Consciência Negra: Lembremos de Dandara dos Palmares, coluna de Gabriela Soares

Na última segunda-feira, 20, celebramos o Dia da Consciência Negra. A data, parte das conquistas do Movimento Negro brasileiro, referência à morte do líder do maior quilombo da América Latina, Zumbi, do Quilombo dos Palmares. Zumbi foi assassinado no final do século XVII e desde a década de 1970 é tido como um dos principais símbolos da resistência dos negros escravizados no Brasil.

O Quilombo dos Palmares se localizava em uma região entre Alagoas e Pernambuco, na região da Serra da Barriga, em um ponto que abrigava condições favoráveis para sua manutenção, pelo difícil acesso. Resistiu por mais de 150 anos, sendo refúgio para mais de 20 mil negros.

Muito se fala, e é imprescindível que isso seja feito, sobre Zumbi enquanto líder e responsável por muito da manutenção do Quilombo dos Palmares; em contrapartida, pouco sabemos sobre as mulheres que fizeram parte desse processo que salvou e fortaleceu o povo negro para lutar contra a escravização e apagamento da humanidade aos quais estes eram submetidos. Dentre essas mulheres, está Dandara dos Palmares, que enquanto mulher de Zumbi, também ocupava papel de destaque na manutenção da comunidade.

Os poucos registros que se têm sobre Dandara a apontam como alguém que viveu o Quilombo dos Palmares desde muito pequena, o que a torna personagem histórica ainda mais importante: uma mulher negra, filha de africana escravizada, que muito cedo experimentou a vida como um processo contínuo de resistir.

A escassez de informações não abre margem para que Dandara seja lembrada de outra forma: ela foi uma heroína – incluída no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, pelo reconhecimento do seu protagonismo e importância para a resistência em Palmares -, que estava ao lado de outras mulheres e também homens, com habilidades para lutas e defesa do território do quilombo, assim como realizava também outras tarefas mais simples e cotidianas. Dandara teve com Zumbi 3 filhos, sendo essa uma das poucas certezas sobre a relação íntima dos dois.

Também não se sabe ao certo como ela morreu, mas a versão mais aceita é de que ela havia sido capturada pelos portugueses em um de seus ataques ao quilombo. Tendo toda a sua formação voltada para a liberdade, ao ser capturada e não suportando ser mantida como cativa, comete suicídio um antes de Zumbi ser assassinado.

De fato, o que percebemos nessa breve caminhada pela história é que Dandara, como tantas mulheres, negras, pobres, subjugadas, são também deixadas a margem quando pensamos nos atos heroicos em prol da liberdade do povo. Além do que está escrito, trago a proposição: as narrativas do passado nos ajudam a compreender o presente e trilhar os próximos passos. Não é possível que isso aconteça sem contarmos a história das mulheres.

Se vale a indicação, em 1984 tivemos o lançamento do filme Quilombo, que tem como diretor e roteirista Cacá Diegues. Com a gigante Zezé Motta como Dandara e Antônio Pompêo como Zumbi, é uma ótima forma de expandirmos nosso horizonte sobre a história do nosso país.

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