Como os indecisos podem definir a eleição presidencial

Com mais de 80% dos eleitores decididos sobre o voto para presidente, campanhas de Lula e Bolsonaro tentam atrair indecisos. Datafolha mostra que petista poderia vencer no primeiro turno pelo "voto útil".

Conforme a eleição presidencial se aproxima dos dias decisivos, os eleitores indecisos se tornam peça-chave para a definição do resultado das urnas. A última pesquisa de intenção de voto realizada pelo Datafolha indica que 81% do eleitorado estaria totalmente decididos sobre o voto para em 2 de outubro. Nesse cenário, as campanhas de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltam seus esforços para seduzir os indecisos e eleitores da “terceira via”.

Pelo lado do petista, a defesa do “voto útil” é a principal estratégia para atrair novos eleitores. Estabilizado na liderança das pesquisas, Lula tem chances de ganhar a eleição ainda no primeiro turno, de acordo com as pesquisas Ipec e Datafolha. O ex-presidente se vale dessa possibilidade para conquistar eleitores que desejam afastar a possibilidade de uma virada de Bolsonaro no segundo turno.

Na última pesquisa Datafolha, 11% dos eleitores afirmam que podem mudar de candidato no primeiro turno da eleição presidencial para apoiar aquele que estiver em primeiro lugar nas pesquisas: o “voto útil”. Com 50% dos votos válidos, Lula teria chances reais de vitória no primeiro turno, caso esse movimento se concretize.

O perfil dos indecisos

Pelo que as diferentes pesquisas revelam, o perfil majoritário dos indecisos é composto por mulheres e eleitores de escolaridade e renda mais baixas, concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Pela maior concentração demográfica no Sudeste, as campanhas de Lula e Bolsonaro darão prioridade ao Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo nos últimos dias de campanha.

“Esse perfil tende mais para o Lula. Eventualmente, se nada acontecer, a indecisão favorece mais o Lula do que o Bolsonaro”, afirma o cientista político Jairo Nicolau, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), chamando a atenção para a singularidade do cenário atual: “O índice de indecisão hoje é um dos mais baixos, se não o mais baixo, que já tivemos a dez dias das eleições, desde a redemocratização.”

Por que está se falando tanto em voto nulo?

Na última semana, Lula registrou ganhos entre os mais jovens, mulheres e eleitores de baixa renda. Em todos esses grupos, a rejeição a Bolsonaro parece consolidada, chegando a beirar a casa dos 60%, segundo o Datafolha. Entre as mulheres, Lula ampliou a vantagem sobre o rival de 17 para 20 pontos percentuais na última semana. Para comparação, a diferença entre os dois no eleitorado masculino é de apenas seis pontos.

O ex-presidente também registrou crescimento entre os eleitores mais pobres. Embora tenha vantagem consolidada nessa fatia do eleitorado, a notícia é especialmente frustrante para a campanha de Bolsonaro pela aposta nos benefícios turbinados do Auxílio Brasil.

Lula subiu cinco pontos percentuais na faixa de eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos. O petista aparece com 57% das intenções de voto no primeiro turno, contra 24% de Bolsonaro.

“Bolsonaro se esforçou bastante – com gastos controversos, inclusive – para ganhar espaço entre os eleitores mais pobres. A despeito disso, ele tem sido mal-sucedido”, avalia a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública do Iesp/Uerj.

“O Lula apresenta um aumento considerável na comparação das pesquisas espontâneas para primeiro e segundo turno. Entendo que esse candidato tem uma expectativa maior de angariar votos. Ele precisa atrair os eleitores evangélicos e os mais ricos, que estejam entre os indecisos ou no grupo que escolhe Ciro e Tebet.”

De acordo com a última pesquisa Datafolha, um em cada cinco eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) admite a migração para o voto útil em Lula. Entre os evangélicos, Bolsonaro mantém uma vantagem estável sobre o ex-presidente, mas o petista também tem conquistado espaço.

Nessa fatia do eleitorado, a pesquisa Ipec mostra uma ascensão de Lula desde 29 de agosto, tendo passado de 26% para 32%, enquanto Bolsonaro se manteve estável na casa dos 48%. Os números são semelhantes aos do Datafolha, que registram um crescimento de Lula desde 9 de setembro, de 28% para 32%. O candidato à reeleição oscilou de 51% para 50%.

A campanha petista aposta em conquistar uma fatia maior dos eleitores evangélicos na última semana antes da eleição. O PT vai intensificar o discurso que associa o presidente Bolsonaro à violência e ao aumento de armas nas mãos de civis pelo país. Nos últimos dias, o partido veiculou no YouTube um vídeo que mostra o pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro, discursando contra as armas.

Além disso, o candidato a vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB) e a candidata a deputada federal Marina Silva (Rede-SP) foram escalados para estreitar a relação de Lula com o segmento. Marina, que se reaproximou do PT após o rompimento na eleição de 2014, é evangélica.

Bolsonaro tenta diminuir rejeição

A campanha de Jair Bolsonaro, por sua vez, está focada em tentar reduzir a rejeição ao presidente sobretudo entre mulheres, nordestinos e jovens. Nesse sentido, a estratégia de segmentar anúncios digitais para públicos específicos foi intensificada.

As peças publicitárias direcionadas a esses segmentos focam em medidas do governo e não trazem ataques a Lula. A estratégia digital ocorre principalmente no Google. A campanha de Bolsonaro já gastou R$ 2,7 milhões com impulsionamento de conteúdo na plataforma, que inclui o YouTube: R$ 497 mil só na última semana.

De acordo com pesquisa do Ipec divulgada na segunda-feira (19/09), o percentual de eleitores que não votariam “de jeito nenhum” em Bolsonaro é de 61% no Nordeste, de 56% na faixa etária entre 16 e 24 anos, e de 54% entre as mulheres.

Nos últimos dias, duas peças publicitárias foram direcionados apenas para moradores dos nove estados do Nordeste, sobre a transposição do Rio São Francisco e o saneamento básico.

Outros dois, sobre o Auxílio Brasil de R$ 600, foram direcionados para sete estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte), quatro estados do Norte (Acre, Amapá, Amazonas e Pará) e um do Centro-Oeste (Goiás).

O cientista político Thomas Traumann, da FGV, acredita ser possível haver um crescimento de Jair Bolsonaro na reta final de campanha. Com endosso de seus pares, o pesquisador alerta para as dificuldades enfrentadas pelos institutos de pesquisa para definir as bases amostrais das pesquisas. Sem o referencial do Censo, que não é realizado desde 2010, a definição da parcela do eleitorado evangélico ou de baixa renda oscila nas diferentes pesquisas, o que tende a gerar variações nos resultados.

“O Bolsonaro tem 30%, 33% hoje. Para mim, é muito claro que ele passa de 40%. E eu acho que isso é o resultado da política ou das benesses econômicas que ele deu nesses últimos meses, seja pelo corte do preço da gasolina, seja pelo Auxílio Brasil”, avalia Traumann.

Fonte DeutscheWelle

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