Aumenta pressão para que Boris Johnson deixe o governo por escândalo de festas durante lockdown

Os escândalos não param de se acumular na crise que envolve o governo do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Nesta sexta (14), o jornal The Telegraph revelou uma nova festa, regada a muito álcool, em Downing Street na véspera do funeral do príncipe Philip, quando os britânicos não podiam fazer reuniões em ambientes fechados.

Pela segunda vez na semana, o premiê pediu desculpas pelo comportamento, mas o arrependimento público não parece suficiente para acalmar os ânimos dos britânicos. Os pedidos para que Johnson renuncie ao cargo já não partem apenas de opositores, conservadores consideram que a postura do premiê é indefensável.

O primeiro-ministro, até agora, não parece disposto a pedir demissão. No entanto, há uma outra ameaça ao governo. Se 54 conservadores apresentarem votos de desconfiança em Boris Johnson, o premiê terá de deixar o cargo.

Como a crise começou
O primeiro-ministro britânico é acusado de ter participado de festas realizadas em Downing Street em períodos em que o Reino Unido estava sob severas restrições por conta da pandemia de Covid-19.

A primeira delas teria reunido cerca de cem pessoas em maio de 2020. Nesta época, os britânicos estavam proibidos por lei de se encontrarem com mais de uma pessoa além daquelas com quem moravam.

Na quarta-feira (12), o premiê reconheceu ter participado da festa a que ele, anteriormente, tinha se referido como sendo um evento de trabalho.

Diante do Parlamento, Boris Johnson lamentou o ocorrido: “Quero pedir desculpas. Sei da raiva do povo britânico quando pensam que as regras não são seguidas por aqueles que as estabelecem”.

De acordo com sua versão, ele planejava participar de uma reunião de trabalho no final do dia 20 de maio de 2020, mas descobriu que havia uma centena de funcionários convidados para o evento no jardim de Downing Street, em que cada pessoa podia levar sua própria bebida alcoólica.

O discurso de Johnson não foi convincente o suficiente, ainda mais por este ter sido apenas mais um entre os eventos que ele é suspeito de ter organizado em momentos de proibição.

No ano passado, seu antigo conselheiro, Dominic Cummings, havia acusado o premiê e sua esposa de organizarem uma festa em seu apartamento durante o segundo lockdown nacional, em 13 de novembro. Boris Johnson nega a realização desta festa.

No total, há a suspeita de que 12 festas tenham sido organizadas em Downing Street burlando as regras de restrição sanitária por conta da Covid-19, de acordo com o jornal conservador Evening Standard. A investigação das reuniões estão sendo feita pela funcionária pública Sue Gray, e seu relatório é esperado para as próximas semanas.

A reportagem do jornal The Daily Telegraph mostrando que duas festas aconteceram no principal endereço do governo britânico às vésperas do funeral do príncipe Philip inflamou ainda mais a crise.

Festa durante luto nacional
Enquanto os britânicos estavam proibidos de se reunir em ambientes fechados e o país vivia o luto nacional da morte do marido da rainha Elisabeth, uma festa em Downing Street regada a álcool e com música reuniu cerca de 40 pessoas.

A cena descrita pela reportagem é de escandaloso contraste com a imagem da rainha Elisabeth vestida de preto e sentada sozinha na capela de Saint-Georges de Windsor para o funeral de seu marido.

O gabinete do primeiro-ministro britânico Boris Johnson pediu desculpas à rainha nesta sexta-feira. “É profundamente lamentável que isto tenha acontecido em um momento de luto nacional e o 10 (Downing Street) pede desculpas ao palácio”, afirmou um porta-voz do líder conservador. O pedido de desculpas foi feito através dos canais oficiais.

Durante a semana, deputados trabalhistas, da oposição, já tinham pedido publicamente para que o premiê renuncie. Agora, são políticos conservadores que começam a fazer o mesmo movimento.

Até quando?
A imagem negativa de Boris Johnson começa a afetar o partido, que disputará eleições locais em maio de 2022 e, nas últimas pesquisas, percebe o peso da crise envolvendo o premiê.

O escocês Douglas Ross, um dos principais líderes do partido conservador, pediu a demissão de Boris Johnson. O pedido foi apoiado diversos deputados conservadores.

O inglês Roger Gale aumentou o tom: “Acredito que o momento chegou para o primeiro-ministro partir com a dignidade como sua escolha ou pela [regra] do comitê de 1922”, fazendo menção à possibilidade de votos de desconfiança tirarem o premiê.

Conforme a BBC, Andrew Bridgen apresentou sua carta de desconfiança ao comitê na noite de quinta-feira (13), denunciando “um vácuo moral no coração do governo”.

Não se sabe quantas cartas já chegaram ao comitê conservador, algumas mídias inglesas falam em três dezenas. São necessários 54 votos de desconfiança para que Johnson tenha que abandonar Downing Street.

O governo pede paciência para o fim das investigações de Sue Gray, que deve apresentar um relatório até o final do mês e, possivelmente, propor punições.

A crise britânica vai se alongar até as eleições de maio? Esta é uma questão importante no país, no entanto, a saída de Boris Johnson começa a ser dada como provável. Nos círculos políticos, a pergunta não é mais se ele vai sair, mas quando.

(Com informações de Benedicte Paviot, correspondente da France24 em Londres, de Emeline Vin, da RFI, e da AFP)

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