Ajuda internacional se intensifica na Líbia, mas acesso a áreas devastadas continua difícil

A ajuda internacional para a Líbia se intensificou nesta quinta-feira (14) depois das inundações devastadoras que deixaram milhares de mortos e desaparecidos no leste do país. Segundo a ONU, as consequências nefastas da catástrofe são em parte o legado de anos de guerra e caos.

O acesso à área do desastre continua muito difícil, após a destruição de estradas e pontes, avarias nas linhas elétricas e telefônicas, que foram cortadas em muitas regiões. Além dos danos materiais, ao menos 30.000 pessoas ficaram desalojadas.

A enxurrada que invadiu a cidade de Derna na noite de domingo (10), rompeu duas barragens, causando uma inundação repentina da magnitude de um tsunami.

Os danos são enormes nesta cidade costeira de 100 mil habitantes, onde quarteirões inteiros de casas, carros e inúmeras pessoas foram arrastados para o mar Mediterrâneo.

O número exato de mortos ainda não é conhecido. As avaliações apresentadas pelas autoridades líbias variam. O porta-voz do Ministério do Interior do governo oriental reportou na quarta-feira (13) mais de 3.840 mortes. Mas o próprio ministro, Issam Bouznigua, falou poucas horas depois de 2.794 óbitos em Derna e em outras cidades da região.

Na quinta-feira, residentes traumatizados, mergulhadores, equipes de resgate e voluntários continuaram a retirar corpos dos escombros ou a pescá-los no mar. Centenas já foram enterrados desde o desastre, muitas vezes em valas comuns.

Na página do Facebook “Os desaparecidos de Derna”, apenas 24 horas após a sua criação, dezenas de publicações mostravam nomes e fotos de crianças ou adultos desaparecidos. Algumas simplesmente mencionam o sobrenome.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou quinta-feira que enviou equipes adicionais à região para a distribuição de ajuda humanitária, acrescentando que “forneceu 6.000 sacos para cadáveres”.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) afirmou quinta-feira em um comunicado que começou a fornecer ajuda alimentar a mais de 5.000 famílias deslocadas pelas inundações, especificando que “milhares de famílias em Derna estão agora sem comida ou abrigo”.

As Nações Unidas, os Estados Unidos, a União Europeia e muitos países do Oriente Médio e do Norte de África prometeram enviar ajuda. Equipes de resgate estrangeiras já estão trabalhando em busca de possíveis sobreviventes ou vítimas.

Carros danificados nas inundações em Derna, na Líbia, em 12 de setembro de 2023.
Carros danificados nas inundações em Derna, na Líbia, em 12 de setembro de 2023. REUTERS – ESAM OMRAN AL-FETORI

País mergulhado no caos

Um sobrevivente contou como ele e sua mãe sobreviveram. “Em poucos segundos, o nível da água subiu repentinamente. Saí com minha mãe para me refugiar com meu irmão que mora lá em cima, mas as ondas nos levaram (…) antes de nos jogar na escada de um prédio vazio”, disse em uma cama de hospital, segundo depoimento publicado pelo Centro Médico de Benghazi (Leste). “Subimos as escadas e a água subiu conosco até chegarmos ao quarto andar (…). Da janela vi carros e corpos levados pela água”, disse.

Líbia está mergulhada no caos desde a morte do ditador Muammar Kaddafi em 2011, com dois governos rivais, um reconhecido pela ONU, com sede na capital Trípoli, no oeste, o outro instalado na região oriental afetada pelas enchentes.

A maioria das mortes “poderia ter sido evitada”, disse Petteri Taalas, chefe da Organização Meteorológica Mundial, que depende da ONU, na quinta-feira. Os anos de conflito na Líbia “destruíram em grande parte a rede de observação meteorológica”, assim como os sistemas informáticos, disse ele em Genebra.

Mudanças climáticas

Os especialistas em mudanças climáticas associaram a catástrofe que atingiu esta região da Líbia aos efeitos do aquecimento global, combinados com os anos de caos e infraestruturas em ruínas na Líbia.

A tempestade Daniel, que causou as inundações, ganhou força durante o verão, excepcionalmente quente, e atingiu a Turquia, a Bulgária e a Grécia, antes de chegar à Líbia no domingo.

É um “novo lembrete do impacto catastrófico e mortal que as alterações climáticas podem ter no nosso mundo”, disse Volker Turk, o alto comissário das Nações Unidas para os direitos humanos.

Esta é a pior catástrofe natural que afeta a Cirenaica, a província oriental da Líbia, desde o grande terremoto que atingiu a cidade de al-Marj (leste) em 1963.

(Com AFP)

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