Domício Arruda: Fake Falso
Enquanto o Congresso discute a lei das fakenews, uma pergunta ainda não foi respondida:
–Quem garante que a Fake também não é Falsa?
O que começou como desculpa amarela de derrotado em eleição, pode virar um problemão para quem se comunica com um grupo de amigos que viram seguidores até que o sucesso atinja o status de digital influencer. Ou robô.
Saber as intenções das pessoas e o real significado das palavras não caberão nunca nas letras frias da lei.
Os legisladores ainda não aproveitaram os artigos, parágrafos e incisos para considerarem os emojis, provas cabais do espírito da suspeita falsidade.
Se o momento da postagem era de 😜, 🥳 ou 😤.
Pelo menos que se considere atenuantes e salvadoras, as duas letrinhas no final do que se escreve.
… rs...
(Publicação original em 4/7/2019)
QUAL É?
Todo cuidado que já era pouco, agora deve ser aumentado ainda mais. Os mais calejados diriam, redobrado. Com o que se fala e escreve. Por mais restrito, camarada, familiar ou corporativo, seja o grupo. Ao vivo ou por aplicativos. À luz do sol, na sombra ou na penumbra.
Ninguém sabe mais o que pode ser recuperado, transcrito, gravado e degravado. Usado e abusado.
O que voga. O que foi falado à vera. Ou na brinca.
Tudo depende de quem intercepta. E interpreta.
Do jeito que corre esse riacho, os precavidos serão logo-logo, mudos, surdos, analfabetos digitais. E pouco cerebrais.
Quem garante que os russos já não estejam lendo o pensamento dos outros? À distância.
A turma de Curitiba que o diga.
Qual turma?
Se agora são duas.
O bem e o mal separados e misturados.
Há mais de 50 anos, um passageiro da agonia estabeleceu os limites que parece, não foram respeitados. Mais uma vez, a vida imitou a arte que retratou a vida.
A pressa continua sendo amiga das confusões. Antes-de-ontem já é passado remoto. O que se ouviu ontem é pra ser esquecido. A não ser o que rola no Telegram.
Os últimos acontecimentos desmentem os chineses e seus provérbios que creem e rezam, a palavra lançada não volta mais.
Tem voltado. Como uma flecha. A oportunidade ainda pode ser encontrada. Antes que o estrago não tenha jeito.
Tem quem jure de pés juntos que vai chegar o tempo quando será possível recuperar e ouvir o Sermão da Montanha, no som original.
É de imaginar o que pode acontecer.
Crentes. Carolas. Teólogos. Descrentes. Agnósticos. Não opinaram. Os últimos números do Ibope. Aquele partido pede CPI. Trump, diz que é fakenews.
Mais uma de Carlucho. Trend topic sem igual.
Enquanto não chegamos lá, dava pra simplificar um pouquinho.
No país de tantas leis, anda faltando a do bom senso. Se todos simplesmente entendessem o que significa o meu, o seu, o nosso zap-zap. Começando pela tradução.
Qual é?
Um ambiente tão coloquial não pode ser levado muito a sério.
Uma outra turma, de caminhantes madrugadores, resolveu todos os conflitos de forma menos burra.
Acabou com o disse-me-disse. E o quis dizer-quis dizer. Bastou um decreto não promulgado e aceito à unanimidade:
-Tudo que é dito aqui, antes das 6 da manhã, fica aqui. Mesmo gravado, não vale nada.
Domício Arruda é médico e jornalista
Território Livre – Tribuna do Norte