Alex Medeiros: Barba, o Barrabás do proletariado

Barba, o Barrabás do proletariado
O livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”, lançado em 2013 pelo ex-deputado e ex-delegado federal Romeu Tuma Jr., é o testemunho ocular de quem viveu no olho do furacão que sacudiu a República nos anos dos maiores escândalos de corrupção já perpetrados por um governo, um partido e um chefe político.
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No depoimento que prestou ao jornalista Claudio Tognolli, responsável pelo texto do livro, entre muitas declarações bombásticas, que lançam luzes sobre o assassinato de Celso Daniel e sobre o percurso das propinas no PT, uma delas é a mais espetacular.
Trata-se da acusação, direta e sem meio-termo, contra Lula ao tempo ainda do regime militar. Tuma Jr. diz com todas as letras que o então metalúrgico do ABC era um informante do DOPS e tinha um codinome todo próprio: “o barba”.
Filho do delegado Romeu Tuma, um dos importantes agentes da PF nos anos 70, ele expõe a memória do menino que viu “o barba” várias vezes conversando com seu pai e até dormindo em sua casa. Tinha até um quarto.
Mesmo sendo novidade para as gerações atuais, o teor do livro de quem foi demitido pelo próprio Lula quando presidente, não surpreeende quem viveu a cena política e intelectual dos anos 70 e meados dos 80. É um assunto velho.
Desde 1983, ano em que abandonei a militância política no PT e fui fundar o Partido Verde com o geólogo Eugênio Cunha, as histórias misteriosas sobre o Lula nos tempos pré-greve de 1978 rolavam nas conversas. Ele com Golbery.
General formulador de estratégias, Golbery do Couto e Silva foi o cara que elaborou a tese do recuo lento e gradual do regime militar, durante o governo Ernesto Geisel. Muitos sabem que foi ele quem achou Lula no meio operário.
E desse achado, surgiu a ideia do Partido dos Trabalhadores como válvula de escape para impedir o fortalecimento das legendas de antigos inimigos dos militares, como Brizola, Miguel Arraes, João Amazonas, Chico Julião e Prestes.
Seria uma coincidência que nas primeiras eleições diretas para presidente da República, em 1989, setores conservadores e até da imprensa, como a Globo, operaram para Lula obter votos no Norte e Centro-Oeste, no primeiro turno?
Fernando Collor era o queridinho de todos, mas esses todos temiam um segundo turno com Brizola, um velho desafeto dos Marinho que vivia ameaçava cortar a consessão da Globo. Nada mais providencial do que Lula.
Aliás, um ano antes daquela eleição, o empresário Mario Garnero lançou o livro “Jogo Duro”, onde narra seu relacionamento com Lula nos anos 70 e deixa bem claro que realmente houve uma ligação do operário com os militares.
Diz Garnero no livro: “Longe de mim querer acusá-lo de ser o Cabo Anselmo do ABC, mesmo porque, ao contrário do que ocorre com o próprio Lula, eu só acuso com as devidas provas. Só me reservo o direito de achar estranho”.
Mario Garnero foi um dos mais importantes empresários do país desde JK até o final do governo militar. Em 1985 foi banido do mercado e só retornou ao mundo corporativo pelas mãos do então presidente do Brasil, ele, o Lula.
O livro, reforça o mistério: “Lula foi a peça sindical na estratégia de distensão tramada pelo Golbery – o que não sei dizer é se Lula sabia ou não que estava desempenhando esse papel”. Ora, Golbery contou com ele para aliciar Lula.
A denúncia de Romeu Tuma Jr. no livro de 2013 vai muito além da gravidade da engrenagem partidária em conluio com os militares. Acusa formalmente, com conhecimento de causa, um trabalho nojento e criminoso de deduragem junto ao DOPS. Um verdadeiro Lula X9.
Publicado na Tribuna do Norte

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