As eleições na Argentina e o futuro do Mercosul

O Mercosul necessita ter a Argentina para celebração do acordo com a União Europeia e consolidação da cooperação na América do Sul, argumenta Alberto do Amaral

POR: Alberto do Amaral

Jornal da USP

A Argentina viveu, no último dia 22 de outubro, eleições presidenciais. Como nenhum candidato alcançou a maioria necessária para vencer no primeiro turno, haverá segundo turno no dia 19 de novembro, protagonizado pelos dois primeiros colocados: Javier Milei e Sergio Massa, que foi o primeiro colocado na disputa eleitoral. Essa eleição Argentina foi atípica; tradicionalmente, duas forças políticas disputavam a hegemonia eleitoral naquele país: o peronismo, um partido que congrega forças políticas muito diversas, fundado pelo coronel Perón, no século passado, e um partido antiperionista inicialmente representado pela União Cívica Radical e depois por Maurício Macri, um líder de centro-direita que se tornou presidente e que fracassou no seu governo, na implantação de reformas econômicas, mas o fracasso não é apenas de Macri, fracasso é também do sucessivos governos peronistas e da antiga União Cívica Radical. Isto gerou uma situação extremamente difícil para a Argentina: hiperinflação, crise econômica, desemprego e falta de perspectivas.

É nesse contexto que surge a extrema-direita na Argentina. Não havia antes um partido de extrema-direita, um candidato de extrema-direita que galvanizasse grande parte do eleitorado. O discurso de Milei foi dirigido sobretudo aos jovens, com promessas de privatizar o sistema de saúde, de educação, de previdência, de dolarizar o país, de retirar a Argentina do Mercosul e de romper relações diplomáticas com a China […] a promessa de Milei de retirar a Argentina do Mercosul é extremamente preocupante, porque o Mercosul assinala o momento de passagem de uma relação entre Brasil e Argentina, marcada pelo conflito, para a cooperação. Essa cooperação intensificou-se na década de 90, teve problemas em alguns períodos, mas foi uma cooperação sobretudo econômica muito mais intensa, que permitiu aos empresários brasileiros exportarem mais ao mercado argentino e os produtores argentinos aferirem benefícios também com a exportação sem tarifas para o mercado brasileiro.

Beneficiou ambos os países, apesar das dificuldades da inexistência de uma agenda macroeconômica e de uma agenda política mais robusta entre os dois países. É verdade que Milei tem minoria no Congresso argentino e dificilmente poderia cumprir as suas promessas eleitorais. Por isso, mesmo que vença as eleições, são remotas as possibilidades de que venha a ser exitoso no cumprimento das suas promessas. Mas o Mercosul necessita da Argentina para a celebração do acordo com a União Europeia, que quer celebrar o acordo com o Mercosul e não apenas com um dos seus parceiros, com outros países do mundo, e a Argentina é importante para a consolidação da cooperação na América do Sul. Esse é um ponto importante da política externa brasileira e é um ponto que só pode ser efetivamente concretizado se houver a participação Argentina.


Alberto Amaral – Um Olhar sobre o Mundo
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