Contra intervenção, indicado para Petrobras já defendeu distribuição gratuita de botijão de gás

Com uma longa carreira no ramo do petróleo, Adriano Pires já vinha sendo ouvido pelo governo brasileiro nos últimos tempos como conselheiro para remediar a crise de preços de combustíveis. Agora indicado para presidir a Petrobras, o economista é contra a intervenção de preços na estatal, mas chegou a defender, em entrevista à RFI, a distribuição gratuita de botijões de gás por um ano para as mais de 16 milhões de famílias que recebem o “Novo Bolsa Família”: “Não pode ser dogmático”, disse Pires.

Com informações de Lúcia Müzell, da RFI

Doutor em economia pela Universidade de Paris 13 e com mais de 40 anos de experiência na área de energia, Adriano Pires respondia como consultor e sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura até segunda-feira (28), quando foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para substituir o general Joaquim Silva e Luna na presidência da Petrobras.

O economista, que também faz parte do instituto liberal Millenium, já vinha sendo ouvido pelo governo sobre as medidas para apaziguar o aumento de preços dos combustíveis.

Em janeiro, Pires conversou com a RFI Brasil sobre as possíveis formas de reduzir o impacto da alta de preços do barril de petróleo no mercado consumidor e defendeu a introdução de políticas públicas para frear o aumento do custo de vida, sobretudo dos mais pobres.

“O governo aprovou no ano passado um vale-gás, mas um vale-gás muito tímido, que dá um botijão de gás de graça a cada dois meses só para 4 milhões de famílias. Só no Bolsa Família, temos 16 milhões de famílias”, comentou. “No caso do botijão, eu acho que deveria se dar botijão de graça para as 16 milhões de famílias do ‘Novo Bolsa Família’ pelo menos por um ano, para ver se a gente passa essa pandemia”, defendeu.

Na ocasião, Pires também ressaltou ser contra políticas de intervenção nos preços da Petrobras, como aconteceu em governos brasileiros anteriores. “Sou contra intervencionismo, acho que subsídio tem que ser uma prática utilizada com muito cuidado, mas também não pode ser assim: ‘agora não tem subsídio’. Não pode ser radical, não pode ser dogmático.”

O economista apoia a criação de fundos e reservas de petróleo para retardar a passagem de preços automática do mercado mundial para as bombas de gasolina. “O único país que eu vi em 2021 não tomar nenhuma providência para reduzir a volatilidade de preço no bolso do consumidor foi o Brasil. Nos próprios Estados Unidos, a Meca do Capitalismo, o presidente [Joe] Biden usou reservas de petróleo americanas para jogar no mercado e tentar abaixar o preço da gasolina e do diesel”, comentou.

Se assumir a presidência da estatal, no entanto, essas políticas de redução de danos não farão parte de sua área de atuação, que se limitaria às decisões dentro da Petrobras. A indicação de Adriano Pires precisará passar pela aprovação do Conselho de Administração da empresa, prevista para 13 de abril.

Demissão de general após explosão de preços

Nomeado em fevereiro do ano passado, o general da reserva Silva e Luna assumiu o comando da Petrobras após uma crise no governo por conta de constantes aumentos de preço do combustível.

A mudança de comando, no entanto, não alterou a política de preços, que vinha sendo constantemente criticada por Bolsonaro. A Petrobras aplicou no início de março um aumento de 18,8% no preço da gasolina em suas refinarias e 24,9% no diesel em resposta ao “aumento mundial dos preços do petróleo e seus derivados como resultado da guerra entre a Rússia e a Ucrânia”.

As consequências do aumento de preços na economia deve ser ponto-chave da campanha presidencial deste ano no Brasil.

Segundo a última pesquisa Datafolha publicada em março, 75% dos brasileiros acreditam que o governo tem “muita” ou “alguma” responsabilidade na inflação que afeta o bolso das famílias.

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