Atraso no aluguel faz Hospital São Camilo perder parte do prédio e fechar leitos

O Hospital Municipal São Camilo de Lellis, em Mossoró, terá a quantidade de leitos reduzida pela metade. Devido ao atraso de mais de um ano no pagamento do aluguel pela Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM), o proprietário do prédio onde funciona a unidade, pediu que o espaço seja desocupado. No entanto, após negociação, foi decidido que apenas parte da estrutura hospitalar será desativada.

O psiquiatra Joel Borba conta que, há três anos, o Hospital contava com 160 leitos, mas hoje possui apenas 100, que devem ainda ser reduzidos para 80 leitos, conforme discutido em reunião com a equipe da unidade na semana passada. O psiquiatra ressalta que essa diminuição impacta diretamente sobre a população não só de Mossoró, já que a unidade atende ainda a outros municípios do Rio Grande do Norte e dos estados da Paraíba e do Ceará.

“Há uma política de fechamento de Hospitais Psiquiátricos no país. O Programa ‘De volta para Casa’ prega que os pacientes psiquiátricos sejam atendidos por uma rede multidisciplinar e que se evite a internação, porém, o problema é que essa rede de assistência, composta por CAPS e atendimento especializado em hospitais convencionais, não foi totalmente implementada e, ainda que fosse, a internação em hospitais psiquiátricos é necessária em casos de surtos, que ocorrem com estes pacientes”, explica.

Questionada sobre o atraso no pagamento do aluguel do prédio onde funciona o Hospital, a assessoria de comunicação da PMM declara que a gestão tem negociado dívidas de aluguéis em atraso de diversos prédios e que a parte do Hospital São Camilo de Lellis requerida pelo proprietário do imóvel abriga também a área lavanderia.

“Serão feitas adaptações no Hospital São Camilo para que parte do prédio possa ser entregue ao proprietário. A lavanderia da unidade, que atualmente recebe ainda os lençóis de cama das três Unidades de Pronto Atendimento (Upas) da cidade, será transferida, através de convênio, para o Hospital Maternidade Almeida Castro”, informa a assessoria.

Já em relação ao fechamento de leitos na unidade, a assessoria afirma que a ação integra a política nacional de humanização do tratamento psiquiátrico, com redução nas internações e maior convívio dos pacientes com a família e a sociedade, e que a rede de atenção composta por Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e de saúde mental está sendo fortalecida na cidade.

Sem leitos de internação, muitas famílias abandonam ou trancam pacientes psiquiátricos em casa

Joel Borba afirma que, sem uma rede de atenção especializada completa e sem leitos em hospitais psiquiátricos disponíveis, muitos pacientes têm sido abandonados nas ruas ou vivido em cárcere privado na casa de familiares, que, por não saber lidar com estas pessoas, as trancam em quartos com grades, o que agrava o quadro de saúde dos pacientes.

“Infelizmente o Brasil está retrocedendo em querer extinguir os hospitais psiquiátricos. Isso é um equívoco total. A Itália já tentou fazer isso há 40 anos e viu que era inviável. Não adianta dizer que, por exemplo, quando um paciente psiquiátrico tiver um surto, basta encaminhá-lo ao Hospital Regional Tarcísio Maia se lá ele não vai contar com atendimento especializado de psiquiatras e nem uma estrutura específica”, conta.

Falta de rede de tratamento de jovens dependentes químicos afeta o Hospital São Camilo de Lellis

O Hospital São Camilo de Lellis tem sido afetado ainda pela falta de serviços de atendimento a menores viciados em drogas em Mossoró. Sem uma unidade voltada para o público de adolescentes dependentes químicos, a Justiça tem encaminhado menores dependentes para internamento na unidade, o que, além de ocupar leitos, causa problemas como assédio sexual aos pacientes psiquiátricos e agressões.

“Ao enviar um menor de 18 anos dependente químico para internamento no Hospital São Camilo, os juízes estão cometendo um erro e indo contra o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), pois a unidade não é voltada para o tratamento deste público, que corre o risco de serem feridos pelos pacientes psiquiátricos”, declara.