76 anos do Museu Histórico  “Lauro da Escóssia” – por Geraldo Maia

76 anos do Museu Histórico  “Lauro da Escóssia” – por Geraldo Maia - [email protected]

76 anos do Museu Histórico  “Lauro da Escóssia”

Em 1948 Jerônimo Dix-sept Rosado Maia estava se candidatando a prefeito de Mossoró. Era integrante do quadro da UDN (União Democrática Nacional), partido esse que vinha perdendo todas as eleições na região. Os amigos achavam que Dix-sept poderia disputar e ganhar a eleição. Era líder no comércio e na indústria. Não era um homem culto (tinha feito o ginásio por insistência da família), mas era muito inteligente e sensível aos problemas do povo. Ele aceitou o desafio, e pediu a seu irmão mais novo, Jerônimo Vingt-un Rosado, o intelectual da família, que preparasse um programa de governo para ser apresentado durante a campanha. Vingt-un aceitou o encargo na condição de poder incluir no programa a criação de uma biblioteca pública e de um museu.

Dix-sept foi eleito Prefeito de Mossoró em 21 de março de 1948, tomando posse em 31 de março do mesmo ano, tendo como companheiro de chapa Jorge de Albuquerque Pinto. Foi o terceiro prefeito constitucional de Mossoró.

Quem conheceu Vingt-un Rosado, sabe como ele era bom cobrador. Cinco dias após a posse do irmão, Vingt-un o procurou para cobrar a promessa de construir a biblioteca e o museu. A princípio Dix-sep disse que tinha acabado de assumir o cargo, que naquele momento a Prefeitura não tinha condição de construir coisa alguma. Vingt-un, num ato de coragem, disse: Oficialize a criação da Biblioteca e o Museu. Da execução vamos correr atrás.

Dessa forma o Prefeito Dix-sept Rosado Maia, através do Decreto Executivo nº 04, de 05 de abril de 1948, criou a Biblioteca Pública e o Museu Municipal, no térreo do prédio do antigo Clube Ipiranga. Começava para Vingt-un, a batalha pela cultura:

“Dix-sept nomeou uma comissão organizadora formada por: João Damasceno da Silva Oliveira, José Romualdo de Souza, José Ferreira da Silva, Rafael Bruno Fernandes de Negreiros e Vingt-un Rosado. Todos trabalhariam como voluntários, na criação da Biblioteca e do Museu

América Rosado, esposa de Vingt-un, não fazia parte da comissão que tinha sido nomeada pelo prefeito para a instalação da Biblioteca e do Museu, mas foi inexcedível de dedicação. Acompanhava o marido nas tarefas diárias de catalogação e classificação que terminavam, invariavelmente, pela madrugada.

O salário era o da paixão por Mossoró.

A Biblioteca reuniu um acervo considerável: 2.131 volumes. Foi inaugurada no dia 30 de setembro de 1948, sendo orador oficial Dr. Mário Negócio, que sempre vira com simpatia e estímulo a ideia da Biblioteca Municipal.

Ao lado da Biblioteca, Vingt-un fez surgir o Museu Municipal, com diversas sessões: História, Arquivo, Fotografias, Paleontologia, Arqueologia, etc.

Não tinha experiência em Museologia, mas não podia aceitar que o equipamento se tornasse estático. Tratou ele mesmo de dar exemplo, atuando como amador de paleontólogo, arqueólogo e museólogo. Era essa a maneira de tornar o Museu um organismo vivo na cultura da cidade. Realizando pesquisas de campo, recolhendo peças nas pedreiras e caatingas, ou solicitando colaboração de amigos colecionadores, como Câmara Cascudo e o velho companheiro da ESAL, Oswaldo Lamartine, buscou uma permanente atualização desse acervo.

Durante alguns anos, o acervo de 300 peças líticas da região, era o mais rico do Nordeste. A sessão de Paleontologia ensejou a vinda de muitos especialistas a Mossoró.

“O Museu Municipal, fundado e organizado por Vingt-un e pelos trabalhadores sem salário, contou com a simpatia de Dix-sept e pode ser inaugurado a 30 de setembro de 1948, juntamente com a Biblioteca.

Vingt-un doou alguns milhares de fósseis, que Coletava em Governador Dix-sept Rosado.

Por seu intermédio, Jonas de Oliveira Leite doou a coleção de peças líticas, que foi a velocidade inicial da Sessão de Arqueologia”.

Todo fim de semana visitava o Sítio Góis, onde reunia material pré-histórico.

Pediu que a prefeitura comprasse por preço simbólico a Oswaldo Lamartine, uma rica coleção proveniente do Seridó.

Dessa forma, graças ao empenho de um grupo de renegados apaixonados por Mossoró, capitaneados por Vingt-un Rosado, tendo o apoio do Prefeito Dix-sept Rosado, surgiu a Biblioteca Pública e o Museu Municipal de Mossoró.

Em 30 de setembro de 1982 o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, a Fundação José Augusto e a Prefeitura Municipal de Mossoró assinaram um convênio visando à restauração do antigo prédio da Cadeia Pública de Mossoró. O projeto de restauração foi elaborado pelo Núcleo de Restauração de Monumentos Históricos da Fundação José Augusto, e aprovado pela secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Com a restauração do prédio, foi instalado no mesmo o Centro Cultural, que abrigava a Biblioteca Pública, Galeria de Arte e Museu Histórico. Com o tempo, e com algumas reformas pela qual o prédio foi passando, a Biblioteca ganhou um prédio próprio, ficando no velho prédio da Cadeia Pública apenas o Museu que recebeu o nome de Lauro da Escóssia,

O referido Museu, que já está nesse prédio há 42 anos, abriga o mais rico acervo da região nos campos da Mineralogia, Paleontologia, História e Arqueologia Indígena, além de variada coleção de peças avulsas que fizeram a história da cidade desde a sua fundação.

Museu é lugar de memória. Os museus históricos, pela definição moderna, possuem reminiscências do passado que estão expostas no presente. Nesse sentido, são fontes históricas que devem ser exploradas através de sua potencialidade discursiva de criar narrativas históricas que procuram dar sentido ao passado.

No caso do Museu Lauro da Escóssia, além de elementos que nos levam a entender as narrativas dos principais eventos locais, como a Revolta das Mulheres, evento que aconteceu em 1875 contra a obrigatoriedade do alistamento militar dos jovens, quando uma multidão de mulheres foram as ruas, rasgando os editais de convocação para o alistamento, chegando até a entrarem em choque com a polícia, para defender os maridos e filhos de uma convocação que achavam que seria para uma outra guerra. A Libertação dos Escravos, quando em 1883 a cidade de Mossoró resolveu que não teria mais em seu seio a mancha negra da escravidão, movimento que surgiu na Maçonaria e que foi criada até uma instituição com esse fim que se chamou Libertadora Mossoroense. O ápice do movimento se deu em 30 de setembro de 1883, quando Mossoró libertou todos os seus escravos, 5 anos antes da famosa Lei Áurea. Também da tentativa do cangaceiro Lampião de atacar a nossa cidade, em 13 de junho de 1927, sem saber da bravura do povo mossoroense, que contando apenas com um pequeno contingente de soldados que seriam insuficientes para defender a cidade, foram as ruas, de armas na mão, e botaram o bando de cangaceiro para correr, tendo matado em combate o cangaceiro Colchete e ferido o cangaceiro Jararaca, que ficou preso nas celas desse prédio, ainda quando quartel da polícia, sendo posteriormente justiçado e enterrado no cemitério local. Ou ainda sobre a professora Celina Guimarães Viana, a primeira mulher em toda a América do Sul, a ter o direito a voto, em 25 de novembro do mesmo ano de 1927. Todos esses fatos históricos podem ser apreciados através de material existente aqui neste Museu.

Além disso, há também um grande acervo documenta, com a coleção de todos os jornais que circularam em nossa cidade, além vasto acervo fotográfico, do grande Manuelito Pereira, que retrata a cidade de Mossoró do passado.

É essa instituição que hoje completa 76 anos de existência e diferente do conceito que se tinha antes de Museu Histórico, com sendo o lugar de se guardar coisas velhas, o museu é hoje um lugar de memória, que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento.

Portanto, sejam todos bem-vindos ao Museu Histórico Lauro da Escóssia.

pesquisador e historiador  – Geraldo Maia do Nascimento – [email protected]

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