A importância do Sal Marinho para a nossa economia – Geraldo Maia

O sal marinho é um dos pilares da economia mossoroense, ao lado do petróleo e da fruticultura irrigada. No último artigo falamos do petróleo mossoroense, o nosso “ouro negro”, da sua descoberta e do início da produção. Hoje trataremos do também chamado “ouro branco”, o mais antigo produto de exportação de Mossoró.

O Estado do Rio Grande do Norte é o maior produtor de sal marinho do Brasil, sendo responsável por 97% da produção, isso graças a uma conjunção de fatores tais como salinidade da água, ventos, regime de chuvas, características de solo, calor solar, quase que perenemente. Essas condições permitem que se obtenha sal marinho a baixos custos de produção. Além disso, somente o sal potiguar tem expressão nacional, responsável que é pelo abastecimento de todo o país. No contexto mundial, o Brasil tem-se situado entre os 10 maiores produtores.

A primeira referência que se tem sobre sal no Rio Grande do Norte encontra-se registrado no documento que Jerônimo d’Albuquerque escreveu a seus filhos Antônio e Matias, em 20 de agosto de 1605, onde fala de salinas formadas espontaneamente a aproximadamente 40 léguas ao norte, o que corresponde hoje as salinas de Macau. Desse fato, voltamos a ter notícias quando consultamos o “Auto de Repartição das Terras” feito em Natal em fevereiro de 1614, onde está escrito que Jerônimo de Albuquerque dera aos filhos Antônio e Matias, em 20 de agosto de 1605, umas salinas que estariam a quarenta léguas para   o norte (aproximadamente 240 Km), mas que nunca foram cultivadas nem feitas benfeitorias.

Em 1627, o frei Vicente do Salvador registrou a colonização Norte-rio-grandense. Notou que haviam “salinas onde naturalmente se coalha o sal em tanta quantidade que se podem carregar grandes embarcações”.

Outro registro que encontramos nos velhos livros de história fala que em janeiro de 1644, alguns Tapuias, de volta do Outeiro da Cruz (Maranhão), onde tinham estado em combate, entraram nas salinas de Mossoró e degolaram alguns trabalhadores que ali se encontravam.

Em 1808 os salineiros da região foram beneficiados, quando o rei de Portugal, D. João VI, impossibilitado de receber carregamentos de sal de Portugal, assinou a carta régia que liberava de quaisquer imposições a extração do sal favorecendo, sobremaneira, o comércio interno.

Em 1844/45, setenta e oito barcos carregaram em Macau 59.895 alqueires de sal. No entanto, embora o sal extraído no Rio Grande do Norte fosse superior pela sua qualidade intrínseca, perdia essa qualidade pela rudeza como era produzido, de modo que nos anos seguintes perdia mercado para o sal europeu que era mais barato e melhor preparado. Um dos fatores que onerava o preço do sal produzido no Rio Grande do Norte era a dificuldade no transporte por causa do assoreamento das barras dos rios Mossoró e Açu.

Em 1886 foi criado um imposto protecionista para tributar o sal estrangeiro. Dessa forma, o sal produzido no Rio Grande do   Norte passou a ser competitivo, e isso impulsionou decisivamente o desenvolvimento da nossa indústria salineira.

No período de 1941/45, houve uma retração na extração do sal, motivada pela diminuição da navegação de cabotagem durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, o sal continuou sendo o principal produto comercializado por Mossoró e região, sofrendo oscilações que não comprometeram o mercado de forma mais acentuada. Esses registros são para destacar apenas alguns fatos históricos.

É comum se questionar: como Mossoró é produtora de sal se não fica no litoral? A resposta é muito simples. O clima predominante em Mossoró é o semiárido quente, com temperatura oscilando entre 240 e 350, temperatura essa que dura a maior parte do ano. O ar apresenta baixo teor de umidade, elevada evaporação, apresentando uma média de 2.850mm. As precipitações ocorrem ao redor de 450mm/anuais e a evaporação líquida é de 2.400, sendo que a intensidade de radiação solar varia entre 120 e 320horas/mês, com ventos que apresentam velocidade média entre 3,8 e 4,4ms. Junto a isso temos ainda um solo impermeável, o que assegura condições ideais para a cristalização e colheita do sal, com um grau de pureza que atinge até 98 baumé.

As salinas de Mossoró estão localizadas na várzea estuária dos Rios Mossoró/Carmo. Essa várzea é inundada, ora pelas águas do mar, ora pelas águas das enchentes dos rios, que quando cessam as chuvas formam salinas naturais, onde o relevo é plano e baixo, estreitando-se para o litoral, onde a água do mar chega a alcançar até 35Km do litoral. Essa série de fenômenos naturais é que faz com que Mossoró possa figurar entre os municípios produtores de sal do Rio Grande do Norte.

A atividade salineira é sazonal, assemelhando-se a agricultura. Existe um período de preparo, após o que ocorre o processo produtivo propriamente dito, evaporação e cristalização, ensejando, então, a colheita, seguida de beneficiamento, estocagem e comercialização. O período de safra ocorre, usualmente, de agosto de um ano até janeiro no ano seguinte.

A produção de sal marinho gera, nos dias atuais, cerca de 15 mil empregos diretos, 50 mil empregos indiretos. Contribui com 3,5% do PIB do Estado. Macau e Mossoró contribuem juntos com mais de 60% da produção salineira nacional. A participação de Mossoró é mais expressiva por ser o principal centro beneficiador (moagem e refino) e de comercialização de sal do país.

O sal está presente na composição de 104 das 150 substâncias químicas mais importantes e, juntamente com o petróleo, carvão, enxofre e calcário, é uma das cinco matérias-primas básicas, que condicionam direta ou indiretamente quase toda a moderna indústria química.

Tudo isso faz com que o sal marinho continue a ser um dos pilares da nossa economia.

 

Para conhecer mais sobre a História de Mossoró consulte o blogdogemaia.com e o canal Na História com Geraldo Maia, no Youtube.

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