Como enfrentar as vicissitudes da vida

É consenso que nesta existência teremos aflições. Não tem como fugir das lutas e aflições, porque estas são inerentes a este plano, fazem parte do cotidiano e do ambiente ao qual estamos inseridos. Os aperreios da vida são cíclicos e queiramos ou não eles nos acompanharão, em menor ou maior grau, em toda essa nossa existência aqui neste planeta. Este breve texto tem o objetivo de discutir algumas formas de enfrentar o inevitável, digamos assim, discutir um mecanismo de apagar por assim dizer a luz das preocupações com as vicissitudes.

O escritor Hermógenes, respeitado e com uma obra de vários livros escritos, fez um relato sobre as vicissitudes que vez ou outra todas as pessoas são envoltas de surpresa neste plano terreno. Ele descreve a luta incansável de um banhista que inadvertidamente saiu nadando e se afastou um pouco da praia sendo puxado para o fundo do mar pelas correntes de retorno. Gostaríamos de usar a ilustração do mestre Hermógenes nestas poucas linhas a seguir.

Um certo homem foi puxado pela correnteza para o fundo do mar, ao qual impotente diante da força das águas tentou desesperadamente nadar de volta para a praia sem força suficiente para tal. Este, de repente, teve a ideia de parar de lutar contra a força da maré (correntes ou águas de retorno), e deixar-se levar para o fundo do mar, apenas mantendo-se flutuando, sobrevivendo. A percepção rápida de que lutar ingloriamente contra águas bem mais fortes do que ele foi a forma de sobreviver a este infortúnio e imprevisto. Sem pânico, viu a praia ficar longe, mas não a sua fé, mas não seu equilíbrio emocional. Lá adiante, as correntes, mudaram de direção, reaproximando-o da terra e, ele, com sabedoria, aproveitou e salvou-se.

Essa narrativa do autor é uma imagem dos enfrentamentos do cotidiano. Curiosamente, algumas pessoas não sabem lidar sequer com um riscado que aparece na traseira ou na lateral do seu veículo. Nesta existência invariavelmente seremos envolvidos de surpresa por circunstâncias acima de nossa vontade, mais fortes do que nós mesmos, que nos levarão não para o fundo do mar, mas para o fundo da ansiedade, depressão, ódio, desespero, angústia, insônia, desesperança etc.

Através desta metáfora do homem que desistiu de lutar contra as correntes marítimas que o puxavam para onde ele não queria ir (fundo do mar), e que ele toma a decisão de se deixar levar pela força das águas mas nadando por sobre elas, já que sua luta contra a força das águas era inglória, nos remete para as vicissitudes da vida. Será se o nobre e paciente leitor não está nadando contra as correntezas mentais daquilo que o leva à ansiedade e/ou à depressão? Não lute, deixe-se levar pelas águas, apenas flutue, que logo mais o mar ficará brando e você ficará salvo.

Dedicar esforços acima daquilo que humanamente podemos fazer contra as contrariedades da vida, desculpem pela redundância, é uma luta inglória! Paremos de nadar contra as fortes correntes daquilo que não podemos mudar ou antecipar a solução no espaço e nem no tempo. Isto

causará o nosso afogamento no mar de ansiedades, depressões e dores infindáveis. Lutar contra algo mais forte do que nós sugará nossas energias e seremos afogados. Quando algo mais forte está contra nós, devemos usar de sabedoria e buscar manter a lucidez, a sobriedade, a racionalidade, e buscar sim ajuda psicológica e também de Deus em oração principalmente. Não sinta preconceito em buscar ajuda e conversar com um psiquiatra e/ou psicólogo, ou mesmo buscar o Médico dos médicos.

A pandemia do novo Coronavírus é uma correnteza bem mais forte do que nós. Ela poderá nos arrastar até onde não queremos, para a depressão econômica, por exemplo. Mas, a moral da história deve ser nosso norte, não se afogue nadando contra a correnteza que é mais forte que você. Não esgote suas forças ou emoções empenhando-se contra aquilo que você não pode mudar, ou antecipar a solução. Faça o que está ao seu alcance, apenas flutue! Mantenha a lucidez pairando sobre as águas que logo em breve, quando menos imaginarmos, tudo passará porque nessa vida tudo passa, e seremos transportados para águas rasas e tranquilas, bem longe de onde fomos puxados contra a nossa vontade.

Embora nós seres humanos sejamos cheios de limitações e falhas, Deus perdoa nossas falhas e mesmo sem que mereçamos, Cristo sempre estará ao nosso lado para evitar que o pior nos sobrevenha, não permitindo jamais que pereçamos afogados no mar da desesperança. Evidentemente que nossa decisão certa nunca será deixar de lutar, mas estrategicamente se deixar levar quando as forças contrárias forem bem maiores que nossa capacidade de reação, conscientes de que existe um Ser Supremo que está no controle de nossas vidas se nós assim crermos. E de algo fundamental jamais devemos nos esquecer, nesse contexto, que profissionais como psicólogos e psiquiatras existem para ajudar as pessoas a se deixarem levar pelas correntes de retorno e apontar que é possível voltar para a terra firme.

Auris Martins de Oliveira Segundo é aluno do Curso de Medicina da Universidade Federal do Cariri – UFCA.

Auris Martins de Oliveira é Professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.

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