Bolsonaro faz discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU em reta final de campanha

Na reta final da campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro faz discurso na abertura oficial da Assembleia Geral da ONU em Nova York. Diante de audiência internacional, Bolsonaro deve repetir nesta terça-feira (20) a fórmula dos anos anteriores e tentar rebater críticas em relação à política ambiental e à corrupção. Bolsonaro chegou na noite de segunda-feira em Nova York e deve ficar apenas 24 horas nos Estados Unidos.

Luiza Duarte, correspondente da RFI em Nova York

A Guerra da Ucrânia é o tema dominante, já que é a primeira vez que a  Assembleia acontece desde o início do conflito. A crise energética europeia, o aumento do custo de vida, a insegurança alimentar no mundo, o combate à pandemia e o clima também devem ser pontos fortes.

O Brasil faz tradicionalmente o discurso de abertura do evento. Desde 2019, Bolsonaro usou o palanque da organização para fazer alegações falsas sobre a preservação ambiental e a produção agrícola e pode repetir a fórmula a duas semanas do primeiro turno das eleições presidenciais.

Retomada da atividade diplomática e manifestações

Esse ano, cerca de 130 chefes de estado e de governo participam do evento. Para a maior parte dos delegados, 2022 é o grande retorno da participação presencial na sede da ONU, desde que a pandemia tornou virtual boa parte das intervenções, reduzindo drasticamente o número de pessoas que se reuniam em Nova York. A cidade vive a retomada da atividade diplomática com apertos de mão, almoços e recepções, com ONGs, think tanks e as agências da ONU organizando uma série de eventos paralelos, como não se via há dois anos.

No domingo (18), como parte da Semana do Clima de Nova York (NY Climate Week), uma ação organizada pela Articulação dos povos indígenas do Brasil (Apib) e pelo Greenpeace iluminou um prédio com fotos e frases em defesa da floresta e dos povos indígenas, entre elas os rostos de Bruno Pereira e Dom Philips, assassinados na Amazônia há 3 meses.

O debate geral da ONU acontece sob a sombra do funeral da Rainha Elizabeth II, realizado um dia antes e que reuniu diversas lideranças mundiais em Londres. A Assembleia Geral deste ano será marcada por três grandes ausências: o presidente chinês, Xi Jinping, o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy. Eles vão discursar de forma virtual.

Brasil isolado

Os anos Bolsonaro marcaram o aprofundamento do isolamento do Brasil e a perda de influência na arena internacional, dentro e fora da ONU. Na organização, brasileiros continuam sub-representados e ocupam 0,8% dos postos, de acordo com dados do último ano.

O país também se afastou de posições tradicionais de sua diplomacia. Tentou impedir a aprovação de textos que garantem direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, reforçou alianças com governos ultraconservadores e se indispôs com nações com quem historicamente mantinha boas relações, como a França.

Mesmo com o atraso na compra de vacinas, restrições de exportação e com o segundo maior número de mortos pela Covid-19, o país se opôs à quebra de patentes de insumos contra a doença, o que abriria portas para a autossuficiência na produção de imunizantes.

Há dois anos, o Brasil apareceu na lista dos países onde há preocupações com os direitos humanos em discurso da então Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet.

Bolsonaro ao longo de suas quase três décadas de vida pública já fez diversas críticas à ONU, chegando a chamar a organização internacional de “local de reunião de comunistas”.

Dívida com a ONU

Durante seu mandato, o governo não conseguiu quitar a dívida com a organização internacional e reduziu a contribuição brasileira ao orçamento da ONU. De 2016 a 2018, o país participou com 3.823% do orçamento e vai participar com 2.013% entre 2022 e 2024.

Em janeiro, antes de assumir assento como membro não permanente do Conselho de Segurança, o Brasil pagou cerca da metade da dívida acumulada de R$7,8 bilhões com organismos internacionais, destinando R$394,8 milhões à ONU, segundo informações da Folhapress.

Porém esse montante representa apenas uma parcela do valor devido. Em 2020, a dívida brasileira era de U$ 391 milhões, mais de R$ 2 bilhões, e a inadimplência gerou risco de suspensão do direito de voto. O Brasil não aparece na lista de contribuições para o orçamento regular da ONU deste ano que inclui valores pagos por 130 países.

Até a publicação deste texto, a ONU,o Itamaraty e o Ministério da Economia não haviam respondido sobre o valor exato da dívida do Brasil com a instituição atualmente.

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