ANÁLISE: “GUERRA SEM FIM: DOR E SOFRIMENTO DAS CRIANÇAS”

Um homem carrega o corpo da menina palestina Saly, de 5 anos, morta em um ataque israelense enquanto sua tia Inas Abu Maamar, de 36 anos, chora durante seu funeral em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. A mãe e a irmã de Saly também foram mortas.(Reuters)

Ney Lopes

Os Acordos de Oslo foram alcançados em 1993, com o líder palestino Yasser Arafat e o primeiro-ministro israelense Yitzak Rabin apertando as mãos na Casa Branca, marcando um momento histórico.

A principal ideia dos acordos era dar autonomia às cidades onde viviam muitos palestinos.

Mesmo com este acordo, até hoje, nada foi resolvido e fica sem resposta a indagação do ex-ministro palestino Ziad Abu Zayyad, hoje com 83 anos: “Até quando isso pode continuar? Vamos continuar nos matando para sempre?”

Quando Yitzhak Rabin concordou em assinar o acordo com o líder palestino Yasser Arafat, há mais de 30 anos, ele exclamou em discurso: “Chega de sangue e lágrimas. Suficiente! ”,

Ele não disse o suficiente do sangue e das lágrimas judaicas, mas sim do sangue e das lágrimas de ambos os lados.

Á época deo Acordo de Oslo, Rabin e Arafat eram adversários.

Ambos enfrentavam radicais: judeus da extrema-direita e fundamentalistas islâmicos.

As duas facções transmitiam mensagem de crueldade e radicalismo.

Os colonos religiosos de direita sussurravam que os palestinos são Amalek, o odiado inimigo bíblico, e, portanto, há uma ordem sagrada especial para eliminá-los.

Não os poupeis“, diz a Bíblia, “matem todos os homens, mulheres e crianças”.

Os textos islâmicos, por sua vez, têm inúmeras referências odiosas aos judeus.

Uma regra diz “se o judeu se esconder atrás de uma árvore, até a árvore dirá venha matá-lo”.

É ecoada atualmente em pronunciamentos oficiais do Hamas.

As negociações secretas de 1993 iniciadas em Oslo, culminadas com o encontro na Casa Br anca,  foram o primeiro passo para a construção de um processo de paz que durou sete anos, em que se propunham a retirada militar israelense dos territórios ocupados em 1967 e o reconhecimento mútuo entre israelenses e palestinos.

Pela primeira vez, os palestinos reconheciam o Estado de Israel e, em troca, Israel reconheceu a OLP como o legítimo representante do povo palestino.

Ficou acordado que os assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada seriam desfeitos e que o território seria parcialmente entregue à Autoridade Nacional da Palestina (ANP), que foi criada após a assinatura dos acordos.

Além disso, os acordos cederam parte dos territórios da Cisjordânia para a recém-criada Autoridade Nacional Palestina.

A Cisjordânia foi dividida nas áreas de tipo A (18% do território), que ficam até hoje sob controle administrativo e militar da ANP. As de tipo B (22% da Cisjordânia) com os serviços civis controlados pela ANP e a segurança por forças israelenses, e as áreas de tipo C (60% da Cisjordânia), que se mantiveram totalmente controladas por Israel.

Dois anos depois, em 1995, o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabinque receberia o Nobel da Paz em 1994, foi assassinado por um israelense contrário aos acordos.

Desde então, não houve mais avanços nas negociações

No lugar de Rabin, quem ganhou as eleições, em 1996, foi o Benjamim Netanyahu (atual primeiro-ministro de Israel), que desde essa época presta desserviço à causa da paz.

A partir daí os acordos de paz foram praticamente enterrados.

Netanyahu terminou o mandato, mas voltou ao poder em 2009.

Está provado que com Netanyahu, não há qualquer tipo de negociação.

O governo dele e seus aliados são contra qualquer negociação.

Neste contexto de tensão, os israelenses se sentem ameaçados.

Veem os 150.000 mísseis do Hezbollah apontados para o norte, junto com os de Gaza.

Eles veem países vizinhos com populações majoritariamente muçulmanas que, durante a maior parte da história de Israel, foram hostis ou, pelo menos, profundamente antagônicas a ele.

Eles veem forças apoiadas pelo Irã na Síria e no Iêmen, e o próprio regime iraniano, todos comprometidos com a morte e destruição do único Estado judeu.

Realmente, são muitos riscos.

Porém o que Israel precisaria entender é que existem no mundo situações de conflitos, que são resolvidas pelo diálogo e os acordos.

E para isto é necessário avançar e recuar.

Não se justifica apelar para \ guerra permanente e a destruição de vidas humanas.

Já os palestinos, estão submetidos a décadas de abandono por parte de Israel, aliadas ao aumento desenfreado dos assentamentos e ao agravamento da repressão brutal na Cisjordânia.

Tais fatos demonstram que Israel não tem intenção de permitir que um Estado viável da Palestina exista, jamais.

Enquanto isso, o porta-voz do Hamas, Ghazi Hamad, proclamou na televisão libanesa que o Hamas repetirá ataques semelhantes aos de 7 de outubro repetidas vezes até que Israel seja completamente aniquilado.

“Vamos”, diz ele, “remover esse país”.

O ódio se instalou, de forma brutal

De ambos os lados.

Só há uma saída para esse pântano: a criação de dois estados.

Foi a única maneira, desde que a ONU dividiu a terra, no que deveria ter se tornado dois Estados.

A tragédia é que um Estado, Israel, acabou prosperando, e o outro, a natimorto Palestina, e seu povo, permaneceram em um estado de empobrecimento perpétuo.

E a ocupação sufocante e humilhante que só piorou nos últimos 30 anos joga diretamente nas mãos de extremistas como o Hamas.

Talvez haja um vislumbre de esperança, na clareza, de que o estado atual das coisas é insustentável e insuportável.

Não podem continuar a profundidade do horror e repulsa pela violência atual, a raiva e o luto pela imensa e devastadora perda de vidas inocentes.

Amós Oz, escritor israelense, co-fundador do movimento pacifista Paz Agora, escreveu certa vez, que imaginar o outro é um imperativo moral.

É, segundo ele, “o antídoto mais poderoso contra o fanatismo“.

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