindorama, Lockdown virou sinônimo de fechar birosca.

O mais alto grau de isolamento tem nome de origem no Latim.

Confinamento.

Nos confins, na última fronteira.

Por onde foi implantado, precisou de força policial para ser respeitado.

Quando o assunto é liberdade individual,  até a  matemática é contrariada.

O todo pode não ter duas metades iguais.

Sem falar nos métodos de fabricação, não há grávida meio virgem, nem criança nascida de meia gravidez.

O arremedo do que os outros estavam  fazendo de verdade, tornou-se  marketing enganador, como os descontos da black friday. 

As práticas importadas e adotadas não conservavam  um mínimo de lógica, não foram entendidas, muito menos seguidas seriamente.

Foi fácil perceber que o que se tentava era tática de quem seguia no jogo das aparências e desculpas.

Um decreto governamental que determinou o fechamento dos parques (plural majestático), é a prova material  da inutilidade de muitas decisões que precisam ser lembradas, para nunca mais serem impostas.

Parque das Dunas, o único a ter os portões cerrados enquanto a rua em frente, continuava repleta de caminhantes, dividindo a pista com carros e ônibus.

A restrição de horários para o funcionamento do comércio, bares e restaurantes não resistiu a um simples cálculo da concentração de pessoas em determinado espaço, por menor tempo.

A circulação de ônibus – com frota reduzida e passageiros espremidos – foi outra agressão às inteligências medianas.

Quando falarem de novo em Lockdown, lembrem-se  de Auckland.

Seus quase dois milhões de habitantes passaram sete dias sem poder sair de casa.

Por conta de um único caso confirmado.

Antes que o isolamento insular fosse suspenso, uma das últimas ondas de contaminação varreu também a Nova Zelândia, igual havia ocorrido no resto do mundo.

Se for preciso, da próxima vez, se quiserem que ninguém saia de casa, usem o knowhow dos manos das comunidades.

Eles sabem fazer respeitar um Salve Geral.

Promenade (1913) – August Macke – Galeria Lenbachhaus, Munique
Publicado em Território Livre
Tribuna do Norte

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