28 anos sem Yitzhak Rabin

O ex-primeiro-ministro Yitzhak Rabin foi assassinado em um dia 4 de novembro, há exatos 28 anos, vítima de um extremista judeu que o alvejou com três tiros. O crime aconteceu logo após um comício massivo pela paz. Em que medida ele dialoga com os tempos de hoje?

O dia 4 de novembro de 1995 era um sábado, como este. Milhares de israelenses se sentiam empolgados. Esperavam o dia passar para que chegasse à noite, quando se reuniriam na Praça dos Reis, em Tel Aviv, numa demonstração pela assinatura de um acordo de paz com o povo palestino. Cerca de 100 mil pessoas estiveram presentes.

“Aquele dia começou como um dia mágico. Era a primeira manifestação em massa de apoio a Rabin e ao caminho dos Acordos de Oslo, que previam a implementação de um Estado palestino, ao lado do judaico. O ano todo foi de silêncio, ou então de manifestações contrárias. Aquele sábado era o momento de sentir que estávamos junto com milhares de pessoas que acreditavam naquilo”, lembra André Wajnberg, historiador e especialista em cultura israelense, em entrevista ao podcast “E eu com isso?”.

Para ele, nenhum líder após Yitzhak Rabin foi visionário, como aquele então primeiro-ministro. “Rabin fala de algo que ele sabe que não é fácil, que ele sabe que é duro, que tem obstáculos, mas consciente de que não existe outro caminho, que não o caminho da paz. Ao mesmo tempo, também respeitava as pessoas que pensavam diferentemente, reforçando o espírito de convivência democrática”, diz.

Naquele dia, Rabin discursou e se mostrou emocionado. O último discurso do primeiro-ministro pode ser assistido aqui.

“Permitam-me dizer que estou profundamente tocado. Eu gostaria de agradecer a cada um e a todos os que se encontram aqui hoje, para tomar uma posição contra violência e a favor da paz. Este governo, que eu tive o privilégio de liderar com meu amigo Shimon Peres, decidiu dar uma chance à paz. Uma paz que solucionará a maior parte dos problemas israelenses”, disse.

Foram as últimas palavras do líder israelense.

A atmosfera mágica, descrita por André Wajnberg, acabou quando Yigal Amir, um extremista judeu, atirou três vezes contra o primeiro-ministro de Israel e matou Yitzhak Rabin. O objetivo claramente, era de eliminar qualquer possibilidade de acordo com os palestinos – e a missão, infelizmente, foi cumprida.

Todo o périplo do assassinato de Rabin é descrito, entre registros e históricos e interpretação, no filme “O último dia de Yitzhak Rabin”, do diretor israelense Amos Gitai. O longa é de 2016, mas acaba de estrear no Brasil, no último dia 2 de novembro.

O Instituto Brasil-Israel promoveu a pré-estreia do filme no Rio de Janeiro e em São Paulo, com a parceria do Habonim Dror e da Moshé Sharret.

As duas sessões estiveram cheias e, após o longa, houve conversas para um aprofundamento no tema. No Rio de Janeiro, entre o jornalista Pedro Doria e Michel Gherman, assessor acadêmico do IBI.

Em São Paulo, a conversa aconteceu entre Morris Kachani, diretor-executivo do IBI, e o assessor especial Daniel Douek. 

Buscando estabelecer uma possível conexão entre o assassinato de Rabin com a guerra entre Israel e Hamas, Douek observou:

“Netanyahu surge na cena política em Israel como o grande opositor dos acordos de paz com os palestinos. Antes disso, não havia Netanyahu. E isso é muito curioso: tanto Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro de Israel, quanto o Hamas, que atualmente controla a Faixa de Gaza, são os opositores do Acordo de Oslo, assinados por Rabin e pela Autoridade Palestina nos anos 1990. Os dois se opuseram aos acordos e se tornaram, de certa forma, as forças que capturaram as agendas israelense e palestina”.

No programa Diálogos de um Rabino, em entrevista ao rabino Michel Schlesinger, Douek acrescentou:

“A gente pode estar no fim de um ciclo pós-Oslo, no qual os dois principais atores da sociedade israelense e da sociedade palestina estejam se conflagrando em projetos excludentes, mas de onde os dois saiam enfraquecidos. Talvez, isso possa gerar uma nova perspectiva de entendimento com outros atores, com outros projetos”.

Revisitar o último dia de Rabin por meio da obra de Amos Gitai é, também, reencontrar o significado do legado do primeiro-ministro que viu na paz a solução dos problemas de Israel.

Com informações do Instituto Brasil-Israel

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