Covid mata em menos de 6 meses mesmo número de brasileiros que HIV em 9 anos

100 mil mortes por Covid-19

Homenagem em São Paulo às 100 mil vítimas da Covid-19 no Brasil

Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

Castigado há séculos por epidemias e surtos dos mais variados tipos, o Brasil não é estranho a crises de saúde. Até hoje, no entanto, nenhum dos flagelos que atingem os brasileiros periódica ou continuamente matou tantos em tão pouco tempo como a Covid-19.

O país deve chegar no sábado à trágica marca de 100 mil mortes causadas pela doença. Desde a gripe espanhola, há 102 anos, o Brasil não via algo assim, com a perda de vidas em uma velocidade muito superior a enfermidades como Aids, tuberculose e dengue.

“Isso é inédito, algo que nunca teve. Deveríamos estar em desespero, isso é uma tragédia como uma guerra de verdade, um conflito armado. Mas o Brasil está em uma anestesia coletiva”, diz o infectologista José Davi Urbaéz, porta-voz da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A comparação com outras doenças que, como a Covid-19, são virais e não têm vacinas, mostra o tamanho do estrago que o novo coronavírus –que também pode atingir no sábado a marca de 3 milhões de casos confirmados no país– vem fazendo no Brasil.

Considerada a epidemia do século 20, o HIV e as doenças associadas à Aids fizeram 270.591 vítimas entre 1996 e 2018, de acordo com o DataSUS, sistema de vigilância em saúde do governo federal. O HIV, no entanto, levou 9 anos para alcançar o número de mortos que a Covid-19 fez em pouco mais de 5 meses.

Quase endêmica no país, a tuberculose é outra doença que matou muitos brasileiros. Foram 104.268 óbitos entre 1996 e 2018, último ano em que o DataSUS tem contagem completa. Foi em 2017, depois de 22 anos de registros, que a doença atingiu a mesma marca de vítimas fatais que a Covid deixará até este fim de semana.

A dengue, outro flagelo que atinge os brasileiros a cada verão, apesar dos milhões de casos registrados, matou 6.984 pessoas em 23 anos. Em 2019, um dos piores anos da série, foram 782 óbitos. A malária, no mesmo período de 1996 a 2018, fez 2.342 vítimas fatais.

“Nos últimos 100 anos o Brasil sofreu diversas pandemias, epidemias e possui grandes endemias. Tivemos a pandemia de Influenza H1N1 em 2009; na década de 90 a pandemia de cólera nos atingiu, temos a epidemia de dengue, zika e chikungunya que frequentemente nos visita, além de termos grandes endemias como tuberculose, malária, doença de Chagas, leishmaniose. Entretanto, nenhuma dessas doenças vitimou tantos brasileiros num período tão curto de tempo. Isso é uma coisa que nos choca muito”, diz o infectologista Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio e Janeiro e líder do Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento da Covid-19 da UFRJ.

Chamada de “gripezinha” pelo presidente Jair Bolsonaro, a Covid-19 é ainda bem mais mortal que os diferentes tipos de influenza, que em 23 anos causaram a morte de 9.836 mil pessoas no país, segundo os números do DataSus.

CNN

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