Berilo de Castro – Lembranças inesquecíveis

Desde criança, o futebol foi a minha primeira escolha, meu primeiro divertimento. O momento e o ambiente estimulavam e preenchiam muito bem o meu momento de lazer e entretenimento.

Era a década de 1950. Morava no bairro de Tirol, na rua Mossoró. Não existia ainda calçamento, motivo maior que despertava na garotada o desejo de disputas e embates do futebol (das famosas peladas).                           As bolas usadas, a princípio, eram feitas de panos; as chamadas bolas de meia.

Os duelos, os embates, eram realizados nas largas ruas do bairro, em cima de muita areia frouxa. As traves eram improvisadas com duas pedras, tijolos ou pedaços de paus.

Os times eram escolhidos no par ou ímpar. Lógico, o dono da bola já tinha o seu lugar assegurado, sempre era o pior da pelada, não soltava a bola debaixo do sovaco enquanto a partida não tivesse início.

Não tinha tempo para terminar; muitas vezes esquecíamos até a hora do jantar.

Não fazíamos questão da qualidade da bola, até porque não tínhamos que escolher: poderia ser de pano; de borracha; de couro? um sonho, uma alucinação. Nunca!

O grupo não perdia um jogo no Estádio Juvenal Lamartine; como não existia dinheiro para pagar o ingresso, assistíamos aos jogos acomodados nas mangueiras do sítio das freiras ou de cima do morro, com uma visão privilegiada, ainda saboreando gostosas frutas silvestres, como os camboins. Os times eram reconhecidos pelas colorações das suas camisas.

A aventura era tão inusitada e gostosa que mesmo recebendo o dinheiro para comprar os ingressos, preferíamos utilizá-lo na compra do bom e cheiroso cachorro-quente vendido na frente do Estádio.

Boas e aventureiras passagens da vida que se perpetuam e se fixam em nossa mente, tornando-as inesquecíveis e inapagáveis!

Vida da minha própria vida (Ataulfo Alves).

Berilo de Castro é médico e escritor

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