Bolsonaro faz discurso a apoiadores em Londres e é alvo de protesto

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), desembarcou na manhã deste domingo (18) em Londres, onde participará do funeral da rainha Elizabeth II. Ele foi recebido por centenas de apoiadores, para quem discursou, mas também foi alvo do protesto de uma ONG de direitos humanos.

Daniella Franco, enviada especial da RFI a Londres

Bolsonaro desembarcou na capital britânica por volta das 9 horas da manhã pelo horário local (5h em Brasília). Logo depois, se dirigiu à residência do embaixador brasileiro em Londres. No local, dezenas de apoiadores já o aguardavam. Muitos outros chegaram logo depois, em uma mobilização previamente organizada através das redes sociais.

Da sacada da residência do embaixador, o presidente fez um discurso de cerca de cinco minutos em tom de campanha. Ele explicou que o motivo principal de sua vinda a Londres é o funeral da rainha, por quem expressou “profundo respeito”. Em seguida, afirmou que vai vencer as eleições presidenciais no primeiro turno, exaltou as belezas naturais do Brasil e elogiou o “maravilhoso” povo brasileiro.

Vestidos de verde e amarelo, seus apoiadores o ovacionaram. Durante as várias horas que passaram no local, os bolsonaristas cantaram o hino nacional, gritaram frases de apoio ao presidente, se manifestaram contra o ex-presidente e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e fizeram muitas críticas à imprensa. A polícia de Londres teve de proteger alguns jornalistas de certos manifestantes mais exaltados.

Leonardo (à esquerda), Alexandre (centro) e Sérgio (à direita), organizadores da mobilização de apoio ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, neste domingo (18), em Londres.
Leonardo (à esquerda), Alexandre (centro) e Sérgio (à direita), organizadores da mobilização de apoio ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, neste domingo (18), em Londres. © Daniella Franco/RFI

Desconfiança na imprensa

Não houve violência física, mas alguns militantes se recusaram a conversar com a reportagem da RFI, expressando sua desconfiança na imprensa. Outros participantes aceitaram responder a algumas perguntas, como as amigas Teresa, Rita e Tatiane, que se dizem grandes admiradoras do trabalho do presidente.

“Sabemos que o presidente não está aqui por um motivo feliz, mas nós viemos prestar homenagem a ele”, diz Rita. “Eu acredito nas pautas que ele defende e, com toda a esquerda contra ele, estamos aqui apoiando Bolsonaro”, frisou Tatiane.

As amigas Teresa (à esquerda), Rita (centro) e Tatiane (à direita) participaram da mobilização deste domingo (17) para apoiar o presidente Bolsonaro.
As amigas Teresa (à esquerda), Rita (centro) e Tatiane (à direita) participaram da mobilização deste domingo (17) para apoiar o presidente Bolsonaro. © Daniella Franco/RFI

O brasileiro Marcio viajou de Liverpool, no noroeste da Inglaterra, para participar da mobilização e “prestigiar o presidente”. Segundo ele, desde a volta da democracia no Brasil, em 1984, “não houve ninguém igual a ele”. “Não tem como não reconhecer o que ele faz pelo país”, ressalta.

Leonardo, Alexandre e Sérgio, três dos organizadores da mobilização, expressaram a felicidade de conseguir reunir centenas de manifestantes em um curto período de tempo. O evento foi organizado em apenas 24 horas. “Não é uma manifestação desrespeitosa à rainha, mas é uma chance única de podermos ver o presidente e apoiá-lo. Somos realmente contra a esquerda”, sublinhou Alexandre.

Marcio viajou de Liverpool, no noroeste da Inglaterra, a Londres para participar da manifestação em apoio ao presidente Bolsonaro.
Marcio viajou de Liverpool, no noroeste da Inglaterra, a Londres para participar da manifestação em apoio ao presidente Bolsonaro. © Daniella Franco/RFI

Protesto contra Bolsonaro

No local, também ocorreu uma manifestação da ONG de direitos humanos Brazil Matters, que exibiu cartazes com mensagens como “Bolsonaro é uma ameaça ao planeta e à humanidade” e “Parem Bolsonaro pelo futuro do planeta”. Os militantes, cerca de 10 pessoas, foram hostilizados pelos apoiadores do presidente e tiveram de ser protegidos por policiais.

Militantes da ONG de direitos humanos Brazil Matters tiveram de ser protegidos pela polícia.
Militantes da ONG de direitos humanos Brazil Matters tiveram de ser protegidos pela polícia. © Daniella Franco/RFI

Uma das porta-vozes da ONG, Ali Rocha, expressou sua incompreensão com as violências verbais das quais foi alvo. Segundo ela, a vinda de Bolsonaro a Londres não poderia passar despercebida. “Eles [apoiadores do presidente] tentam passar essa visão de que todos aqui apoiam Bolsonaro”, diz.

“O Bolsonaro é hoje a face global da extrema direita. Ele é o único líder que tem a capacidade de atrair essas pessoas que o idolatram, não dá para entender. Se ele vencer novamente [as eleições], a Amazônia não vai resistir” reitera.

Bolsonaro deixou a residência do embaixador no início da tarde, junto com a primeira-dama Michelle Bolsonaro, e com sua comitiva. Ele se dirigiu ao Westminster Hall, para prestar homenagem à rainha Elizabeth II e assinou o livro de condolências à monarca. Neste domingo, segundo a assessoria de imprensa do Planalto, ele ainda participa de uma recepção da família real britânica para todos os chefes de Estado e de Governo convidados.

Na segunda-feira (19) Bolsonaro estará presente no funeral da rainha Elizabeth II, marcado para as 11h pelo horário local (7h em Brasília).

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