Acusado de Abuso SexualPresidente da Federação Francesa de Futebol é afastado

A Federação Francesa de Futebol (FFF) anunciou que seu presidente, Noël Le Graët, foi afastado temporariamente do cargo, pelo menos até o fim de janeiro, quando será concluída uma auditoria na entidade, solicitada pelo Ministério dos Esportes. Le Graët estava há dias na corda bamba, criticado por ter menosprezado publicamente o ex-campeão francês Zinedine Zidane. Ele também foi acusado de sexismo por funcionárias da FFF, entre outras controvérsias.

Por RFI

A decisão sobre Le Graët foi anunciada após uma reunião do Comitê Executivo Extraordinário (Comex) da federação realizada nesta quarta-feira (11). Em entrevista ao canal de BFMTV, Éric Borghini, membro do Comex presente na reunião, disse que não foi preciso fazer uma votação para oficializar o afastamento do presidente.

O cartola de 81 anos, adepto de uma linguagem franca e que, para muitos, beira à grosseria, reconheceu que sua permanência no cargo tinha se tornado insustentável. Ele será substituído por Philippe Diallo, que já ocupa um cargo de direção na FFF.

A diretora-geral da entidade, Florence Hardouin, que mantinha relações execráveis com Le Graët, também teve seu contrato de trabalho interrompido até o final da auditoria – o que na legislação trabalhista francesa é praticamente uma demissão –, diz o comunicado do órgão máximo do futebol francês.

Desde 2011 à frente da FFF, Le Graët está a um passo de encerrar a carreira esportiva. A gota d’água que comprometeu definitivamente a imagem do dirigente aconteceu há alguns dias, quando em uma entrevista à emissora RMC, ele disse que se recebesse um telefonema de Zidane, sequer responderia.

A forma desrespeitosa como ele se referiu a um ídolo dos franceses provocou indignação nacional. No meio esportivo, jogadores, técnicos e até a direção do Real Madrid, que teve Zidane como treinador até o ano passado, publicaram notas de apoio ao craque, campeão do Mundo contra o Brasil, em 1998. A ministra dos Esportes, Amélie Oudéa-Castéra, reforçou a onda de indignação dizendo que Le Graët deveria se desculpar perante Zidane.

Carta para Zidane

A reunião do Comex nesta quarta demorou duas horas e contou com 13 participantes. De acordo com o relato de um deles, Le Graët manifestou arrependimento sobre a forma como se referiu a Zidane e pediu desculpas a todos os presentes. Ele teria enviado uma carta a Zidane, para pedir um encontro pessoal, a fim de se desculpar pelo comportamento desrespeitoso.

Outro fator que já vinha pesando contra Le Graët foram as denúncias de mau tratamento a funcionários da entidade e repetidas insinuações denunciadas por colaboradoras. O alegado comportamento sexista, particularmente em relação aos ex-empregados, está no centro da auditoria requisitada pela ministra dos Esportes.

Testemunhos de assédio

As conclusões da auditoria na FFF são esperadas para o final de janeiro, mas os primeiros elementos já vazaram. A rádio France Inter revelou que “várias mulheres” haviam “denunciado (…) a atitude de Noël Le Graët para com elas”, o que foi confirmado à agência AFP por uma fonte próxima do caso.

Em entrevista ao canal BFMTV, Sonia Souid, agente de jogadores e jogadoras, acusou Le Graët de comportamentos inadequados em várias ocasiões. Uma vez, disse, ele marcou uma reunião no apartamento dele para discutirem um projeto profissional de Souid na presença de outra mulher que poderia ajudá-la. Mas a terceira convidada nunca apareceu. “Estou acostumada com o meio machista do futebol, mas não é fácil lidar com um chefe que quer levar você para a cama”, afirmou a agente esportiva.

Outras mulheres atuantes na FFF, já ouvidas na auditoria, também teriam mostrado aos inspetores mensagens de SMS e WhatsApp insistentes de Le Graët. Algumas delas não são ilegais, mas provocam questionamento por causa do vínculo hierárquico.

Na manhã desta quarta-feira, membros de um coletivo feminista formado principalmente por lésbicas e transexuais ergueram cartazes em frente à sede da FFF que diziam “Le Graët: o Papai Noel é um traste” e “Assédio sexual, Le Graët renuncia”.

Neste contexto delicado, o porta-voz do governo francês, Olivier Véran, disse que a FFF “merece um presidente à altura da tarefa (…), que dê uma boa imagem do futebol francês em todo o mundo”.

O governo não tem meios legais para remover o presidente da Federação, pois a Fifa é muito cuidadosa com a independência de suas associações-membro. Mas o Comex, cujos membros são, em sua grande maioria, da lista que Le Graët apresentou antes de sua última reeleição, em março de 2021, finalmente desistiu de seu líder.

De acordo com o regulamento, somente uma assembleia federal extraordinária, convocada por um quarto do comitê executivo, pode votar para demitir o presidente. O próximo Comex, após a auditoria ministerial, poderia designar um sucessor para Le Graët, que foi campeão mundial em 2018, finalista em 2022, e provavelmente será deposto em 2023.

Com informações da AFP

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