ANÁLISE: “O ÚLTIMO DEBATE PRESIDENCIAL”

Ney Lopes

O último debate da campanha transformou-se em chance perdida por Bolsonaro de “nocautear” Lula, como era o seu evidente desejo, ao apelar para palavras duras contra o adversário, tais como, ladrão, bandido, descondensado, marginal, presidiário …

Esse objetivo não foi alcançado.

Nos primeiros momentos, Bolsonaro teve fisionomia tensa e não cumprimentou o público.

Nesse bloco, Lula afirmou que Bolsonaro era desequilibrado.

O ritmo da discussão tornou-se frenético.

No final do bloco, Lula deu as costas para Bolsonaro, quando o presidente o chamou para ficar ao seu lado.

Não houve nada que criasse um fato político novo às vésperas da eleição, a ponto de alterar o resultado final.

Em comparação com os debates anteriores, Lula estava seguro e combativo.

Bolsonaro, embora seguro em alguns pontos, dava sinais de estar pressionado pelo “tudo ou nada” e manteve elevado nível de agressividade.

Ambos esgrimiram números sobre indicadores de violência, recursos destinados à educação e a saúde e a questão ambiental, igualmente em relação ao emprego, à renda e taxas de crescimento.

Na abordagem do sistema previdenciário brasileiro, Lula detalhou uma série de direitos subtraídos na reforma da previdência do governo, que prejudicariam os aposentados e pensionistas.

Deu números concretos.

Bolsonaro preferiu não responder e abordou outros assuntos.

O presidente Jair Bolsonaro cometeu um ato falho e pediu novo mandato como deputado federal, ao invés de presidente, na declaração dada durante as considerações finais.

Merece registro a atuação civilizada e profissional do apresentador William Bonder.

Apenas usou, sem exacerbação, o direito de esclarecer a crítica de Bolsonaro, que o acusou de ter lido no JN texto sobre a inocência de Lula.

O mediador pontuou que repetiu o que o TSF declarou.

A troca de acusações entre Lula e Bolsonaro poderia ter se reduzido no segundo e quarto blocos, quando os presidenciáveis tinham que obrigatoriamente escolher um tema.

Assim não aconteceu.

Lula escolheu falar sobre combate à pobreza, mas o que houve foi a mesma troca de acusações.

Bolsonaro chamou Lula de corrupto e o petista não se esqueceu de mencionar acusações que pesam sobre o presidente e seus familiares sobre a compra de imóveis com dinheiro em espécie e as “rachadinhas”.

Em resumo, o debate foi jogo pesadíssimo com acusações recíprocas.

Lula ao final encaixou propostas concretas para o futuro.

Bolsonaro limitou-se a desconstituir a imagem de Lula, apresentando-o como desonesto e ex-presidiário.

Atacou, mais uma vez, o STF ao dizer que Lula era candidato por conta da proteção dos seus amigos da Corte Suprema.

Em resumo: Bolsonaro mostrou-se mais preparado do que em vezes anteriores, embora com nervos à flor da pele e agressivo.

Lula seguro preocupou-se em responder com objetividade para não ter desvantagem no tempo da réplica.

Enfim, o debate foi o retrato vivo da inédita polarização que vive o país.

Além disso um jogo pesado, com uso de palavras ofensivas e provocadoras.

Por isso, transformou-se em um momento que não servirá de exemplo para as futuras gerações de brasileiros.

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