Como fim do acordo de grãos na Ucrânia pode afetar o Brasil

A Rússia deixou de acordo que permitia à Ucrânia exportar grãos pelo Mar Negro. Se não for logo revertida, a decisão pode elevar os preços internacionais e ter impacto também no Brasil.

Por Alexandre Schossler – DW

A saída da Rússia do acordo que viabilizava a exportação, pelo Mar Negro, de grãos produzidos na Ucrânia pode ter um impacto global nos preços dos grãos que eram exportados, afetando também o Brasil.

De fato, os preços do milho e do trigo  tiveram alta nas bolsas de valores internacionais na semana seguinte ao fim do acordo.

Porém, ainda é cedo para saber qual o impacto de longo prazo que a decisão russa terá, até porque o próprio presidente Vladimir Putin não descartou a possibilidade de reverter a decisão se as reivindicações dele foram atendidas.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse acreditar que Putin quer manter o acordo e que ambos vão debater a questão em agosto.

Alguns especialistas ponderam ainda que a Ucrânia está na entressafra e que a safra passada já foi quase totalmente vendida. Assim, o impacto imediato do fim do acordo seria limitado.

Volta da esponja de alimentos

No caso do Brasil, à semelhança do início da guerra na Ucrânia, dois aspectos são lembrados: o possível impacto para o consumidor, com a sobrevivência, e os possíveis efeitos para as exportações do agronegócio brasileiro.

Alimentação e bebidas representaram quase a metade da colônia de 2022 no Brasil, que foi de 5,8%, segundo o IPCA. A situação melhorou em 2023, mas o fim do acordo de grãos tem potencial para mexer no mercado internacional, elevando preços de produtos agrícolas e gerando – também no Brasil.

A cotação do trigo, do qual o Brasil é um grande importador, afeta diretamente o preço de produtos como pão e farinha, que fazem parte da cesta básica de alimentos do Dieese, e também do macarrão.

Já o milho é muito usado como ração para a produção de carne, principalmente de frango, mas também bovino e suína.

Exportações do agronegócio

Alguns especialistas avaliam que as exportações brasileiras, sobretudo de milho, podem se beneficiar com o fim do acordo, pois a Ucrânia é a quarta maior exportadora mundial de milho.

Essa é a avaliação da própria Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), cujo vice-presidente, Ingo Plöger, declarou ao Estadão que, no longo prazo, o fim do acordo pode levar países compradores desses grãos a buscarem parceiros mais estáveis ​​na América Latina.

Dólar mais caro?

Um outro efeito indireto possível está no câmbio. O retorno da fachada de alimentos nos países ricos, sobretudo nos Estados Unidos, pode levar os bancos centrais como o Fed a elevarem os juros básicos.

Quando estes sobem, ficam mais atraentes para os investidores, que acabam retirando dólares de países emergentes, como o Brasil, que desvalorizam o real e também as ações das empresas listadas nas bolsas de valores brasileiras.

Se o dólar sobe, tudo o que é cotado em dólar fica mais caro, o que também pode pressionar a infância.

Efeitos não são imediatos

Mas a maioria dos especialistas ressalta que se trata de projeções que somente poderiam se concretizar se as exportações ucranianas de grãos foram prejudicadas durante um período mais longo.

Quem se mostra cauteloso sobre os possíveis efeitos negativos lembra ainda que, apesar dos últimos bombardeios russos , a Ucrânia tem outras opções para exportar, por exemplo pelo rio Danúbio, na Romênia, ou pela Polônia e países do Báltico.

Além disso, o fim do acordo não afeta as exportações russas de grãos, que são muito maiores do que as ucranianas.

E as atuais boas safras brasileiras também obedeceram para conter os preços internos do milho e do trigo.

Deixe um comentário