Alex Medeiros – Para todos os (a)gostos

Alex Medeiros – Jornalista
A festa marca a data de 3 de agosto de 1963, há 60 anos, quando a mais luminosa banda de rock se apresentou pela última vez no pequeno lugar considerado uma boate pelos frequentadores. O quarteto John, Paul, George e Ringo se despedia do berço para conquistar o mundo e mudar o seu rumo.
O Cavern Club foi criado em 1957, por um garotão chamado Alan Sytner, filho de conhecido médico de Liverpool. A idéia do rapaz não tinha nenhuma originalidade e nem qualquer relação com o ritmo que vinha balançando as estruturas do planeta, o rock ´n´ roll. Era apenas a cópia de um clubezinho de Paris, chamado Le Caveau Français, que Sytner freqüentou nas férias.
O espaço parisiense era dedicado ao jazz, o ritmo preferido do jovem inglês, que logo batizou o espaço “liverputiano” como Cavern Jazz Club, onde se apresentavam pequenas bandas de jazz e blues que imitavam os grandes nomes do mercado norte-americano. Logo os grupos famosos de Londres começaram a pintar no pedaço. Uma banda era cria da casa e tinha show fixo semanalmente, a Merseysippi Jazz Band.
E o mês de agosto foi de abertura e fechamento para Styner. Pois numa quarta-feira de chuva, ainda em 1957, mesmo com a casa ameaçada de esvaziamento, ele apresentou uma banda chamada The Quarrymen Skiffle Group, onde se destacava um imberbe garoto chamado John Lennon, que fez o show de abertura para duas bandas mais famosas, os Deltonas e a Dark Town Skiffle Groups.
No ano seguinte, em 24 de janeiro, o The Quarrymen voltava ao palco apresentando um novo componente, também de cara lisa e chamado Paul McCartney. Em 17 de janeiro de 1960, apareceu no Club a banda Rory Storm & The Hurricanes.
Era um domingo, a moçada estava a fim de dançar e beber, nem percebeu na bateria um rapaz chamado Ringo Star. Mas na primeira aparição oficial dos Beatles, em 21 de fevereiro de 1961, o batera se chamava Pete Best. Naquele mesmo dia a Nasa lançava ao espaço a missão Mercury Atlas 2, sem imaginar que o país seria invadido por verdadeiras estrelas dentro em pouco.
O ano de 1961 foi um marco para os Beatles e para o Cavern Club, ou melhor para Liverpool e para a história do rock. Numa noite de 9 de novembro, também chuvosa, apareceu por lá um cara chamado Brian Epstein. Gostou do que viu e passou a freqüentar, até que em 15 de agosto do ano seguinte (olha agosto aí de novo na história) travou um papo com os quatro meninos de Liverpool, John, Paul, George e Pete.
Com treze dias depois (ainda agosto, hein) ele substitui Pete por Ringo. O resto o leitor já sabe. Com o fim dos Beatles e a morte de dois dos seus integrantes, o Cavern Club se manteve como uma pirâmide a guardar a história, o romantismo e a magia de um grupo musical que jamais conseguiu ser superado na memória e no coração dos fãs, espalhados por continentes e por gerações distintas.
O local de hoje não é o mesmo daqueles anos, que foi demolido há 50 anos em 1973. Desde 1982 funciona noutro local. Para quem ama os Beatles e vai a Liverpool em agosto, tem obrigação de ir ao segundo endereço e lançar-se em espírito para sempre no primeiro endereço da caverna.
Publicado em Tribuna do Norte de 13.08.23

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