Médica de Alma

Médica de Alma

Reze o senhor por essa minha alma. Guimarães Rosa já dizia. Uma alma que sente e chora. Que clama e aclama.

Que sofre junto com aqueles de quem deveria cuidar. E cuida!Que sabe bem onde está, e por quê.

Que recebe e abraça. Faz graça! Que examina e se contamina, de fé. Deus te abençoe, minha filha! Escuto sempre.

Que toca o outro, com a ponta dos dedos ou do bisturi. Que vê por dentro, e quer entrar. Como sair da vida dos que me aparecem?

Que peca, por excesso de preocupação e falta de tempo. Tempo pra si! Que sente saudade, mas sabe que enche de orgulho os olhos dos pais.

Uma alma que tem o peito aberto e as mãos firmes. Que segura uma vida e se despede de outra. Insegura de que é assim que tem que ser. Tão difícil encontrar com a morte!

Que é digna de compaixão e reconhecimento. Que implora por humildade e hombridade política. O sistema carece, em prece!

Que é corajosa, por enfrentar esse mundo doente todos os dias. Que tem medo, mas não perde a esperança. Como viver sem?

Que é nobre, e se sente pequena perto de quem dela precisa. Que leva para casa dores que não são suas. E dói!

Que carrega um jaleco cansado, e com cheiro de dever cumprido.

Que é humana, mas não aprendeu isso com os livros. Que escolhe persistir, sempre e mais um pouco.

Que é abençoada, e demasiado grata. Em cada dedicação, uma oração!

Uma alma que veste apenas ela mesma, quase sempre. Que divide com as palavras o que não cabe dentro de si.

Que escolheu a medicina. Ou será que foi escolhida por ela?

Reze o senhor por essa minha alma.

Por que lá no sertão já diziam que ‘amor é a gente querendo achar o que é da gente’. Eu achei o que é meu, sô! Essa coisa de ser médica de alma.

Por que só de corpo, sei não.