A incrível história do Carnaval – por Geraldo Maia

A incrível história do Carnaval – por Geraldo Maia

A incrível história do Carnaval

Então é carnaval! Essa, que é a maior festa popular do Brasil e uma das maiores do mundo, tem sua origem, até certo ponto, desconhecida. E é sobre a origem dessa festa que pretendemos contar aqui.

Na realidade o carnaval é uma festa cristã, intrinsecamente ligada ao catolicismo, pois o fim do carnaval marca o início da quaresma, que é o período que antecede a Páscoa, e durante os quais os católicos são orientados a abrirem mão dos prazeres da vida, para lembrarem o sofrimento de Jesus Cristo.

Durante muito tempo esse período era marcado por jejuns e que não se comia carne. A terça-feira, antes da quaresma, era o último dia que podia se comer carne, por isso era chamado em latim de “carnes levale”, que significa adeus a carne. Daí surgiu a palavra carnaval.

Na realidade a origem dessas festividades é muito mais antiga e se baseiam nas tradições pagãs. Era comum esses celebrarem o fim do inverno no hemisfério Norte com festivais em que se comia e bebia muito, com bastante fartura, para afastar os espíritos dos dias escuros e em muitos deles, as pessoas se disfarçavam com máscaras e fantasias para terem liberdade de fazer o que era proibido nos outros dias do ano. Podemos citar como exemplo o festival de Dionísio, na Grécia, a lupercália, em Roma e a festa de Isis, no Egito. Outras festas tradicionais eram a saturnália, também de Roma e as sacéias, da babilônia, que nada mais era do que uma celebração onde um prisioneiro assumia durante alguns dias, a figura do rei, vestindo-se, comendo e dormindo com suas esposas. Ao final da celebração, ele era chicoteado e enforcado. Essas festas eram tão generalizadas e intrínsecas a essas sociedades, que elas continuaram existindo mesmo depois da difusão do Cristianismo. E as vezes, costumavam durar meses, começando no natal e indo até a primavera, no mês de abril.

Claro que a Igreja Católica tentou várias vezes acabar com essas festividades, porque via tudo isso como uma manifestação pagã, que mesmo os convertidos continuavam praticando. Mas todos os esforços eram em vão. Então, como diz o ditado, “já que não dá para derrotar, junte-se a ele”. E aí, aos poucos, durante a Idade Média, o carnaval foi sendo integrado ao Calendário Litúrgico da Igreja Católica, cabendo ao Papa Gregório Magno, no século VI, oficializar o evento, estabelecendo que o período da quaresma deveria começar na quarta-feira de cinzas e ordenou que todas as festas carnavalescas deveriam se encerrar antes disso. E foi assim que o dia do carnaval ou a terça-feira gorda, que é o último dia que se pode exagerar na comida antes da quaresma, é calculada como sendo 47 dias antes da Páscoa.

A festa do carnaval chegou ao Brasil durante o período colonial, trazida pelos portugueses. O primeiro registro de carnaval no Brasil, data de 1533 na então capitania de Pernambuco. Claro que o carnaval dessa época não se parecia em nada com o que conhecemos hoje. O que havia na época era o chamado entrudo, festa popular que se realizava no período carnavalesco, em que os brincantes lançavam uns nos outros: farinha, baldes de água, limões de cheiro, luvas cheias de areia etc. Era o famoso mela-mela. Esse tipo de brincadeira entrou em declínio no Brasil em 1854, por repressão policial, dando lugar ao moderno carnaval. Esse nome, entrudo, se refere a entrada na quaresma.

Ainda na Idade Média era comum os portugueses das Ilhas das Madeiras celebrarem o carnaval construindo bonecos gigantes, feitos de madeira e cobertos de tecido, parecido com os que vemos hoje em Olinda/PE, na época do carnaval.

Com a proibição da brincadeira do entrudo, a sociedade passou então a migrar para os bailes e passeios de máscaras, como se fazia em Paris e na Itália. Com isso a natureza do carnaval no Brasil foi mudando. Enquanto os ricos se divertiam em bailes de máscaras em teatros e cassinos, o povão ia brincar nas ruas, onde eram formados os cordões e blocos carnavalescos. A diferença entre os dois é que os blocos eram mais organizados, formados por uma associação onde todos usavam roupas semelhantes, enquanto que os cordões eram mais informais, mais “povão” mesmo. Mas cordões e blocos carnavalescos já eram uma evolução do famoso Zé Pereira, que era um grupo mais informal ainda. O primeiro Zé Pereira foi um grupo de foliões que saia as ruas do Rio de Janeiro em 1846 acompanhados por instrumentos e percussão. O nome passou a indicar qualquer tipo de grupo de bagunça carnavalesca improvisadas, sem organização, que é mais conhecida como bloco sujo. A percussão do Zé Pereira deu origem a bateria das escolas de samba.

Atualmente bloco carnavalesco é um termo usado no Brasil para qualquer grupo que se organize para brincar o carnaval junto e que não seja tão estruturado como uma escola de samba. O Galo da Madrugada, que desfila todo sábado de carnaval de manhã bem cedinho em Olinda, é considerado o maior bloco do mundo, reunindo mais de dois milhões de pessoas. Esses primeiros blocos e cordões do Século XIX, costumavam se divertir cantando modinhas, marchinhas e outras músicas de origem europeia, principalmente portuguesas. Mas em 1899 surgiu a primeira composição feita especialmente para o carnaval que foi o “Abre Alas”, escrita por Chiquinha Gonzaga para o cordão “Rosa de Ouro”. A partir daí os blocos foram se organizando, dando origem as associações carnavalescas. As primeiras dessas organizações eram conhecidas como “Ranchos Carnavalescos” que se reuniam, durante o ano, para organizar um desfile que contavam uma história, sendo essa a origem do samba enredo. O pioneiro dos Ranchos foi o Rei de Ouro que foi criado em 1893 no Rio de Janeiro, pelo compositor pernambucano Hilário Jovino Ferreira. Além do enredo o Rei de Ouro introduziu também instrumentos de corda e de sopro junto com a bateria, além do casal de mestre-sala e porta-bandeira, que até hoje são marcas registradas dos desfiles de carnaval. Originalmente a porta-bandeira era uma moça ou um rapaz que desfilava com a bandeira da agremiação. Só que era muito comum que os grupos rivais atacassem uns aos outros, tentando roubar o estandarte e por esse motivo foi colocado mais uma pessoa, junto a porta-bandeira, para protege-la, normalmente um mestre de capoeira, que além de lutar capoeira, também portava um leque para disfarçar a navalha com a qual afastava quem tentasse roubar a bandeira. Inicialmente essa pessoa era chamada de baliza.

Aos poucos o movimento da porta-bandeiras, girando para exibir o estandarte e do baliza fazendo o movimento de capoeira, evoluiu para a dança atual. A porta-bandeira passou a ser sempre uma mulher e o baliza passou a ser o mestre-sala, fazendo reverências a ela, o que tudo indica imitando o ritual dos guerreiros africanos que dançavam para cortejar a jovem com quem queria se casar.

Na próxima edição daremos continuidade a essa incrível história do carnaval.

pesquisador e historiador  – Geraldo Maia do Nascimento – [email protected]

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