Diretoria age nos bastidores por demissão de Vítor Pereira, que vive últimas horas no Flamengo

Treinador chega ao fim da linha no clube não apenas pelo fracasso no Carioca, mas também por avaliação do que apresentava no dia a dia no Ninho do Urubu

Globo Esporte

Vítor Pereira vive suas últimas horas de Flamengo. O fim da relação está desenhado após a vexatória goleada por 4 a 1 para o Fluminense. A ausência de resultados pesa, assim como o futebol sem evolução. Além disso, a avaliação do trabalho do treinador no dia a dia no CT é determinante para a iminente queda.

A entrevista de Marcos Braz após o jogo foi o primeiro indício das mudanças de rumo e, consequentemente, de comando no Flamengo.

Fato de não montar time nos treinos incomoda

Com Vítor Pereira, o Flamengo perdeu todas as quatro competições que disputou até o momento, mas perdeu também ao apostar em convicções que se mostraram infrutíferas. O fato de não treinar o time dos jogos foi uma das principais.

No início do trabalho, em semanas cheias, o técnico montava time nos treinamentos, mas deixou de fazê-lo após os vazamentos de escalação. O excesso de preocupação para não dar armas aos rivais fez VP parar de ter atenção às próprias armas.

Isso incomodou pessoas que transitam no dia a dia do Ninho do Urubu, que discordavam da opção por priorizar privacidade em detrimento da repetição. Alguns jogadores também não gostaram, pois isso impactava na preparação para os jogos.

Opções discutíveis que geram involução na semana decisiva

A escolha pelos três zagueiros, que fez o Flamengo perder o meio-campo nos jogos e rompeu com os modelos dos antecessores de Vítor, veio no Fla-Flu da Taça Guanabara. O sistema foi mantido até o novo duelo com o Fluminense que fez dos rubro-negros vice-campeões estaduais após vantagem de dois gols de diferença no primeiro jogo.

Vítor Pereira resolveu não abrir mão mais dos três defensores, mas as tomadas de decisão na última semana em relação a peças causaram grande desconforto. Preocupado em se fechar com sua comissão e botar em prática suas ideias, passou a estar “por ele”. Ouvia menos, executava mais.

No primeiro Fla-Flu da final, conseguiu boas respostas ao colocar Matheus França no lugar de Gabigol. O garoto pressionou bem a saída tricolor pelo lado direito e iniciou a jogada do primeiro gol. As quatro substituições no segundo, com Filipe Luís, Everton Ribeiro, Vidal e Gabigol, tornaram o time mais capaz de ficar com a bola e assim saiu o segundo gol.

O segundo tempo da equipe recebeu elogios internos e externos, apesar de o Flamengo ter dado a bola ao Flu na etapa inicial. Mas tudo mudou para quarta-feira, dia da estreia na Libertadores.

Com todo o mistério feito nos treinamentos, a escalação divulgada uma hora antes do confronto com o Aucas, na altitude, surpreendeu a todos. Um time repleto de reservas. Entraram jogadores que voltavam de lesão, como o jovem Wesley e o zagueiro Pablo. Marinho jogou improvisado na lateral, e Gabigol atuou como centroavante, algo que o próprio disse que gostaria de voltar a ser.

Foi derrotado em mais uma marca de seus jogos: primeiro tempo razoável e queda acentuada no segundo. Para complementar, a entrevista na qual disse que o “time fez um bom jogo” piorou a situação de Vítor Pereira, que ficou bastante enfraquecido.

A partir dali o clima já não era nada bom para o treinador. A discussão de possíveis substitutos já existia preliminarmente nos bastidores rubro-negros.

Para completar o combo de mudanças, Vítor foi para o Fla-Flu com Gabigol aberto pela ponta direita e não com Matheus França, atleta com maior capacidade de recomposição.

Logo Gabigol que havia pedido para não atuar mais aberto. Aberto ficou o lado direito do Flamengo, e por ali o Fluminense construiu a virada que terminou em goleada. Até mesmo alguns atletas não entenderam a decisão de Vítor, principalmente depois de a entrada de França ter funcionado tão bem no primeiro jogo.

As convicções, em outro momento intocáveis, foram por água abaixo no Fla-Flu. A primeira foi escalar Gabi na ponta, a outra foi desistir dos três zagueiros no intervalo, quando a partida ainda iria para pênaltis com 2 a 0 para o Fluminense.

“Gente boa” aos olhos do elenco e de funcionários

Foi defendido do início ao fim por seus jogadores por se mostrar um treinador “gente boa” e “parceiro”. A impressão se estendia a funcionários do dia a dia do Ninho do Urubu. Os atletas acreditavam em suas dinâmicas, mas dentro do clube havia enorme descontentamento com a falta de evolução.

Mesmo com o treinador defendido por grande parte dos atletas, as mudanças constantes na última semana trouxeram neles o sentimento de incerteza em relação ao futuro.

Segundo pessoas próximas ao elenco, embora muitos apoiassem o técnico, já o viam num caminho de morrer com suas convicções.

Substituto discutido com maior ênfase após vice

O nome de Jorge Jesus, sempre popularíssimo entre torcida e conselheiros, já aparece nas conversas dos dirigentes. O português vive momento difícil no Fenerbaçe, da Turquia. Atualmente sem clube, Jorge Sampaoli, de quem Rodolfo Landim é entusiasta, também está cotado.

Terminado o jogo, Marcos Braz deixou no ar a clara possibilidade de mudança.

– Não é o resultado que a gente queria perder da maneira que a gente perdeu. Tem que rever alguma coisa, mas isso não passa por alguma troca ou situação que você vá decidir às 22h ou 23h. Amanhã com calma vou estar com as pessoas que devo estar, muito provavelmente vou estar com o Vítor. Por enquanto, tudo normal – afirmou Braz, o único dirigente a falar no Maracanã.

Não, normal não está. A movimentação já é intensa pela troca de comando. Vítor Pereira receberá integralmente o que resta de seu tempo de contrato, e o Flamengo vai atrás de um substituto.

Contratado para fazer o campeão da Libertadores e da Copa do Brasil jogar melhor, Vítor Pereira não conseguiu. Disse ainda no Maracanã que está em início de trabalho, mas o fim da relação está previsto para esta segunda-feira.

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