Antropóloga indígena Braulina Baniwa pede em Paris veto de Lula para Marco Temporal aprovado no Senado

Braulina Aurora Baniwa é a convidada de honra do 19° Festival de documentários Brésil en Mouvements (Brasil em Movimentos) que acontece até o próximo domingo (1°) em Paris. A antropóloga e ativista indígena chegou à França no dia em que o Senado brasileiro aprovou o Marco Temporal, que havia sido rejeitado na semana passada pelo STF. “Um retrocesso!”, lança, esperando que o presidente Lula vete o projeto.

Há quase vinte anos, o Festival Brésil em Mouvements exibe filmes engajados sobre temas que ajudam o público francês a entender o Brasil de hoje. A propriedade e a exploração da terra, assim como os direitos dos povos originários, são os principais eixos temáticos desta edição 2023.

Braulina Baniwa é antropóloga e militante indígena. Defensora, entre outras pautas, das questões de gênero, sexualidade indígena e violência contra mulheres, ele foi convidada pelo evento para discutir esses temas com o público parisiense do festival.

“Vai ter vários filmes de impacto muito forte, inclusive sobre parceiros dos povos indígenas que perdemos”, indica. Para a antropóloga e militante indígena, essa participação no Festival Brasil em Movimento “é um trabalho caro” para os militantes que estão da linha de frente pela defensa dos direitos dos povos indígenas.

“Além de conhecer esse trabalho incrível, feito há mais de 20 anos pelo Brasil em Movimentos, que traz um pouquinho do Brasil para o espaço da França, vai ser um espaço também de trazer um pouco das realidades das terras indígenas e a diversidade dos povos”, espera Braulina Baniwa.

Ela lembra que, “infelizmente, a sociedade em geral acha que só tem povos indígenas na Amazônia. Os povos indígenas estão presentes em todo o estado brasileiro. O Brasil é uma Terra indígena, né? E a gente tem falado bastante que a mãe do Brasil é uma mulher indígena e que o pai é europeu”.

Marco temporal

A votação relâmpago no Senado que aprovou nesta quarta-feira (27), com a participação de governistas, o projeto do Marco Temporal de terras indígenas que havia sido rejeitado na semana passada pelo STF, é considerada por Braulina Baniwa “um retrocesso muito grande em relação aos direitos dos povos indígenas que ataca diretamente nossos territórios”.

A mestre em antropologia pela UNB é uma das protagonistas da luta contra o Marco Temporal. Ela foi uma das organizadoras da marcha das mulheres indígenas que levou mais de mil pessoas a Brasília no início de setembro. O projeto aprovado no Senado segue agora para a sanção presidencial.

Braulina considera que os próximos passos dessa luta devem “intensificar a voz das mulheres e tentar falar em diferentes lugares do impacto desse projeto”. Segundo ela, “o veto presidencial pode salvar muitas vidas e, caso não venha acontecer, será a extinção de muitas de nós, principalmente mulheres e crianças indígenas, meninas indígenas que sofrem violência, desde a violência sexual até violência de morte nos conflitos nos territórios”.

Ela acredita que a luta precisa se fortalecer; nacional e internacionalmente. “Não é só a questão da demarcação, mas também envolve a narrativa histórica do movimento enquanto povos indígenas no Brasil, de como Estado e políticos brasileiros pensam os povos indígenas no Brasil.”

Braulina Baniwa é cofundadora da Abia, Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges, e da Anmiga, Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade. Ela garante que a articulação nacional vai continuar, “fortalecendo a nossas vozes em diferentes lugares, denunciando e também dizendo que caso não acontecer o veto presidencial será um retrocesso muito grande e (haverá) muitas mortes”.

Deixe um comentário