Berilo de Castro “O rio como testemunha”

 

O RIO COMO TESTEMUNHA –

Não é o famoso e lendário velho Chico. É sim, o nosso velho, doce e querido rio Potengi.

Em meados da década de 1950, residia no bairro da Cidade Alta, em uma travessa da rua Padre Pinto de nome Pitimbu, casa de número 726, nas proximidades hoje, do Bar do Coelho, por trás da igreja do galo,—  a Santo Antônio.

A casa era um verdadeiro sítio, ocupava uma vasta extensão que chegava a atravessar todo o quarteirão. Muitos coqueiros, mangueiras, goiabeiras. Local que abrigava muito bem a nossa seleta  criação de  galos de raça e uma lindeza criação de  pombos. Fase boa da vida. Adolescência com todo vigor.

Reunia  um bom grupo de amigos dentro daquela região do centro da cidade. Lembro bem de Alexis Gurgel, Dedé Alecrim (até hoje Dedé), Fernandinho (o artista da família dos Ferreira), irmão de João Faustino; do radialista e político Carlos Alberto, Trigueiro, o primo Itamar e muitos outros não lembrados. Alguns já fizeram a viagem sem volta.

Tínhamos o costume de todas as tardes organizar e praticar o único e bom divertimento da época — a pelada de futebol; o local não era lá aquela beleza toda (ruim pra beça); ficava próximo à  linha do trem, bem em frente do famoso e badalado bar Briza Del Mare, na margem  do rio Potengi. Tinha uma atração muito típica e especial, a passagem do trem todos os finais da tarde com o seu alegre apito saudando os peladeiros. Era momento de parar e saudar alegremente os seus viajantes.

No final das pelejas éramos agraciados com um belo e gostoso banho de rio para refrescar o corpo e ativar a  resenha.

Uma outra opção para a prática esportiva, era o campo da Salgadeira (beira mar), que somente era usado nas marés secas. Tinha um chão bastante duro e firme, com a vantagem da inexistência de buracos e desníveis.

Outra saudável  lembrança me chega: a pesca do caranguejo uçá no manguezal do outro lado do rio;  nos períodos de grandes marés, eles deixavam suas  locas  e ficavam de bobeira facilitando a  pegação. A contragosto recebíamos uma tremenda surra dos mosquitos maruins. Tirávamos de letra. Coisa de jovem.

À noite, nos encontrávamos para o costumeiro e alegre  papo na Praça André de Albuquerque, que sempre tinha atrações e festejos: parque de diversão, retreta com a Banda de Música da Polícia Militar, festas promovidas pela Igreja de  Nossa da Apresentação — as novenas do mês de maio, a concorrida e conversadeira missa noturna dominical;  nunca faltava animação nem motivo para as nossas reuniões grupais.

Nos domingos pela manhã, logo cedo formávamos uma turma com os filhos de seu Isac (carpinteiro, construtor de primeira qualidade de  embarcações (botes) em seu estaleiro na margem do rio) e saíamos em seu barco a vela  para a praia da Redinha, voltando só no final da tarde; era só alegria e descontração!

Não perdíamos as concorrentes e bem disputadas  competições das travessias a nado(no braço) no rio Potengi, assim como as famosas e disputadas regadas no estuário do rio, com disputas superacirradas entre o Centro Náutico e o Sport Náutico. Belíssimas e empolgantes competições. Faltava chão para os assistentes nas encostas do rio.

Foi assim que atravessamos a nossa inesquecível e ainda hoje sonhadora adolescência, tendo o rio Potengi como uma  testemunha inolvidável.

“Vida da minha própria vida”.

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  [email protected]

Ponto de Vista

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