Clauder Arcanjo – Ou agora ou nunca

Quero o azul inalcançável pelos pragmáticos, o telúrico azul que nasce das águas extraídas das fendas mais inacessíveis, coado dos prismas inimagináveis, desenterrados das botijas que espantam os medíocres de luz. Ou agora ou nunca.

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Sonho com as algaravias dos celerados, pendurados nos galhos líricos do alvorecer, à procura da última estrela da manhã. Estrela que propagará a ventura aos avarentos, seres que roem os ossos do próprio vento, por não saberem colher a carne que brota do fausto acolhimento. Ou agora ou nunca.

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Defendo a tibieza dos últimos poetas; eles que, por não saberem castrar a voz dos que sofrem, traduzem-nas em versos de espanto e invento. Em estrofes que colorem a noite longa e escura, a derramarem um naco de paz no estômago ulcerado pela dor, na forma do verbo ao tempo que unguento. Ou agora ou nunca.

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Juro que não quero o ouro das casas miseráveis, incrustadas de cofres repletos de cordões de brilho falso. Pois o verdadeiro brilho reside no tempo que zune lá fora, coroado pelo cordão da undécima hora, a convocar gregos, nordestinos e troianos para o enterro da última coroa. Coroa da dinastia da fera que se nutre da fome dos humildes e da omissão dos apaniguados. Ou agora ou nunca.

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Sonho que estas minhas palavras promovam, ao menos, poeira no quintal do mundo, roubando um minuto de atenção de todos. Alguns, tocados e ungidos, lançarão as suas redes nas correntezas dos rios de outros lugares, ao tempo em que dormirão novas ilusões. Outros, intocáveis e punidos, haverão de, ao menos, sentir a trave da minha palavra enfiada nos olhos dos seus pensamentos. Ou agora ou nunca.

Clauder Arcanjo – [email protected]