Caro Amigo

Domício Arruda


Me perdoe, por favor.

O cliente tem sempre razão. Quanto mais, um velho companheiro.

Nós, da área médica, aprendemos desde cedo.

Aquela queixa do paciente, a que não se valoriza, pode ser o fio da meada, a chave que trará luz ao caso e ao diagnóstico.

Aprendiz de cronista do cotidiano, tenho vivido isto.

E aprendido.

Um amigo, um leitor, quem faz um reparo, dá uma opinião, tem sempre uma resposta.

Uma explicação.

Nem sempre as coisas são como se parecem.

A distância também distorce a realidade.

Deve ter acontecido isso conosco.

Imagino você aí, aposentado, tomando o ar salitroso na beira da praia.  Mesmo paulista, rs…

Por aqui, ainda na luta. De leve. A turma criada, permite.

Não mudamos.

Continuamos os mesmos. E nossas circunstâncias.

Eu e você.

Somos aqueles do curso ginasial. Do científico. Os mesmos da universidade, em faculdades tão semelhantes.

Depois, a família, vida profissional.

Erros, acertos, escolhas, desilusões.

Mudam as aparências. Somos os mesmos.

Foi uma pena, lamento sua reação ao que escrevi sobre o momento político conturbado que passamos.

Outros seguidores da rede social acharam até um tanto agressivo seu comentário às Astúcias do Capitão.

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Entendo.

As paixões políticas fogem  do controle.

As eleições passam, antigos adversários se reencontram, às vezes tornam-se correligionários mas as fraturas familiares quando não terminam em amputações, viram pseudo-artroses.

Espero que na sua, não tenha chegado a este ponto.

Um voto, por mais declarado, não pode separar um pai de um filho.

Infelizmente,  até quem se arrependeu ainda cumpre pena, sem clemência.

Tinha tido notícias suas, raras, bem verdade.

Pensava até que você continuasse esquerdista como quase todos éramos, sob as bençãos do Irmão Francisco.

Amigo,  sem contar  em quem se votou, política à parte,  não é nojento, não torna  imbecil, quem discorda de como o presidente da república tem se comportado no momento atual.

Não é motivo para náuseas.

Antes que você vomite ou tenha uma ressaca daquelas, explico minha posição.

O que temos visto é uma crise política atrás da outra. Sem tréguas.

O momento é de união, encontro de forças para enfrentarmos a maior ameaça à sobrevivência da humanidade.

Parece que vivemos num filme de ficção. Ou terror.

Equívocos todos cometem. Outros dirigentes pelo mundo afora, tiveram pontos de vistas conflitantes mas recuaram diante das evidências.

A democracia não é assim, todos aceitando a vontade da maioria?

Por favor, não me veja como mais um isentão.

As pessoas têm que manter coerência.

Tenho até uma proposta que enriquecida por outros, seria uma saída para mais esta  séria crise institucional por que passamos.

Solução republicana, constitucional, sem traumas, conciliadora.

Enquanto perdurarem os efeitos do coronavírus, o presidente se afasta, voluntariamente, do cargo.

Por seis meses.

Um bom prazo para um  noivado.

Depois, renovamos as promessas do casamento.

Até lá, as coisas se clareiam, ele terá tempo para responder todas essas dúvidas que aparecem e depois, de cabeça fria, retomar o comando.

Você não acha que já é hora de convocar o Mourão?

PT  Saudações.

Território Livre – TN

Domício Arruda é médico e jornalista

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