Como era Mossoró em 1917

Geraldo Maia do Nascimento - [email protected]

Através de um relatório lido em 1º de janeiro de 1917 na Intendência Municipal de Mossoró, pelo seu Presidente, Coronel Francisco Vicente Cunha da Mota, ficamos sabendo como era a cidade naquele longínquo ano. A Intendência Municipal era o equivalente hoje a Prefeitura e o Presidente da Intendência, o Prefeito.

O Coronel Cunha da Mota, que era industrial salineiro e um dos chefes da importante organização comercial daquela época, tinha sido eleito para o período administrativo de 1914 a 1916. E apesar da grande seca que teve que enfrentar, a famosa seca de 1915, com toda dificuldade advinda da situação para uma cidade que estava localizada em pleno Sertão nordestino, teve a sua administração assinalada por uma série de acontecimentos e realizações notáveis, todas de incentivo ao desenvolvimento de Mossoró e da própria região. Naquela sessão da Intendência, estava se despedindo do cargo, ocasião em que apresentou a sua prestação de contas. Para seu sucessor, tinha sido eleito o farmacêutico Jerônimo Rosado.

Começou seu relatório falando da Instrução Pública. Que mesmo com a falta de recursos por que passava a municipalidade, havia subsidiado a “União Caixeiral”, escola que muito concorria para o progresso das letras na cidade, o “Grêmio Literário Francisco Isódio”, que mantinha uma escola noturna de meninos pobres, e até mesmo o Colégio Diocesano, que passava por dificuldades.

Com relação a saúde pública e higiene, informou que o estado sanitário do município era o mais lisonjeiro possível, apesar do grande número de retirantes, famintos e maltrapilhos que continuavam na cidade, desde a grande seca de 1915. Mas que nenhum caso de moléstia contagiosa havia sido verificado na cidade.

Com relação a limpeza pública, informou que continuava a ser feita através de um contrato em concorrência pública. Se não faziam um trabalho perfeito, como era de se esperar, avaliava como satisfatória as condições higiênicas da cidade.

A iluminação pública, que até então era feita pelo antigo sistema de lampiões a querosene, e que não satisfazia as exigências da cidade, cada dia mais populosa e mais frequentada, com uma vida comercial bastante desenvolvida, foi substituída por iluminação elétrica, contratada com a empresa Força, Luz e Melhoramento de Mossoró.

Foi implantado no período um novo plano diretor da cidade, e que para isso foi necessário desapropriar cerca de cem casas velhas e condenadas para dar lugar as novas avenidas. Era o preço a ser pago pelo progresso da cidade.

Todas as estradas do município foram bem conservadas, principalmente o trecho que se dirige de São Sebastião (hoje Governador Dix-sept Rosado) a Caraúbas.

Foram também reconstruídos diversos moinhos e construídos outros que fornecem água para diversos bairros da cidade a as fontes já existentes foram convenientemente conservadas.

Durante a seca de 1915 cerca de oito mil retirantes invadiram Mossoró, famintos e andrajosos que de porte em porta invocavam a caridade particular. Sem condição de atender a toda essa gente, solicitamos ajuda as cidades maiores e ao Governo Federal. As prefeituras do Rio de Janeiro e de Porto Alegre remeteram diversos volumes de cereais, e cerca de vinte contos de réis, que foram distribuídos com os flagelados em paga de serviços feitos nesta cidade, de saneamento, de aterramento de ruas e praças e de canalização de águas. O Governo Federal também enviou vinte contos de réis, que foram entregues a uma comissão nomeada pelo governo do Estado, da qual fez parte a Presidência da Intendência. Esses recursos foram empregados também em obras públicas. Posteriormente enviou mais quinze contos de réis para repatriamento dos flagelados e o governo do Estado mais um conto de réis para compra de sementes a serem distribuídas para plantação.

Cunha da Mota era um entusiasta do automobilismo e nesse setor foi um verdadeiro pioneiro. Em 1918 conseguiu fazer a primeira grande viagem de automóvel de penetração interiorana, quando na época as estradas só permitiam o trânsito de comboios e carros de boi. Tendo saído de Mossoró no dia 26 de outubro, após pernoites e descansos, chegou a Souza, na Paraíba, no dia 29, percorrendo assim 300 quilômetros.

Em 19 de março de 1915 foi inaugurado solenemente o trecho da estrada de ferro de Mossoró, ligando Mossoró ao Porto Franco, nas proximidades da Cidade de Grossos. Era o início do sonho da estrada de ferro de Mossoró que levaria mais trinta anos para chegar a Souza, na Paraíba.

Em linhas gerais, assim se apresentava Mossoró em 1917. Uma cidade em crescimento, um importante centro comercial, com influência não só no Oeste potiguar, mas também em parte da Paraíba e do Ceará. E Cunha da Mota, em seu período administrativo, muito contribuiu para esse crescimento.

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