ENTREVISTA

Não é de hoje que o Nordeste importa arte para o mundo. De Pedro Américo e Romero Brito, nossos traços sempre conquistaram o gosto dos estrangeiros mundo afora. Seguindo esta linha de não deixar seus pés irrequietos no mesmo lugar foi que Ramussen Sá Ximenes, ou simplesmente Mocó, aportou nas terras do Tio Sam, há quase duas décadas anos e fixou seu nome nas galerias mais exigentes dos EUA. Para nossa sorte, descobrimos que Mocó, está nas terras potiguaras, em visita ao seu torrão, Currais Novos, ele prontamente aceitou responder uma entrevista para O Mossoroense.

 

Você está morando fora do país já há alguns anos. O que levou a esta decisão?

Moro em San Francisco há 16 anos. Em princípio fui para a Califórnia com a intenção de me graduar em culinária, arte que me dediquei durante os primeiros anos!

 

Como você vê a aceitação da sua arte enquanto estrangeiro?

A condição de estrangeiro e imigrante foi o diferencial, foi fator principal para a percepção do meu trabalho. Os temas, o traço e as matizes de cores chamaram a atenção por serem tão diferentes!

 

Você é geólogo por formação. Você se desencantou pela profissão ou a arte falou mais alto?

Na verdade eu tentei me graduar em Geologia pela UFRN e depois dei uma guinada para o curso de economia na UNP, mas não levei nada adiante! Tive a infância nas minas de tungstênio entre a Paraíba e Rio Grande do Norte! Meu pai é minerador e eu cresci nesse cenário. Quando muito jovem não haviam outras opções de interesse! Sempre fui romântico e a culinária me fez sonhar mais alto!

 

Há uma diferença no consumidor de arte no Brasil e fora do país?

Existe sim!  A percepção que tenho é que a arte pictórica no Brasil é consumida e produzida como uma peça de decoração e não como arte!

 

Multifacetado, como você classifica a sua obra?

Estou sempre flutuando em classificações de estilos! Meu estilo é algo assim como Alceu Valença e Zé Ramalho, ninguém sabe na verdade que estilo é o deles, então generalizam como MPB (Música Popular Brasileira)! A arte que produzo é considerada “genericamente” como contemporânea!

 

Você está de volta à terrinha. Algum motivo especial para o retorno?

Eu tento vir para casa pelo menos uma vez ao ano! No ano passado resolvi enfrentar o desafio de criar um estúdio no Oeste Potiguar, nos mesmos moldes que meu atelier na Califórnia!   As obras estão em andamento!

 

Algum novo projeto em mente?

A idealização da MOCOTOPIA no Sertão Potiguar está sendo um projeto desafiador! (Mocó + utopia, “a utopia de Mocó” é como se chama meu Ateliê na Califórnia).

 

Quais as suas principais influências?

Eu me sinto um pé de imburana plantado numa floresta de pinheiros! O meu fruto sempre será o da semente que me originou, independentemente onde eu esteja ou me relacione.   Como referência eu tenho os grandes mestres do modernismo. A qualidade plástica das obras de Van Gogh, o moderno de Pablo Picasso e Henri Matisse e o estilo de vida de Claude Monet me encantam muito!

 

Como a pandemia afetou o seu trabalho?

Durante esses longos meses tivemos muitas fases de comportamento! De início foi uma onda de medo e incertezas, mas tentei produzir algo todos os dias, me manter sempre otimista e ocupado. Não havia como adquirir material suficiente para produzir durante todos esses meses, mas, me reinventei e produzi uma linda coleção de flores que intitulei “renascença”, com a esperança de um novo ciclo para a humanidade!

 

Como você avalia o atual cenário cultural brasileiro?

Na área das artes visuais há um modismo, muitos pintores surgindo e pessoas se declarando artistas por terem produzido algo insignificante, de baixa qualidade e conteúdo sem consistência. Arte é originalidade e inovação, arte é a provocação da beleza pelo homem. Acho que está havendo uma banalização, a ignorância das pessoas reforça a moda dos grafites e murais que são invasivos e poluentes, eu os vejo como “paredões de som”, somente não incomodam o dono. Alguns pintam formas geométricas como se inventassem a roda, não sabem sobre referências e nem sequer tiveram a oportunidade de ver uma obra de arte de verdade. Alguém que pinta muito bem uma paisagem ou um retrato não significa que está produzindo arte, a arte está na energia transcendental que emana da obra, que é o maior exemplo de força quântica. A arte tem que emocionar.

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