Com petróleo em queda, países do Golfo se mobilizam para virarem potências de hidrogênio verde

Depois de terem se beneficiado durante décadas dos combustíveis fósseis, as monarquias árabes do Golfo olham agora para o hidrogênio verde com a ambição de diversificar as suas economias e, ao mesmo tempo, concretizar a sua vontade declarada de combater as mudanças climáticas. No fim do ano, a 28ª Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas (COP28) ocorrerá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e também o Sultanato de Omã estão investindo em massa neste combustível que parece resolver muitos desafios: pouco poluente e com potenciais de usos diversos, o hidrogênio verde é uma opção que deve se tornar rapidamente lucrativa e ecologicamente correta.

Face à queda nas receitas do petróleo nos últimos anos, “os Estados do Golfo querem assumir a liderança no mercado global de hidrogênio”, disse à AFP Karim Elgendy, pesquisador do think tank britânico Chatham House. “Eles veem o hidrogênio verde como essencial para se sustentarem como grandes potências energéticas e para manterem sua influência, à medida que a demanda por combustíveis fósseis diminui”, observa ele.

Atualmente representando menos de 1% da produção total de hidrogênio, o chamado hidrogênio ‘verde’ – feito com fontes de energia renováveis – ainda não é comercialmente viável e seu desenvolvimento pode levar vários anos. Ao contrário do hidrogênio produzido a partir de combustíveis fósseis poluentes, o hidrogênio verde é obtido da água usando energias como o vento, o sol e a hidroeletricidade.

Enquanto os combustíveis fósseis emitem gases de efeito estufa nocivos quando queimados, o hidrogênio verde emite apenas vapor de água. O seu uso é recomendado, a longo prazo, em indústrias altamente poluentes como os transporte, a navegação e a siderurgia.

Atualmente, 99% do hidrogênio industrial do mundo é “cinza”, proveniente do gás metano em instalações petroquímicas, operação que libera na atmosfera gases de efeito estufa, como o CO2, e contribui para o aquecimento global.

Projetos megalomaníacos

Maior exportadora de petróleo bruto do mundo, a Arábia Saudita está construindo a maior usina de hidrogênio verde do mundo em Neom, a megacidade futurista em construção no Mar Vermelho. No valor de US$ 8,4 bilhões, a usina integrará energia solar e eólica para produzir até 600 toneladas de hidrogênio verde por dia até o final de 2026, disseram as autoridades locais.

Sede da única usina nuclear do mundo árabe, os Emirados Árabes Unidos, que sediarão a conferência climática da ONU COP28 no final de novembro, aprovaram em julho uma estratégia de hidrogênio com o objetivo de tornar o país um dos dez maiores produtores mundiais até 2031.

“O hidrogênio será um combustível essencial para a transição energética”, ressaltou à AFP Hanan Balalaa, gerente da gigante petrolífera dos Emirados ADNOC. “Os Emirados estão bem posicionados para tirar proveito disso.”

Mas é Omã, muito atrás de seus vizinhos em combustíveis fósseis, que caminha para se tornar o sexto maior exportador do mundo e o primeiro do Oriente Médio até o final da década, estimou a International Energy (IEA) em relatório publicado em junho.

O sultanato pretende produzir pelo menos um milhão de toneladas de hidrogênio verde por ano até 2030 e até 8,5 milhões de toneladas por ano até 2050, “o que excederia a demanda total de hidrogênio na Europa hoje”, segundo a AIE.

Conforme a consultoria Deloitte, os países do Oriente Médio, com o Golfo na liderança, vão dominar esse mercado no curto prazo. E mesmo que, até 2050, o Norte da África e a Austrália tenham o maior potencial, os países do Golfo continuarão sendo os “líderes exportadores”.

Desenvolvendo hidrocarbonetos

O hidrogênio verde, no entanto, não freou o desenvolvimento das indústrias de hidrocarboneto da Arábia Saudita e dos Emirados. De acordo com especialistas, ainda levará anos até que os países do Golfo possam produzir hidrogênio verde de forma lucrativa.

“Os países do Golfo se esforçarão para maximizar as vendas de hidrocarbonetos pelo maior tempo possível”, disse Aisha Al-Sarihi, do Instituto do Oriente Médio da Universidade de Cingapura. “Serão necessários anos de tentativa e erro para que o hidrogênio verde se torne um produto comercial”, explicou à AFP este especialista, que vê o potencial “combustível do futuro” quando a tecnologia amadurecer e com custos mais baixos.

O ex-ministro de Mudanças Climáticas dos Emirados, Abdullah Al-Nuaimi, declarou à AFP que “as infraestruturas existentes para o transporte de hidrogênio não são adequadas e exigirão investimentos em massa”. Para ele, superar os desafios do hidrogênio ainda levará “muito tempo”.

Com informações da AFP

Deixe um comentário