LAÍRE ROSADO: Tibau de ontem, Tibau de hoje

Os mossoroenses têm uma paixão natural por Tibau, uma espécie de atavismo. Ela começa na infância e segue fazendo parte de sua história de vida. Sandra, minha esposa, parece ter esse sentimento mais arraigado. Chego a acreditar que terminaremos nossos dias de vida morando em frente ao mar. Um privilégio.

Meu pai falava que viajava de Mossoró à Tibau com todos os familiares em uma carroça de boi. Permaneciam na praia por até sessenta dias, sem comunicação alguma com Mossoró. Minha primeira viagem foi em carroceria de caminhão, dirigido por Izidoro, que saía da praça Souza Machado, em frente à mercearia de Seu Elias. Os mais idosos ocupavam a cabine do misto, com duas boleias, enquanto os meninos faziam a festa em cima da carroceria.

A estrada era carroçal e a viagem demorava entre duas e três horas, com o tempo de descanso na Gangorra, onde se podia tomar uma água de coco, um suco ou um refrigerante, com um pedaço de bolo ou de doce. Ao chegarmos à Vila, todos desciam para que o caminhão tivesse condições de subir o morro, logo na entrada, com a ajuda de todos que empurravam alegremente o veículo.

Em 1985, depois de problemas político-familiares, decidi disputar um cargo eletivo. Quando comuniquei minha decisão ouvi de Sandra que concordava com meu projeto, mas tinha uma exigência a fazer. Queria uma casa em Tibau, pois depois que fosse eleito não teria mais condições de realizar esse desejo. Pedi autorização ao sogro, Vingt Rosado, para aproveitar o terreno de sua antiga casa e construir uma outra. Ele concordou, mas avisou que não teria como participar financeiramente desse projeto. Quando as paredes estavam sendo erguidas, ouvi um antigo adversário fazer uma provocação. Vingt está construindo uma casa na praia com o dinheiro recebido de Paulo Maluf, que era candidato a presidente da República. Coisas de quem está na política!

Tibau sempre esteve ligado à vida dos mossoroenses e, sendo assim, são muitas as histórias a contar. Quem sabe, ainda lembrarei alguns fatos pitorescos, como o do comerciante Delfino Freire que, já àquela época, construiu uma casa de madeira, na Pedra do Chapéu, no limite com o Ceará. Como não havia material de construção, as casas de veraneio eram todas feitas de barro com taipa. Outra curiosidade era o Piano de Cauda que trazia, todos os anos, para reunir e deleitar os amigos que se encontram veraneando no Tibau dessa época.

Na sala de refeições da “Casa de Sandra”, as visitas podem ler artigo de Cid Augusto, meu filho, escrito em 19 de janeiro e 1999 no jornal O Mossoroense e conservado em um quadro, onde descreve o que lhe marcou no Tibau de sua infância. Há semelhanças indeléveis, mas com algumas diferenças, daquelas que marcaram minha meninice e, certamente, mais distantes do que viveram meus antepassados. Cid escreve no início da publicação “Na minha infância, Tibau era o que existia mais próximo do paraíso”.” A permanente visão do Atlântico, os verdes mares bravios incomparáveis, de Luís da Câmara Cascudo”. “A menina dos olhos do mar”, de Lauro Monte Filho.

Pois bem, com todo o progresso experimentado, Tibau deixou de estar próxima ao paraíso para ser o próprio paraíso.

 

 

 

 

 

 

Deixe um comentário