A Lista de Acácio – Clauder Arcanjo

 

Não há política sem esperança.

Semana passada, caro leitor, tomei conhecimento de mais uma do Companheiro Acácio. Explico.

Depois do pandemônio criado em Brasília, desde o recesso do Carnaval, pela expectativa da divulgação da Lista do Janot, procurador geral da República, Acácio apareceu no Café do Rafael Arcanjo, sobraçado com uma pilha de livros (seus companheiros inseparáveis), propagando aos quatro ventos que iria a Brasília com a sua própria lista.

Como todos sabem da forte ligação que nos une, os frequentadores do Duart’s Café cuidaram de me acionar.

— Clauder Arcanjo, estamos lhe ligando aqui do Rafael. Quando é que você retorna?

— Rafael aprontou alguma, gente? — espetei-o.

— O assunto é sério. Não cabe brincadeira, amigo! — cortou-me, sem mais delongas.

— Sério como? — indaguei, preocupado com o tom de voz do interlocutor.

— Diria, Clauder, que é um caso quase na conta da… Segurança Nacional — asseverou-me, numa entonação bem baixa, como se com receio do comentário ser ouvido por outros.

De volta a Mossoró, mal entrei em casa fui cercado por meia dúzia de cidadãos assombrados com a tal lista do Companheiro Acácio.

Quem era os tais?; você me interpela. Vejamos: um vereador, um prefeito de uma cidade vizinha, um deputado, um assessor parlamentar, um empresário da construção civil e um pároco de província, este sempre envolvido com as “lutas dos menos favorecidos”.

— Você precisa intervir, com urgência! — dispararam, uníssonos.

— Calma, meu povo! Digam-me: o que os aflige tanto? — interroguei-os.

Silêncio de profundezas abissais.

Pedi a Ângela para nos preparar um café; arriei a minha mala de viagem no canto da sala e, em seguida, sentei na minha cadeira de balanço. Do centro da sala, corri os olhos na face dos seis. Seus olhares se cruzavam, enquanto as mãos, nervosas, se encolhiam.

Como a dor dos outros me inquieta, sorvi a minha xícara de café e prometi:

— Ainda hoje estarei com ele. E, por favor, me deem licença que preciso de um bom banho. Estou exausto.

Saíram, quase sem se despedir. De ombros baixos, como se carregassem a culpa dos males do mundo todo nas costas.

 

***

 

— Companheiro Acácio! De viagem?

— Sim, estou indo a Brasília.

— Assim, sem mais nem menos?

— A situação nacional me pede pressa. Não posso ser omisso. A nação mergulha numa grave crise.

— Sei…

— Não, não sabe, pois se soubesse não me perguntaria.

— Calma, Acácio! Nosso inimigo não…

— Não me venha com pedido de prudência. Enquanto conversamos, o erário é vilipendiado, a política é vista como ofício para pulhas, a Constituição é desrespeitada, o povo sofre pelas perdas de referências, de valores e de liderança.

— Concordo.

— Pois se concorda, deixe sua bonomia e junte-se a mim. Vamos juntos ao Supremo Tribunal.

— Entregar a sua lista? Como andam falando aos quatro ventos: A Lista do Acácio?

— Sim. Não gosto de bandeiras pessoais; no entanto, se fogem de darem-na o título de Lista da Cidadania, que seja, então, a Lista do Acácio!

Seus olhos estavam injetados da fúria santa. Conheço o Companheiro, a causa lhe invadira o corpo e a alma. E Acácio, quando tomado por uma causa, não recua nem para um trem carregado de nitroglicerina pura.

— Posso ver o conteúdo da lista, Acácio?

— Só se me prometer sigilo de cidadania.

— Pensei que você confiava em mim.

— Não mude de assunto. Repito: só se me prometer sigilo de cidadania.

— Prometo.

— Ei-la! — entregou-me um papel, com escritos em letras de forma. Passei a vista no seu conteúdo, devolvendo-a em seguida.

— Você tem certeza de que será recebido pelos homens e mulheres da Suprema Corte!

— Não se faz política sem esperança. Não foi isso que você me ensinou um dia?!

Voltei para casa, para, mais do que depressa, arrumar novamente a minha maleta de viagem. Na mente, a Lista de Acácio:

 

Supremo Tribunal Federal:

Segue, ver abaixo, a lista de valores que devem ser respeitados pelos políticos brasileiros:

— Vergonha na cara;

— Trabalho;

— Decência;

— Liderança pelo exemplo;

— Moral;

— Honradez;

— Ética cidadã.

Todo político que ferir um ou mais dos valores supracitados devem ser objeto de denúncia pública. Para, em seguida, com a celeridade de um cometa, ser julgado. Caso condenado, que seja exarado mandado de busca e detenção, sem direito a foro nem presídio privilegiados.

Saudações cidadãs.

Atenciosamente,

Companheiro Acácio.

 

Clauder Arcanjo

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