Dom Pedro Casaldáliga: eternamente presente!

“Que o seu exemplo de resistência e perseverança seja combustível para fortalecermos a nossa ação e alcançarmos a vitória em cada uma das lutas do povo brasileiro”

Alencar Santana Braga*

O Brasil e o mundo perderam uma grande dose da sua humanidade com a partida de Dom Pedro Casaldáliga, na manhã deste sábado, 8 de agosto, mesmo dia em que o país superou a macabra marca de 100 mil mortes na pandemia do coronavírus.

O bispo emérito de São Félix de Araguaia nos deixa de legado uma trajetória inspiradora cujos atos se confundem com a história das lutas no Brasil desde a ditadura à qual presta devoção o atual presidente da República.

Pere Casaldáliga saiu da sua Catalunha natal nos estertores do regime autoritário franquista. Sua opção por radicar-se no Brasil em 1968, adotando o nome Pedro, justamente quando tinha início o momento mais duro da repressão militar, diz muito sobre uma das suas muitas virtudes, a coragem.

O Brasil ainda estava distante da saída dos militares do poder, e estava ainda mais distante do momento em que, 80 anos antes, fora decretada a abolição da escravatura. Mas partiu justamente desse catalão que partiu a primeira denúncia do trabalho escravo contemporâneo no país que adotou, nos primeiros anos da década de 1970.

Símbolo da Teologia da Libertação e perseguido pela ala conservadora da Igreja Católica por isso, suas denúncias repercutiram amplamente no mundo, que já olhava escandalizado para o Brasil por conta da ditadura.

Enfrentou e derrotou processos de expulsão abertos pelo governo brasileiro. Virou alvo de ruralistas, madeireiros e grileiros, passando a figurar nas listas da pistolagem com os nomes de pessoas marcadas para morrer. Mas seguiu sobrevivendo e lutando, tal qual o Brasil continuava lutando para recuperar a sua democracia, o que finalmente ocorreu em 1985.

Recolhido na sua São Félix, abraçou a luta dos indígenas, dos sem-terra, dos extrativistas, dos pequenos camponeses expulsos das roças das quais obtinham a sua sobrevivência, enfim, dos pobres do campo num país que preferia exportar grãos a produzir alimento para o seu povo famélico.

As lutas às quais Dom Pedro Casaldáliga dedicou a sua vida continuam ativas, ainda mais com um novo projeto autoritário da burguesia brasileira para implantar a qualquer custo a sua agenda entreguista e ultraneoliberal. Que o seu exemplo de resistência e perseverança seja combustível para fortalecermos a nossa ação e alcançarmos a vitória em cada uma das lutas do povo brasileiro, que também são lutas de todos os povos oprimidos do mundo!

*Advogado, deputado federal (PT-SP), ex-deputado estadual na ALESP e ex-vereador de Guarulhos.

Revista Forum

Deixe um comentário