Coluna de Maria Carmem: Neuroconversa sobre discalculia

Continuando nossa série, Quinteto DisTD – aprendizagem prejudicada, estas emana a neuropsicopedagoga Maria Carmem dá sequência com a temática.

Discalculia.

Olá, Aprendentes de meu coração

Pedro quanto é 3 + 8?

– Não sei professora.

E 3 x 8, quanto é?

– Também não sei professora! Eu não entendo esses números, eles não se

misturam, não sei por que estão em todo canto, não entendo isso!

É nesse viés de angústia, desestímulo e perturbação cognitiva que se encontra

um aprendente discalcúlico, mas calma, nem tudo é Discalculia!

Só para começarmos a entender é necessário saber que pesquisa como o PISA

(2018) revela que 68,1% dos estudantes brasileiros, com 15 anos de idade, não possuem nível básico de Matemática, considerado como o mínimo para o exercício pleno da cidadania e se comparado a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil apresenta resultados ainda piores alcançando uma média de 384 pontos, quando a média geral da OCDE é 489.

Nesse contexto podemos reforçar a percepção que não é toda dificuldade em matemática que pode se caracterizar como uma Discalculia. Esse transtorno é um distúrbio neurológico no qual o aprendente tem dificuldades de avaliar, pensar, refletir ou raciocinar qualquer atividade ligada a operações matemáticas.

Em média 3% a 6% da população mundial é afetada pela Discalculia e apesar de especialistas ainda não conseguirem determinar as causas desse transtorno estudos revelam forte influência genética. Assim, apesar de ser uma desordem neurológica que compromete a aprendizagem, podemos afirmar que também prejudica outros aspectos na vida do aprendente como a autoestima, por exemplo.

É pertinente ressaltar que identificar a Discalculia é difícil, pois os sintomas podem variar bastante e acabam muitas vezes sendo confundidos com outros distúrbios neurológicos. Por isso, de forma geral a investigação e identificação é feita por meio da observação de dificuldades de aprendizado, tais como:

Dificuldades para aprender a contar;

Problemas para resolver e executar cálculos;

Não compreender medidas;

Não diferenciar símbolos matemáticos;

Não memorizar os passos necessários para a solução de uma operação matemática;

Não desenvolver um raciocínio logico.

Nesse ínterim, podemos dizer que a Discalculia é caracterizada pela dificuldade apresentada por uma pessoa na realização de atividades aritméticas básicas, tais como: quantificação, numeração ou cálculo aritmético.

De acordo com Bernardi (2014), Discalculia não é uma doença, nem necessariamente uma condição crônica. É um transtorno de aprendizagem específico da Matemática, caracterizado pela dificuldade no processo de aprendizagem do cálculo e que pode ser observado, em pessoas com inteligência normal, sem justificativas por deficiências sensoriais ou falta de acesso ao ensino adequado, mas que cometem erros diversos na solução de problemas verbais, nas habilidades de contagem, nas habilidades computacionais e na compreensão dos números.

É importante saber que a Discalculia pode ocorrer em comorbidade com outros transtornos, principalmente o transtorno de Défict de Atenção/Hiperatividade(TDAH) e a Dislexia.

É fato que diversas habilidades podem ser prejudicadas pelo transtorno, como: habilidades linguísticas (compreensão e nomeação de termos, operações ou conceitos matemáticos); perceptuais (reconhecimento de símbolos numéricos ou aritméticos, ou agrupamento de objetos em conjuntos); de atenção (copiar números ou cifras, observar sinais de operação); e matemáticos (dar sequência a etapas matemáticas, contar objetos e aprender tabuadas de multiplicação). (Bernardi,2014).

Os pesquisadores Johnson e Myklebust baseiam os estudos acerca da

Discalculia em seis classificações, sendo:

•Discalculia Verbal: nomear as quantidades matemáticas, os números,

os termos, os símbolos e as relações;

•Discalculia Practognóstica: tornar práticos conceitos matemáticos

teóricos, por exemplo, trabalhar equações;

•Discalculia Léxica: na leitura de símbolos matemáticos

•Discalculia Gráfica: na escrita de símbolos matemáticos;

•Discalculia Ideognóstica: fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos;

•Discalculia Operacional: na execução de operações e cálculos numéricos.

Bernardi (2014) elenca algumas dificuldades que a criança com Discalculia pode apresentar, vejamos:

• Visualizar conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior;

• Conservar a quantidade, o que impede de compreender que um quilo é

igual a quatro pacotes de 250 gramas;

• Perceber a significação dos sinais de adição (+) e subtração (-), de multiplicação (x) e divisão (÷) e de igualdade (=);

• Sequenciar números ( não identifica sucessor e antecessor);

• Classificar números;

• Montar operações;

• Entender os princípios de medida,

• Lembrar a sequência dos passos para realizar as operações matemáticas;

• Aprender sistemas cardinais e ordinais;

• Contar em ordem decrescente;

• Estabelecer correspondência um a um, por exemplo, não relaciona o número de alunos de uma sala à quantidade de carteiras;

• Problemas para diferenciar o esquerdo e o direito;

• Saber a hora em relógio analógico;

• Falta de senso de direção (norte, sul, leste e oeste).

Se bem observado os sintomas de dificuldade na matemática podem ser

percebidos, muitas vezes, ainda na Educação Infantil, quando uma criança não

consegue distinguir, por exemplo, qual o antecessor ou sucessor de um

determinado número. Entretanto, raramente a Discalculia é diagnosticada antes do

final do terceiro ano dos anos iniciais do ensino fundamental, isso devido a

necessidade de observação, avaliação e análise. Ainda assim, podemos destacar

alguns processos cognitivos envolvidos na Discalculia que condicionam para um

olhar mais assertivo:

•Dificuldade na memória de trabalho e em tarefas não verbais;

•Dificuldade na soletração de não palavras;

•Dificuldade na memória de trabalho que implica contagem,

•Dificuldade nas habilidades visuoespaciais;

•Dificuldade nas habilidades psicomotoras e perceptivo-táteis.

Outro ponto a ser considerado é a ciência de que o diagnóstico deve ser efetuado por uma equipe multidisciplinar – docentes especializados, médicos,psicólogos, neuropsicopedagogos e fonoaudiólogos – para um encaminhamento correto, de modo a evitar o insucesso escolar do aluno. Sempre considerando que a participação da família é fundamental no reconhecimento dos sinais de dificuldades.

Cabe ressaltar que o discalcúlico pode frequentar normalmente a escola e tem condições de desenvolvimento, para isso é necessário o uso de recursos didáticos para incluí-lo nas atividades. O professor para auxiliar o aprendente discalcúlico pode permitir que ele use a calculadora e a tabuada, utilizar folhas quadriculadas, elaborar provas claras e com tempo maior para a realização,incentivar a visualização dos problemas com desenhos, dentre outros recursos e metodologias.

E para não concluirmos, abraços pedagógicos e até a próxima!

 

Por Maria Carmem

Dra da Aprendizagem

@carmem.neuro.psicopedagoga

(84) 996095957

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