Coluna Gabriela Soares: Pressão Estética (ou mais uma forma de violência) sobre os corpos femininos

 

Antes de começar a falar sobre o foco principal deste texto, quero sinalizar que não inconscientemente vinha me questionando muito sobre o assunto e já tinha decidido escrever sobre os corpos femininos e como a sociedade nos impõe um padrão único de beleza, de saúde e, principalmente, de aceitabilidade.

Pois bem. Na última semana, no ensaio da Escola de Samba carioca, Grande Rio, a rainha de bateria apareceu esbanjando simpatia, beleza e felicidade. Junto com o samba no pé, esses deveriam ter sido os principais destaques daquele momento, mas não foram. Logo após postar as imagens de sua performance na quadra da escola, a então Rainha de Bateria foi bombardeada com comentários violentos em suas redes sociais, que a classificavam a partir do seu peso, da sua idade e das marcas em seu corpo.

Obviamente, essa não é uma novidade, considerando a sociedade machista, que se apodera dos corpos das mulheres e as enquadra em caixas muito bem definidas a depender da funcionalidade que precise ser “executada”. O que de fato chama a atenção é que a mulher em questão é a atriz Paola Oliveira. Em 2021, uma “premiação” de uma revista direcionada ao público masculino a elegeu como a mulher mais sexy do mundo; isso mesmo, apenas dois anos atrás. Agora, em 2023, o mesmo público, essencialmente masculino, a posicionou como uma mulher que tem características que não representam uma Rainha de Bateira.

 

 

Paola apareceu sem cinta, sem meia-calça, com roupas que deixavam a mostra não só suas pernas, mas suas celulites e outras marcas que vieram com os seus 41 anos de vida. Entretanto, o que de fato incomoda? As marcas e o corpo “imperfeito” ou a liberdade de não mais precisar ou desejar esconder que é uma mulher comum?

Acima falei sobre caixas que onde os corpos femininos são enquadrados e me parece muito fácil pensar: será que se, ao lado do seu namorado, Paola aparecesse com o mesmo corpo, mas mãe de uma criança pequena, com outras demandas, ela seria alvo dos mesmos comentários violentos? Penso que não. Certamente haveriam ponderações do tipo “ah, mas ela passou por uma gestação”; “ela ainda está retornando à sua forma depois da gravidez”; ou coisas do tipo. É como se algo sempre ditasse qual corpo deve ser adequado a que tipo de mulher e ao papel que ela ocupa na sociedade – considerando sua idade e sua cor/raça.

E aí me surge mais um questionamento: Paola é uma mulher branca que decidiu não mais se prender em uma necessidade que não é criada por nós mulheres. Pertencer a um padrão é uma demanda que nos é imposta desde antes do nascimento. Mas, repito, Paola é uma mulher branca.

Outra mulher, dessa vez uma mulher negra, Jojo Todynho, que recentemente se submeteu a uma cirurgia bariátrica, também foi alvo de críticas relacionadas ao seu peso e sua decisão de mudar e expor sua mudança. Conhecida pelo humor ácido e posicionamentos marcantes, Jojo decidiu realizar o procedimento por uma necessidade de saúde e pelo desejo de se tornar mãe. Seu peso sempre foi parte daquilo que as pessoas atribuíam como característica principal para o seu sucesso e, pasmem, para a definição da sua personalidade. Agora, com -30kg na balança e mais saudável e feliz, ela recebe críticas de “fãs” que afirmam que ela perderá a graça.

Tanto Paola quando Jojo nos fazem saltar aos olhos a principal característica da dominação masculina: a posse sobre os corpos das mulheres. Um poder que domina as mentes e coloca sobre as mulheres a maior das questões: a impossibilidade de ser. Quando mulheres como Paola e Jojo ousam ser – livres, felizes, independentes, elas questionam a estrutura, mas nos fazem também pensar: eu quero e eu posso ser.

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