Clauder Arcanjo: À PROCURA

À procura

 

Clauder Arcanjo

 

Entrou na sala e foi indagando ao velho:

— O senhor viu, vô Raimundo?

O homem limpou os olhos, já atacados pela catarata, e emendou:

— O quê, Francisco?

— Deixa pra lá! — E, sem paciência, meteu os pés em direção ao muro. Lá, encontrou a tia Netinha esticando roupa no varal.

— E a senhora, titia, viu ou não? Se não, me diga sem perda de tempo. Tenho pressa.

A boa senhora, a sofrer com a inflamação nos joanetes, interrompeu o serviço e perguntou:

— Vi nada, não. Eu nunca saio de casa, passo os dias no tanque, ninguém liga para mim…

O jovem percebeu que ela de nada sabia, e cortou o caminho para a calçada. Mal rompeu o umbral da porta, deparou-se com a avó Nana; sentada na cadeira de balanço, a mordiscar saudade, a mexer com o vazio das horas, por entre os dedos murchos.

— E a senhora, vó Nana?

— Não vi; e tenho a lhe dizer algo, meu neto, aquilo que se procura, com afobação e embaraço, some na frente das ventas da gente e não deixa sinal nem rastro.

Afoito, pediu-lhe a bênção e, em seguida, sumiu no rumo da Praça do Poeta.

Cansado e aflito, percebeu que aquela procura não lhe seria fácil. Cabisbaixo, Francisco matutou desgostos. Refez, na mente, todo o caminho que percorrera, as pistas que, supostamente, se lhe apresentaram, as pessoas que interrogara.

— Ah, meu Deus!

Ao levantar o rosto, ele deu pela presença de Pelô ao seu lado. Sentara-se no banco da praça, em frente ao monumento em honra ao poeta Padre Antônio Tomás. Sem perceber, entretido com sua busca, ele não notara a chegada do mendigo de Licânia.

— E você, Pelô, viu?

O pedinte mascou um silêncio esquisito. Com pouco, em tom baixinho, disse:

— Eu… vi.

 

& & &

 

No meio da madrugada, Francisco e Pelô entraram por entre a mataria nas ribanceiras do rio Acaraú, em passos medidos, calados, os olhos abertos, as oiças aguçadas. Ao chegarem no Rio do Meio, embaixo de uma ingazeira, escutaram uma voz soturna:

— A coisa que era coisa agora é só sumiço. Voltem e se esqueçam do que viram.

— Mas não vi nada! — Francisco quis argumentar.

Pelô segurou-lhe o braço, como a conter aquele despautério, e o conduziu de volta a Licânia.

A cidade, mergulhada numa neblina incomum, recebeu-os.

O bêbado Batista, que sempre defendera a existência de extraterrestres nos arredores da província, foi depressa interpelando-os:

— Vocês viram?

E os dois, como se não houvessem realizado nenhuma procura, sumiram por entre a neblina.

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