Copa: Mesmo confiantes na vitória sobre a França, argentinos apelam para superstições

Mais de 40 mil argentinos no Catar vão fazer os jogadores liderados por Lionel Messi se sentirem em casa na partida final da Copa do Mundo contra a França, neste domingo (18). Já na Argentina, 47 milhões de “torcedores” estão confiantes, mas também ansiosos. Para tentar acalmar esta ansiedade, eles apelam a todo o tipo de amuleto ou ritual. Até o presidente Alberto Fernández deixou de viajar para Doha, para acompanhar a decisão, alegando uma superstição.

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O torcedor Nicolás Adi tem como superstição conversar com o correspondente da RFI antes de cada jogo.
O torcedor Nicolás Adi tem como superstição conversar com o correspondente da RFI antes de cada jogo. © Márcio Resende / RFI

Mais de 40 mil argentinos no Catar vão fazer os jogadores liderados por Lionel Messi se sentirem em casa na partida final da Copa do Mundo contra a França, neste domingo (18). Já na Argentina, 47 milhões de “torcedores” estão confiantes, mas também ansiosos. Para tentar acalmar esta ansiedade, eles apelam a todo o tipo de amuleto ou ritual. Até o presidente Alberto Fernández deixou de viajar para Doha, para acompanhar a decisão, alegando uma superstição.

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

À meia-noite, como todas as noites, o hino argentino foi executado em todos os canais de TV do país. Porém, desta vez, a versão foi cantada pelos jogadores da seleção argentina e por sua torcida no Catar. Assim que o momento do hino terminou, milhares foram às janelas gritar “Argentina”, enquanto, nas esquinas do país, torcedores se reuniam com bandeiras.

Mas cantar vitória antes da hora, para os argentinos, pode dar azar. E quando se trata de superstições, cabalas ou simpatias no futebol, eles são imbatíveis. Por aqui, todos têm uma, não importa a crença nem a classe social. Faz parte do folclore de qualquer torcedor. O país se divide entre aqueles que revelam sua superstição e aqueles que preferem omitir.

Daniel Troncoso veste a mesma camisa - desbotada! - de 1986, quando a Argentina foi bicampeã mundial.
Daniel Troncoso veste a mesma camisa – desbotada! – de 1986, quando a Argentina foi bicampeã mundial. © Márcio Resende / RFI

Daniel Troncoso, de 48 anos, por exemplo, contou à RFI que veste a camisa da seleção argentina de 1986, quando o país foi bicampeão. Ao longo desses 36 anos de jejum de títulos na Copa, a camisa ficou tão desbotada, que parece branca. “Minha superstição é usar esta camisa de 86 porque vamos ser campeões de novo, como em 86. Não tenho dúvida. Esta já demonstrou ser ganhadora”, ele argumenta.

Pablo Cavaleiro, 41, é um mágico famoso. Mágica e magia são a mesma palavra em espanhol. Ele conta que a magia deve vir dos pés mágicos dos jogadores. “A mágica está nos pés dos 11 jogadores que vão deixar tudo em campo. A magia estará na equipe, nos jogadores e no gramado. Eles são os mágicos agora e que essa magia conduza à vitória”, aponta Pablo, transferindo poderes.

Pablo Cavaleiro é mágico, mas nesta final espera que a magia venha dos pés dos jogadores.
Pablo Cavaleiro é mágico, mas nesta final espera que a magia venha dos pés dos jogadores. © Márcio Resende / RFI

Aranhas e homens-aranhas

Esse pensamento mágico, aliás, levou Nahuel Ponce, 21, a se fantasiar de homem-aranha. “No primeiro jogo, eu não me vesti assim e a Argentina perdeu para a Arábia Saudita. Desde o segundo jogo, eu mudei e deu certo”, justifica. “Minha roupa simboliza uma superstição e o jogador Julián Álvarez, apelidado de aranha”, explica.

Nicolás Adi, 28, foi entrevistado pela RFI no segundo jogo da Argentina na fase de grupos. O jogo era contra o México. A Argentina precisava ganhar. A derrota a eliminaria. A vitória por 2 a 0 levou Nicolás a repetir a mesma rotina. Desde então, antes de cada jogo, ele precisa conversar com este jornalista [Márcio Resende] para evitar o pior.

Nahuel Ponce se veste de super-herói: "Minha roupa simboliza uma superstição e o jogador Julián Álvarez, apelidado de aranha".
Nahuel Ponce se veste de super-herói: “Minha roupa simboliza uma superstição e o jogador Julián Álvarez, apelidado de aranha”. © Márcio Resende / RFI

“Eu estou muito nervoso, muito ansioso mesmo. Tenho 28 anos e nunca tinha visto a Argentina campeã de nada até 2021, quando ganhou a Copa América. Há 36 anos, a Argentina não é campeã fora do continente americano. Uma Argentina campeã mundial é uma dimensão desconhecida para mim e para boa parte desta sociedade”, ele observa.

Já Maximiliano Ruiz, 38, precisa ver os jogos sozinho, com a TV sempre no mesmo canal e com volume no máximo. A roupa vestida é a da seleção argentina, usada apenas para o jogo e logo depois guardada sem lavar.

“Um carinho na alma argentina”

Yanina Sicilia, 32, não olha para a cobrança de pênaltis, um pouco por superstição, um pouco por nervosismo. “Estamos muito nervosos, muito ansiosos, mas felizes também. Vamos trazer a taça para cá. Estamos passando por uma situação na Argentina muito difícil, tanto no campo econômico, quanto no campo político. Então, seria uma alegria para o país, um carinho na alma argentina”, pede em tom de oração.

Yanina Sicilia reza pelo gol durante série de pênaltis entre Argentina e Holanda.
Yanina Sicilia reza pelo gol durante série de pênaltis entre Argentina e Holanda. © Márcio Resende / RFI

O presidente francês, Emmanuel Macron, convidou seu colega argentino, Alberto Fernández, para assistirem à final juntos no estádio. Mas Fernández preferiu repetir a mesma forma de assistir aos jogos da Argentina desde a primeira fase: na residência presidencial.

O cálculo político foi que, se ele viajar e a Argentina for campeã, boa parte da sociedade o acusará de se aproveitar politicamente do título. Se viajar e a Argentina perder, será taxado de azarento.

“Como milhões de compatriotas, desfrutarei da final em casa. Viverei esse momento fantástico como até agora, junto da minha gente. Em campo, estarão os melhores dos nossos e na arquibancada, uma gloriosa torcida”, indicou Fernández nas redes sociais. E concluiu: “Além disso, superstições são superstições”.

Lionel

E como toda superstição precisa de algum sentido, um triunfo da Argentina sobre a França culminaria um ciclo vitorioso iniciado pelo técnico Lionel Scaloni há quatro anos, justamente contra a França. Aquela derrota da Argentina por 4 a 3 para a França nas oitavas-de-final do Mundial da Rússia em 2018 acabou com a fase do então técnico Jorge Sampaoli.

O atual ciclo, portanto, começou com uma derrota para a França e terminaria no que pode ser uma vitória sobre a França. E outro Lionel, o Messi, também fecha seu ciclo de Copas do Mundo, talvez como herdeiro da glória eterna, 36 anos depois.

Argentinos rendem homenagem a Messi antes da final.
Argentinos rendem homenagem a Messi antes da final. © Márcio Resende / RFI

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