A História sempre acerta

 Fernando Rizzolo

Neste carnaval não fui viajar, fiquei por aqui pensando que fosse encontrar a cidade vazia, mas, qual nada! Blocos e mais blocos de rua estavam por todo lado, sem talvez dar-se conta de que terminavam por enfeitar a cidade de alegria, como há muito tempo não se via. Pus-me, então, a refletir sobre os antigos carnavais, nas coisas bonitas do passado e que estão surgindo naturalmente nos dias de hoje. A história em si, como vivência do mundo, em termos de experiências, é algo maravilhoso. É claro que devemos olhar para o futuro, mas, o engraçado, é que quanto mais se olha para frente, mais enxergamos o que a história nos mostrou.

Dizem alguns que pensar muito no passado significa excesso de melancolia, depressão. Da mesma forma, pensar muito no futuro sugere excesso de ansiedade. Tenho que discordar. Talvez a teoria até corresponda às visões individualistas, mas num contexto macrossocial, o que vemos é que muito aprendemos com o que o passado tem para contar.

Outro dia fiquei apreensivo em saber que aqui em São Paulo algumas livrarias estão vendendo um livro repleto de ódio, escrito por Hitler, o Mein Kampf. Escrita em 1924, a “obra” entrou em domínio público. Constituída por um misto de memórias com o projeto político do ditador mais odiado do mundo, é uma verdadeira “bíblia nazista”.

Então, observem o que a história nos mostra: depois de tudo o que ocorreu na Alemanha, onde seis milhões de judeus e outras etnias foram exterminadas, a faísca pretensamente intelectual contida neste livro ainda produz suspiros em grupos neonazistas e simpatizantes. Podemos, portanto, através desta conclusão, dimensionarmos o perigo da venda dessa péssima leitura.

A história, entretanto, também nos remete a coisas boas. Neste mês surgiu um marco para a física e a astronomia: cientistas de vários países anunciaram ter detectado ondas gravitacionais. Essas ondulações do espaço-tempo comemoradas agora foram previstas por Albert Einstein há um século. Imaginem como, há mais de cem anos, com parcos recursos tecnológicos, um cérebro humano como de Einstein foi capaz de comprovar algo que só agora, e com a tecnologia atual, está se confirmando.

O saldo pós-carnaval, então, aponta que, no hoje, temos um encontro entre passado e futuro: antigas e alegres manifestações, como a dos blocos de rua, ainda resistem. Do passado, a vibração de velhos temores chegam pelo clássico destruidor Mein Kampf. O futuro se anuncia com as ondas gravitacionais longínquas do tempo e do espaço, confirmadas por cientistas. Assim, uma perfeita e contraditória relação entre o passado e o futuro se desenrola. O ser humano alegre como o carnaval tradicional, um livro que pode ser uma arma ideológica perversa no futuro (aliás, sua venda pela Justiça já está proibida em alguns estados do país), e a confirmação de uma teoria secular de Einstein.

Amigos, nunca a história abraçou tantos tempos. Portanto, olhar o passado e analisar seus desdobramentos para o futuro é bom para humanidade. Tão bom, posso arriscar, quanto as marchinhas antigas e blocos que atrapalham o nosso trânsito, mas desobstruem a nossa falta de esperança.

 Fernando Rizzolo é Advogado, Jornalista, Mestre em Direitos Fundamentais e Professor de Direito.