O MUNICÍPIO DE ASSÚ 180 ANOS DEPOIS
Joacir Rufino de Aquino & Raimundo Inácio da Silva Filho
(Pesquisadores e professores da UERN)
No mês de outubro de 2025 celebra-se o aniversário de emancipação política e administrativa do município do Assú, que completa 180 anos. Para comemorar a data, está programada uma série de atividades voltadas, especialmente, à promoção artístico-cultural, além de outros eventos festivos. Nesse contexto, vale à pena refletir sobre alguns aspectos da socioeconomia local, a fim de situar as principais características do aniversariante no cenário estadual.
O município homenageado foi emancipado pela Lei Provincial Nº 124, de 16 de outubro de 1845, que concedeu a então Villa Nova da Princesa o status de cidade de Assú (nome escrito com “SS” e acento no “Ú”). Está localizado na Microrregião do Vale do Açu, a 207 km da capital do Rio Grande do Norte (RN), Natal. Segundo informações oficiais, entre os 167 municípios potiguares, ele é o que possui a 4ª maior área territorial, com 1.303,442 km2.
Ao longo de sua trajetória histórica, Assú se transformou em um importante polo regional, atraindo pessoas de vários lugares do Brasil. Conhecido pela criatividade de sua poesia, com expoentes de renome nacional como Luís Carlos Lins Wanderley e Renato Caldas, entre outros, é detentor de um solo de grande fertilidade e de uma abundante reserva de água doce. Em 2025, aniversaria sendo o 9º município mais populoso do nosso estado, abrigando em sua área geográfica 59.099 pessoas, conforme indica a última estimativa do IBGE.
Em termos de produção de riqueza, o município também ocupa uma boa posição, constituindo-se na 7ª economia do RN, com um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 1,5 bilhão, em 2021. Isto se deve a uma base econômica diversificada ancorada na agropecuária, em atividades industriais como a produção de petróleo e de cerâmica vermelha, bem como no setor de comércio e serviços. Ademais, com os avanços recentes dos investimentos em grandes projetos estrangeiros de energia solar, mesmo diante de seus impactos ambientais negativos sobre o bioma caatinga, é provável que o munícipio melhore ainda mais sua posição no ranking do PIB estadual.
Ao completar nova idade, porém, os maiores problemas e desafios de Assú se concentram na área socioambiental. De fato, apesar dos avanços ocorridos, o nível de bem-estar social do município precisa ser melhorado. Segundo o estudo mais atualizado da FIRJAN, em 2023, o Índice de Desenvolvimento Municipal (IFDM) assuense era de 0,602, conferindo-lhe a 20ª colocação em termos de qualidade de vida no RN, o que precisa ser relativizado haja vista que o sonho de alcançar o patamar de “desenvolvimento alto” (reservado aos municípios com IFDM acima de 0,800) ainda está distante.
Igualmente desafiadora é a questão social. O salário médio mensal dos trabalhadores formais assuenses, em 2022, ainda era muito baixo (1,8 salários mínimos) deixando o município na 60ª posição em comparação com os demais 166 municípios norte-rio-grandenses.
Note-se também que, em setembro do corrente ano de 2025, Assú contava com 19.803 pessoas em situação de pobreza, ou seja, com rendimento familiar per capita abaixo de R$ 218,00. Isso significa que 34% da sua população ainda é pobre ou muito pobre. Desse quantitativo, segundo dados do Cadastro Único do MDS, uma parcela significativa não sabe ler e escrever, tem moradia precária e depende da ajuda financeira do governo federal através de programas de transferência de renda como o Bolsa Família e outras políticas de apoio e inclusão produtiva.
Outro tema que merece atenção é em relação ao meio ambiente. No decorrer dos seus 180 anos de existência o município de Assú cresceu e se urbanizou, mas sem a orientação de um planejamento ordenado do território. As tentativas mais audaciosas visando enfrentar esse problema, como a Agenda 21 elaborada a partir do início dos anos 2000, infelizmente, não prosperaram. Da mesma forma, até o presente, projetos inovadores como a coleta seletiva e a destinação ambientalmente adequada do lixo e dos esgotos urbanos ainda não conseguiram conquistar o merecido reconhecimento prioritário, embora existam novas expectativas com o anúncio recente da construção de um aterro sanitário no município.
Essas e outras questões não podem ficar de fora de uma reflexão crítica/construtiva sobre o passado, o presente e o futuro do município de Assú. Portanto, o povo assuense deve aproveitar o momento festivo, enaltecer sua terra e comemorar com alegria todos os avanços conquistados. Entretanto, não se deve esquecer que o desafio do desenvolvimento local sustentável está apenas começando. Assú ganha maturidade a cada ano e já é plenamente capaz de ser protagonista de sua história. Para isso, é preciso mobilização política objetivando garantir o avanço econômico e, acima de tudo, a melhoria dos indicadores sociais e ambientais visando garantir o bem-estar da população que vive nesse “pedaço de céu dentro do mundo”, como bem designou o poeta João Natanael de Macedo.

Joacir Rufino de Aquino
