Em artigo na imprensa internacional, Lula propõe nova ordem global baseada em justiça e inclusão

Em uma tribuna publicada na edição de quinta-feira (10) do jornal francês Le Monde e reproduzida na versão impressa do vespertino neste sábado (12), o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma reformulação profunda da governança global. Segundo o chefe de Estado, o atual sistema multilateral está em colapso e precisa ser reconstruído com base na justiça, inclusão e representatividade.

Por RFI

A publicação é feita em um momento delicado nas relações entre o Brasil e a União Europeia, especialmente após impasses nas negociações do acordo Mercosul-União Europeia. Ainda assim, Lula escolheu um dos jornais mais influentes da Europa para lançar um apelo global: “A solução para a crise do multilateralismo não é abandoná-lo, mas refundá-lo sobre bases mais justas e inclusivas”, escreveu o líder brasileiro. Além do Le Monde, o texto foi publicado nos jornais El PaísThe GuardianDer SpiegelCorriere della SeraYomiuri ShimbunChina DailyClarín e La Jornada

Lula traça um panorama da ordem internacional, destacando a ineficácia das instituições multilaterais diante de crises como a guerra na Ucrânia e “omissão frente ao genocídio em Gaza”. Ele acusa membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU de banalizarem o uso da força e denuncia a paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC), esvaziada por disputas protecionistas.

“O mundo de hoje é muito diferente de 1945”, afirma o presidente, em alusão ao final da Segunda Guerra Mundial, quando a ONU se formou. Segundo ele, estrutura das organizações internacionais não reflete mais a realidade geopolítica atual. Para o líder brasileiro, a falta de representatividade e o domínio de potências tradicionais impedem respostas eficazes a desafios globais.

A tribuna também denuncia o aprofundamento das desigualdades globais, agravadas pela crise financeira de 2008 e pela resposta neoliberal baseada na austeridade. Lula cita dados da Oxfam para ilustrar a concentração de riqueza: os 1% mais ricos do mundo acumulam US$ 33,9 trilhões — 22 vezes o necessário para erradicar a pobreza global.

No campo ambiental, o presidente critica o fracasso das promessas feitas em conferências climáticas, como a COP15 de Copenhague, e alerta para os impactos desproporcionais das mudanças climáticas sobre os países mais pobres. “A realidade está se movendo mais rápido do que o Acordo de Paris”, escreve.

“Desigualdades enraizadas em séculos de exploração”

Lula destaca o protagonismo do Brasil em fóruns internacionais como o G20, os Brics e a próxima COP30, que será realizada em Belém, como exemplos de que é possível buscar convergências mesmo em contextos adversos. E reafirma o compromisso brasileiro com a diplomacia e a cooperação internacional.

“Não se trata de fazer caridade, mas de corrigir disparidades que têm raízes em séculos de exploração”, afirma, ao defender maior acesso a financiamento, respeito às realidades locais e o fortalecimento do papel dos países do Sul global.

A tribuna de Lula é, ao mesmo tempo, um diagnóstico e um chamado à ação. Em meio à polarização crescente e ao descrédito nas instituições, o presidente brasileiro propõe uma nova arquitetura global baseada na solidariedade, na justiça e na corresponsabilidade.

“Não existem muros altos o suficiente para isolar ilhas de prosperidade cercadas por miséria e violência”, conclui o presidente brasileiro.

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