Thadeu Brandão – Mossoró: entre a vontade e a representação

O pleito de ontem, em todo o Brasil, apontou o previsto: uma acachapante derrota das esquerdas e um definhamento do PT nas maiores cidades e capitais. No Rio Grande do Norte, pouca coisa mudou, já que o PT nunca teve nem maioria e nem a hegemonia do campo político local. Em Natal, Carlos Eduardo Alves confirmou todas as pesquisas e venceu em primeiro turno com mais de 60% dos votos válidos.
E Mossoró? Confirmou o que todas as enquetes internas e não publicadas diziam, assim como, apesar da discrepância da última pesquisa, estranhamente publicada no dia do pleito, disseram: Rosalba Ciarlini foi reconduzida ao cargo pela quarta vez.
O bafafá das pesquisas começou pelo fato de que demoraram demais a serem realizadas. Falta de dinheiro foi um dos motivos alegados. Geralmente quem financia as enquetes são empresas de mídia ou organizações não governamentais. Apenas o Jornal DeFato e a TCM (Grupo de TV a Cabo e Rádio) as fizeram.
A pesquisa da primeira, feita quase 10 dias antes do pleito, apontava vitória de Rosalba com maioria de mais de 25%, colocando-a com 56% dos votos válidos. Mesmo passado esse tempo todo, ela terminou com mais de 51% dos votos válidos. A pesquisa TCM, feita 3 dias antes do pleito, apontou empate técnico absoluto: diferença de 2%. A discrepância foi aterradora: a diferença pró-Rosalba ficou perto dos 9%.
Houve acusações, injustas e infundadas, contra o Jornal de DeFato, inclusive por parte de autoridades. De que os dados haviam sido manipulados. Os mais tranquilos, argumentaram que a distância da coleta era a explicação. Mas, como escrevi em coluna anterior, o que poderia ter mudado para o cenário ter sido tão alterado? Nada ou quase nada.
Afinal, além da margem de erro, o número de “não sabe/não respondeu” da pesquisa da TCM era muito grande: cerca de 15%. Só isso deixaria qualquer um de cabelo em pé. Em Mossoró, onde as representações ousam querer virar vontade, a grita de “pesquisa verdadeira” tomou conta dos esperançosos de última hora. Com gritos e ranger de dentes, li e ouvi as piadas de sempre. Respondi: mais tarde saberemos se nossa reflexão estava errada ou não.
Pesquisas não alteram resultados consolidados e nem mesmo são retratos de realidade. São amostras e os modelos amostrais, por mais rígidos que sejam, podem errar. Numa sociedade da Modernidade Líquida onde as pessoas transitam com imensa fluidez e rapidez, os modelos de pesquisa, talvez e apenas talvez, precisem ser repensados.
Ao comparar ambas as pesquisas só não fui chamado de santo. Engraçado é que ouvi piada dos mesmos sujeitos que me acusaram de ser “incrédulo” acerca da doação de 15 milhões de um tal de Pacheco, para o Santuário de Santa Luzia. A esses, respondi com meu silêncio e com o tempo.
Como Cientista Social e como alguém que trabalha com dados quantitativos, ou seja, com a dureza indelével dos números e com a subjetividade dos discursos, eis minha resposta: mantenho meu humilde lugar de professor e pesquisador à serviço da sociedade.

Aos eleitos(as) nosso desejo de bom trabalho. Tenham a certeza que serão cobrados(as).